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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Análise crítica do conceito original de "conservadorismo"

 O conservadorismo surgiu como contraponto ideológico às revoluções do século XVIII. Por seu conceito original, se consiste na busca pela preservação das instituições "tradicionais", por considerá-las mais estáveis, e, também, pela preferência por mudanças lentas e graduais na sociedade.


Porém, ao analisá-lo mais de perto, primeiro, percebe-se que não está dizendo o que, na verdade, se consiste. Não está dizendo que os conservadores, em média, são contrários a qualquer mudança que desfavoreça os seus interesses pessoais, mesmo se positiva ou ponderada. E que o conservadorismo tem se manifestado, basicamente, como sinônimo de obscurantismo, de alienação, exploração e opressão.

 

Em contraste, o conceito de progressismo parece ser bem mais didático e franco por, a priori, se basear na ideia louvável de que a sociedade humana precisa estar sempre melhorando, social e/ou moralmente, especialmente quando injustiças legítimas são detectadas.


Segundo, a falácia de confundir estabilidade/funcionalidade com idealidade em relação à defesa das instituições "tradicionais". Por exemplo, a monarquia, que tem sido uma forma de governo aparentemente estável, mas que se baseia na ideia de que o direito de governança máxima de uma nação deve ser passado hereditariamente, o que, em outras palavras, se consiste em uma anti-meritocracia absoluta, porque não dá preferência pelos mais "sábios", pelo mérito//potencial de serem os melhores administradores.


Eu também poderia citar o capitalismo porque, como os seus defensores adoram dizer: "ele funciona".


Mas, de que maneira ocorre esse funcionamento??


Pois tal como um regime idiocrático de semi-escravidão, em que o dinheiro (do rico) vale mais que a vida (especialmente à do pobre)... Mesmo a aparente estabilidade do capitalismo, se deve mais ao seu nível de domínio ou enraizamento na sociedade do que por pura capacidade de se estabilizar.


Por isso que é superficial e potencialmente falacioso dizer-se a favor de "instituições tradicionais que funcionam" sem analisá-las criticamente...


Agora, um exemplo que, a priori, daria total razão ao conservadorismo: a pandemia de AIDS.


Bem, como muitos sabem, a AIDS apareceu ou se tornou publicamente conhecida a partir do início dos anos 80 do século XX, primariamente entre homens gays e bissexuais. Aí, temos o que parece ser um caso de "mudança radical com consequências negativas", a liberação sexual, a partir dos anos 60, concomitante reconhecimento dos direitos dos LGBTs (no início, em alguns poucos países ocidentais) e a pandemia de AIDS. Um "conservador" poderia apontar que" esses foram os principais responsáveis". Pois ele estaria apenas superficialmente certo (uma constante para esse tipo) porque, quando nos aprofundamos no assunto, podemos concluir que, não foi a liberação sexual,  sozinha, que gerou a pandemia, e sim uma confluência de fatores: o aumento no fluxo de viagens internacionais, provocado pela globalização, pelo desenvolvimento dos meios de transporte [avião, navio...] e por melhorias no padrão de vida, em vários países; a ausência de uma educação sexual de qualidade, especialmente entre muitos LGBTs, ainda mais em uma época em que era pouca difundida... E, o mais importante de tudo*: o necessário contato sexual desprotegido de homens gays ocidentais com homens que viviam nas regiões onde, acredita-se que a AIDS apareceu primeiro, para, então, a doença se espalhar pelo mundo.

 Desprezando o fato de que, durante séculos, bem antes da liberação sexual dos anos 60 do século XX, muitos "homossexuais" praticavam sexo, às escondidas. Porque, mesmo quando algo está proibido, não significa que a proibição nunca será burlada.

* Nem me refiro à origem da AIDS


Por causa disso, não se pode culpar apenas a liberação sexual, mesmo com todos os seus equívocos, pela pandemia de AIDS, se esse foi um evento extremamente raro e único. Apenas pense que a sífilis, segunda pior doença venérea, em termos de mortalidade, apareceu na idade média... portanto, desde aquela época até o final dos anos 70 do século XX que não havia surgido uma doença venérea tão grave.


Não discordo que mudanças abruptas podem ter consequências ruins, se a pressa é inimiga da perfeição, mas, no caso da liberação sexual dos LGBTs e das mulheres, a mesma aconteceu com um atraso de, digamos, alguns séculos... Também é importante saber que nem toda mudança radical precisa ser caótica pois pode ser corretamente planejada e não resultar em novos problemas.


Também não discordo que é importante manter instituições que "funcionam", mas especialmente se o fazem de maneira ideal. Por isso é necessário analisá-las com imparcialidade, para ver se são realmente imprescindíveis e/ou infalíveis. E, a partir do momento que não passam no crivo mínimo de qualidade (moral/social), serem substituídas por outras melhores.


De qualquer modo, parece evidente que o conceito original do conservadorismo é demasiado opaco para que possa ser tomado como base pelos conservadores e, como consequência, não tem sido plenamente refletido em sua prática histórica e atual, diga-se, nem um pouco "honrosa", no sentido mais objetivo de: moralmente correta. 

 

Não, o conservadorismo não é um "APENAS isso", infelizmente.

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