Ana Beatriz Barbosa é uma psiquiatra conhecida nos meios de comunicação brasileiros por sua capacidade de auto promoção, pelos seus livros e pelo seu carisma. Então, desde a um tempo que, aleatória e esporadicamente, comecei a acompanhar suas entrevistas e que também comecei a discordar de algumas de suas afirmações, por achá-las demasiado fantásticas*. Uma que mais me chamou a atenção foi a afirmação de que existe uma relação praticamente causal entre transtorno borderline ou limítrofe e ter um potencial para o talento dramático, justamente por causa da natureza deste transtorno de personalidade, cujo sintoma mais característico é uma instabilidade emocional crônica. De maneira mais literal, ela afirmou que, (praticamente) todo grande ator ou atriz é "borderline". Porém, contudo, todavia, existem alguns exemplos bastante notórios de que essa afirmação de causalidade não se replica para todos, talvez nem mesmo para a maioria dos casos, tal como o da brilhante atriz estadunidense Meryl Streep, que, se com base em observação dos seus traços de personalidade, definitivamente não aparenta qualquer desequilíbrio emocional severo, até o oposto disso. Pois ela não é a única. Eu também poderia citar outra camaleoa da atuação, a australiana Toni Collette, que apresenta o mesmo perfil: personalidade aparentemente tranquila e um talento gigante para incorporar diferentes personagens. No entanto, isso não significa que uma possível correlação positiva entre apresentar transtornos de humor e talento para a atuação não tenha qualquer respaldo científico, se já existem estudos que têm encontrado essa correlação em outras áreas do mundo das artes, como na escrita. O que parece ser mais provável ou próximo a uma verdade nesse tópico específico é de que transtornos de humor, como o de personalidade borderline ou limítrofe, pode ajudar no tipo literalmente mais dramático de atuação, que não é o mesmo que o tipo mais camaleônico. Para esse, eu até penso que o oposto é o mais provável, de que uma personalidade equilibrada, se não serve como um elemento de destaque na promoção de uma maior capacidade de atuação, pelo menos atua como um elemento de suporte, necessário para quem se especializa em incursões psicológicas profundas (um outro exemplo de grande atriz que não parece sofrer de transtorno de humor é Liv Ullmann, musa e ex esposa do lendário diretor Ingmar Bergman, conhecida por suas atuações dramáticas muito intensas/ e, para não ser injusto, dois exemplos de atores ou atrizes de grande talento que provavelmente sofriam de algum transtorno mental e faleceram de maneira precoce e trágica: Heath Ledger e Brittany Murphy).
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terça-feira, 14 de maio de 2024
Sobre a correlação (proposta) entre transtorno de personalidade borderline ou limítrofe e talento dramático/On the (proposed) correlation between borderline personality disorder and dramatic talent
Claro que não estou pretendendo substituir uma proposta de causalidade por outra, mas de sugerir uma correlação interseccional entre os dois tipos de capacidade de atuação e os dois perfis psicológicos.
* Desprezando completamente a pseudagem "quântica" que ela tem se enveredado ultimamente...
On the (proposed) correlation between borderline or borderline personality disorder and dramatic talent
Ana Beatriz Barbosa is a psychiatrist known in the Brazilian media for her ability to self-promote, her books and her charisma. So, since a while ago, I randomly and sporadically started following her interviews and I also started to disagree with some of her statements, finding them too fantastic*. One that caught my attention was the statement that there is a practically causal relationship between borderline disorder and having a potential for dramatic talent, precisely because of the nature of this personality disorder, whose most characteristic symptom is chronic emotional instability. More literally, she stated that (practically) every great actor or actress is “borderline”. However, there are some very notable examples that this statement of causality does not apply to everyone, perhaps not even to the majority of cases, such as that of the brilliant American actress Meryl Streep, who, if based on observation of his personality traits definitely do not appear to have any severe emotional imbalance, even the opposite of that. Well, she's not the only one. I could also mention another acting chameleon, Australian Toni Collette, who presents the same profile: an apparently calm personality and a huge talent for incorporating different characters. However, this does not mean that a possible positive correlation between having mood disorders and acting talent does not have any scientific support, if there are already studies that have found this correlation in other areas of the arts, such as writing. What seems more likely or closer to truth on this specific topic is that mood disorders, such as borderline personality disorder, can help with the literally more dramatic type of acting, which is not the same as the more chameleonic type. For this one, I even think that the opposite is more likely, that a balanced personality, if it does not serve as a prominent element in promoting a greater capacity for action, at least acts as a supporting element, necessary for those who specializes in deep psychological forays (another example of a great actress who does not seem to suffer from a mood disorder is Liv Ullmann, muse and ex-wife of legendary director Ingmar Bergman, known for her very intense dramatic performances/ and, not to be unfair, two examples of highly talented actors or actresses who probably suffered from some mental disorder and died prematurely and tragically: Heath Ledger and Brittany Murphy).
Of course, I am not intending to replace one causality proposal with another, but to suggest an intersectional correlation between the two types of acting capacity and the two psychological profiles.
* Completely disregarding the "quantum" bullshit she's been into lately...
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