Antes, as novelas brasileiras quase não tinham personagens LGBTs. Os que existiam, quase sempre faziam parte dos núcleos de humor. Pois era assim que muitos brasileiros conseguiam aceitar LGBTs na mídia, apenas se fossem para lhes causarem risadas, diga-se, especialmente se fossem suas próprias sexualidades a fonte principal para as piadas.
Antes, não era bom. Mas hoje, com esse excesso de representatividade, parece até que metade da população brasileira é "gay". Porque se tornou obrigatório que toda novela tem que ter personagens LGBTs de destaque, ao invés do bom senso de distribuí-los de maneira menos forçada, sem essa obrigação.
Antes, a maioria das novelas brasileiras eram sobre tramas que giravam em torno de famílias ricas ou de classe média alta. A maioria dos atores dos elencos eram brancos. Para atores negros e pardos, quase sempre sobravam papéis irrelevantes, de escravos, se a novela fosse de época, ou empregados, se passasse no tempo presente. Vale dizer que brancos pobres ou de classe média baixa também eram sub-representados e estereotipados. Até parecia que o Brasil era um país europeu e desenvolvido. Se especialmente a globo era racista e elitista, ou se também existia outra razão para evitar uma representatividade minimamente adequada de até metade da população brasileira em suas novelas, por exemplo, visando atender à demanda do público-alvo que mais tinha acesso a um aparelho de televisão até os anos 2000, predominantemente branco e de classes A e B?? Enfim, uma possível combinação entre pragmatismo capitalista com racismo e elitismo legítimos.
Mas hoje não está melhor. Piorou até. Pois se antes as novelas pecavam em termos de representatividade, pelo menos eram de boa qualidade: atuação, direção e trama. Hoje, a representatividade se tornou compulsória, forçada e artificial, porque toda novela tem que ter personagem LGBT, ou com deficiência, e toda novela tem que ter protagonismo negro e pautas políticas enviesadas à "esquerda" como tema. Se antes as novelas eram homogeneamente excludentes e elitistas, hoje, o problema da homogeneidade de temas e composição permanece, só mudou de direção. Isso significa que continuam excluindo, especialmente a possibilidade de pluralidade e liberdade na construção das tramas, sem amarras ideológicas de direita ou esquerda ditando suas regras. Além disso, a qualidade técnica das novelas brasileiras despencou. Não apenas em um sentido técnico, mas também de essência, já que desde a década de 2010 que, especialmente os novos diretores, começaram a produzir enredos mais complexos ao invés de manter a antiga fórmula de como fazer um dramalhão, apostando alto na inovação e se esquecendo de agradar o perfil predominante de quem (ainda) assiste novelas: mulheres, donas de casa... Também parece que essa transição mal sucedida foi baseada em uma análise de mercado precipitada, com base nas tendências culturais ou de comportamento das novas gerações. Em suma, as novelas brasileiras têm tentado conquistar os mais jovens, abandonando o seu próprio público, mas a maioria deles prefere se entreter pela internet. E as séries, estrangeiras e nacionais, se tornaram tão ou mais populares, delegando às novelas, um futuro que parece cada vez menos presente na vida das pessoas.
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