Sejamos realistas. Falamos por nossas próprias perspectivas, que são os nossos lugares de fala, vivência, compreensão e também de vertigens. A sabedoria, a busca pelo conhecimento, se principia pelo âmbito individual, pelo único começo do qual poderíamos começar, por nós mesmos. O realismo é o primeiro aprendizado da sabedoria. Não esse, associado à 'maturidade' de competir, de prestar obediência à roda de exploração humana, que aponta para uma gaiola e a chama de liberdade. É o realismo da maturidade, que chama as coisas por seus verdadeiros nomes, pelo que são: gaiola de gaiola, parasita de parasita, vida de morte, de tempo; vida humana de filosofia.
A sabedoria não é sobre grandeza, de quem sabe mais. Não é competição ou concurso. Sábios não são polímatas. É sobre proporção de realidade não-subjetiva que o indivíduo consegue aceitar. Ou, de fatos, distorções e ilusões. O quão enraizado na realidade ele está. Não é essa raiz exposta, superficial, de cultura, mas de seu interior, conectando-nos, pelo existencial, ao que é universal.
O conhecimento não é apenas o saber sobre dado fenômeno, circunstância ou elemento, mas tendo como finalidade perguntar o porquê, para que e para quem. De fazer tais perguntas, do que está implícito. E, o que está implícito em toda invenção humana, e em todo ato de existência da vida, é a distração. Viver é se distrair, acreditar, até o mundo em que vive desaparecer com o sopro da morte. Carros, casas, coisas.. conquistas mundanas.. ideais. Nos distraímos com elas para viver o máximo de tempo possível desapegados do ritmo do próprio tempo, acreditando que está distante, setorizando a rotina do olhar em vários olhares, como um espelho quebrado, de gratificações, enquanto o tempo nunca se afasta. Talvez, seja este o mais profundo de todos os conhecimentos.
O olhar filosófico ao que a ciência tem feito, sem filosofia, é tendenciosamente reprovador. A ciência tem se entregado à sua ficção, sem a densidade da filosofia, se transformando num artesanato útil e rentável.
As diárias trocas comerciais.
A quantidade de dinheiro que a humanidade ganha, perde, rouba.
A enorme importância que dá ao frívolo, ao derivado, ao passageiro. Um novo organismo, um planeta paralelo, um refúgio, que mais parece um purgatório ou, se quiser essa metáfora, fazenda.
Não é sobre economia, política, artes, sociedade, cultura ou religião. É o que está implícito em tudo. Suas intenções reais e também as ideais. De trazer as verdades absolutas para o cotidiano, ao invés de esconde-las, como têm feito as mitologias. Dentre elas, a significância do simples e extraordinário ato de viver.
Além de sempre partir do potencial do indivíduo, de sua perspectiva, a sabedoria também se expressa pelo pensamento crítico, acessado a todo momento que for possível, isto é, em relação a praticamente tudo o que fazemos no cotidiano, das ações aparentemente mais simples até às mais complexas, de olhar para o chão e evitar pisar o máximo que consegue, em formigas e outros insetos, em vidas, até à realização de um trabalho, artístico, científico, acadêmico, etc
A sabedoria é onisciente, onipresente e onipotente para quem passa a respeitá-la, a buscá-la, a compreende-la. Para quem a odeia, o peso de sua gravidade é sufocante. É como uma promessa depois de um suicídio abortado, e então, de reverência e respeito profundo sobre a vida; de um culto verdadeiro à ela, a nós, por também ser ao indivíduo [que é a sua expressão mais significativa].
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