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segunda-feira, 1 de outubro de 2018
O preconceito indisfarçado contra os ''mais inteligentes'', de qualquer tipo, através do filme ''Ela é demais''
Era uma vez uma garota de rosto delicado, óculos grandes, cabelos castanho escuros curtos, apaixonada por artes, que estuda em um colégio estado-unidense no final do século XX. Esta garota é a favor do ativismo social, altamente empática e reflexiva, ao menos se comparada aos demais e sempre foi uma aluna acima da média. De repente, o ''garoto mais bonito de sua classe'' decide aceitar a aposta com outro troglodita rico de dinheiro e músculos, não, não os cerebrais, para ver se conseguirá conquista-la, diga-se, a garota ''nerd'', ''artsy'', ''weird'', ''intelectual'', ''madura e introspectiva para a sua idade'' e repelente natural de homens idiotas que só pensam em mulheres burras e gostosas. O filme começa mostrando de maneira obscura o que deveria ser o cotidiano normal, na medida do possível, de uma adolescente superdotada, constantemente discriminada pela escória seleta do capitalixo, e no entanto, com um universo pessoal muito mais rico, responsável, de pai ''pobre'', que tem um vida.. normal. Tudo parece escuro quando ela é ela, o jeito de se vestir, mostrando o dedo do meio para a moda feminina, por exemplo, é tratado como errado. Mesmo o uso necessário de óculos é visto como sinal de inferioridade. Ela sempre foi bonita e não há razão para pensar que estava feia antes, quando se comportava como uma ''tomboy''. Mesmo se não fosse, a inteligência reflexiva, ou qualitativa, sempre nos diz que devemos fracionar o olhar em várias perspectivas, para lidar com a complexidade que pode residir apenas em um indivíduo quiçá naquele que é mais diferenciado como é o caso desta personagem. Então... o processo de ''transformação positiva'', em que a feminista e ativista artista ''precoce'' é ''iluminada'' pelo universo fútil da moda e da mente típica feminina, servil natural a homens alfas, começa de vento em pompa. A música muda, o seu humor muda, a suposta baixa autoestima da garota que não dava a mínima para a opinião alheia aumenta... Tudo parece lindo no filme em especial a música principal, uma de minhas preferidas e tão representativa desta época tão nostálgica pra mim como foram os anos 90. Mas na verdade o que está implícito, interiorizado, porém não explícito, é uma verdadeira declaração de ódio à inteligência, em sua expressão mais coesa, de ódio àqueles e especialmente àquelas que dedicam suas vidas mais aos aspectos intelectuais do que aos sociais, e inevitavelmente fúteis, de ódio àqueles que não se sentem pressionados para ''se adaptarem'' a um ambiente onde a regra é ser medíocre e orgulhoso, e no entanto, o filme é uma propaganda para esse tipo de pressão, de ódio às artes, ao pensamento profundo ou filosófico, independente de sua natureza. É um filme que parece lindo mas é uma verdadeira expressão satânica que louva a estupidez, a aparência e o dinheiro como valores fundamentais. É um pré e um pós-conceito àqueles que deveriam ser alçados ao posto de mais valorizados, se já tendem a ser os mais valorosos.
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