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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Um exemplo de pseudociência "do bem" (tábula rasa) se passando por ciência



''Pesquisadores nos Estados Unidos e na Alemanha seguiram um estudo anterior na Romênia para mostrar, pela primeira vez, como a educação de uma criança pode influenciar seu poder cerebral anos depois.

O famoso estudo, chamado Projeto de Intervenção Precoce de Bucareste (BEIP), começou no início dos anos 2000 e acompanhou o desenvolvimento cognitivo de crianças abandonadas na Romênia.

Comparando as habilidades cognitivas de crianças adotadas e institucionalizadas com aquelas que cresceram sob cuidados domiciliares, os pesquisadores descobriram que as crianças institucionalizadas tinham QIs relativamente mais baixos aos 18 anos de idade.

Nesta última pesquisa, os cientistas encontraram uma relação entre os padrões de ondas cerebrais e as pontuações de QI nos mesmos dados.

'Essas descobertas demonstram que as mudanças induzidas pela experiência na atividade cerebral no início da vida têm um impacto profundo no desenvolvimento cognitivo de longo prazo, destacando a importância da intervenção precoce para promover o desenvolvimento saudável entre crianças que vivem em ambientes desfavorecidos', escrevem os pesquisadores".

Correlação ou causalidade??? 

Ter vivido a infância e a adolescência em uma instituição para menores abandonados, ou em outro ambiente socialmente desfavorecido, (sempre) tem um efeito causal ou profundo nas capacidades cognitivas de (qualquer) indivíduo humano?? 

Bem, com base nesse trecho da reportagem, com a conclusão dos pesquisadores, sim. Mas, será que os adolescentes que foram adotados na infância, tendem, em média, a apresentar características de personalidade e inteligência que contribuíram favoravelmente para a adoção e o oposto para aqueles que não foram escolhidos?? 

Essa parte do trecho traduzido é um exemplo perfeito do que chamo de "pseudo ciência do bem", porque, além de ser pretensamente científica, por se basear em uma ideologia (tábula rasa) que não é a própria ciência, de imparcialidade e objetividade teórica e prática, também tem sido amplamente adotada por muitos  indivíduos e grupos autodeclarados de esquerda, por negar a existência das diferenças intrínsecas ou genéticas entre seres humanos, particularmente em relação ao comportamento e à inteligência, e que, portanto, serve como argumento favorável à promoção de políticas públicas de igualdade social, enquanto que o oposto disso, segundo muitos de esquerda, seria o mesmo que justificar, apoiar e/ou naturalizar o darwinismo social, isto é, as desigualdades sociais, como se fossem resultados apenas das próprias diferenças. Pois mesmo que, de fato, muitos, de direita, usem a realidade dessas diferenças justamente para apoiar medidas públicas contrárias à promoção da igualdade social, isso não significa que, aceitá-la, inevitavelmente nos levará para esse mesmo caminho, até porque as desigualdades socioeconômicas não são causadas apenas por diferenças psicológicas e cognitivas, mas também por fatores históricos e sociais, como a arbitrariedade dos valores salariais que têm sido fixados para cada tipo ou categoria de profissão. Portanto, não haveria razão de sustentar uma pseudociência "do bem", de apelar para uma "mentira branca" visando uma finalidade virtuosa", se é possível vencer argumentos maliciosos contra reformas sociais racionalmente necessárias com base na própria verdade em questão. Voltando em relação ao "achado", é muito provável que se trate de uma correlação e não de uma causalidade, até porque encontrar correlações é muito mais trivial do que relações causais, como a que foi proposta. A minha hipótese é de que a conclusão dos pesquisadores envolvidos no estudo se consiste em uma "confusão genética" ou "genetic confounding", em inglês, quando se acredita ter encontrado uma relação de causalidade entre circunstâncias ambientais e traços de comportamento ou inteligência, mas se trata de uma correlação com aspectos potencialmente genéticos ou intrínsecos subjacentes, como eu comentei logo acima. Tal como nesse exemplo em que, novamente, ao invés de o meio ter um impacto diretamente negativo na inteligência dos adolescentes que cresceram em instituições de acolhimento de menores abandonados, eles apenas devem apresentar menores capacidades cognitivas e outras características encontradas, praticamente de nascença, enquanto que, aqueles que foram adotados quando eram crianças devem apresentar, comparativamente, maiores capacidades cognitivas e, inclusive, essa ser uma das razões que os destacaram implícita e positivamente, contribuindo para as suas adoções. Claro que parece ser mais bonitinho tirar a "culpa" deles e "culpar" o meio em que cresceram, além de também não alimentar narrativas "deterministas" sobre o potencial humano, proibidas na maior parte da academia, nesses dias. Mas se não é a verdade desses fatos, então, não é racionalmente recomendável fazer isso. Isso explica em partes porque essa pseudociência, que eu até gosto de chamar de neolamarckxismo (educacionismo é outro termo de minha autoria que cabe nesse texto), tem sido tão popular em setores como a educação e a mídia. Uma tristeza um projeto desses,grande, de longo prazo, para terem chegado nessas conclusões tão vagas e tendenciosas...

