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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Das chuvas de tarde

 Me lembro de chuvas

Que hoje são areias do deserto/passado 

Dos trovões, dos relâmpagos, dos raios 

Do cheiro de umidade 

Humilde, quando eu sou apenas as minhas saudades 

Das chuvas 

São tantas

Dos momentos de realidade

Que mais parecem um sonho 

E o pesadelo de todos os dias

Enquanto existe e definha 

a cruel e pobre humanidade 

O céu cinza 

As nuvens baixas 

A dança das árvores 

A casa é uma fortaleza 

As paredes e as necessidades

Os pensamentos e os sentimentos  

As chagas e as certezas

Na janela da cozinha 

Na cama do quarto

Lembro de outras brevidades 

Dos ventos que fazem redemoinhos 

Que definem a minha enfermidade 

Protegido, em vacilante silêncio

Sinto, vivo a totalidade 

O tempo no agora

Em que eu sou absoluto

Em que penso 

se não existe uma tal eternidade 

Efêmero como cada segundo

E eu sigo em frente 

Porque não existe outra vontade 


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