sábado, 21 de janeiro de 2023

O "neolamarckismo" é uma falácia da inversão de fatores

 (Neolamarckismo: crença pseudocientífica no determinismo absoluto do meio sobre o desenvolvimento ou evolução e o comportamento de seres humanos e estendível às outras espécies)


É a falácia de "colocar a carroça na frente dos bois". 
 
Por exemplo, o caso de uma hipótese, desenvolvida pela neurocientista brasileira, Suzana Herculano-Houzel, para explicar o aumento extraordinário do tamanho do cérebro humano e particularmente do número de neurônios no nosso córtex cerebral. Pois essa hipótese se sustenta na ideia de que foi graças ao cozimento de alimentos, especialmente da carne animal, principal fonte de proteína, que os cérebros dos nossos ancestrais teriam se tornado maiores e complexos. 

Como se tivessem aprendido a dominar o fogo e a cozinhar alimentos antes de terem se tornado inteligentes o suficiente para desenvolver essas inovações.

Já a minha hipótese é justamente o oposto desta ordem, em que o aumento da inteligência humana, por causa de uma forte pressão seletiva, possibilitou aos nossos ancestrais o domínio do fogo, a invenção de estratégias de caça e de armas que auxiliam nessa atividade, a percepção de que comer carne crua pode ser um risco à saúde além da digestão lenta e, por fim, a descoberta de uma solução para o problema percebido, cozinhar alimentos, em especial a carne. 

O aumento do cérebro está geograficamente associado ao cozimento de alimentos, mas não significa que o consumo de carne em si teve ou tenha um efeito causal direto. Claro que, mediante o grande consumo calórico do cérebro humano, estamos mais dependentes da carne cozida, por ser uma fonte abundante de proteína, mas ainda não significa que, se pararmos de consumi-la, nossos cérebros diminuirão dramaticamente, vide veganos e vegetarianos, atualmente, que estão há um bom tempo sem consumir carne, que buscam compensar a carência proteica resultante e não perceberam qualquer declínio significativo em suas capacidades cognitivas, além da existência de dietas tradicionais que não são baseadas em um grande consumo de proteína animal, como a do mediterrâneo.

A necessidade é a mãe da invenção

Pode ser então que, o aumento do cérebro humano, mas especialmente do número de neurônios no córtex cerebral, de acordo com a hipótese de Suzana Herculano-Houzel, ao ter um efeito causal no aumento da capacidade cognitiva, possibilitou à inovações cruciais à sobrevivência dos nossos ancestrais, mas também os pressionou a encontrar fontes ou meios para alimentar seus cérebros desproporcionalmente grandes e complexos, tal como o cozimento de alimentos (uma dessas inovações).