Por ser quem definitivamente desperta das ficções humanas, de suas mentiras mais profundas e das mais recentes. Das mais obtusas e das mais envolventes. Que mesmo quando ainda vivia adormecido, suspeitava daquele falso mundo. Já tinha um instinto, um faro pra verdade. E quando acordou, viu que nunca mais conseguiria retornar, que era um caminho sem volta. Que nada é tudo. Que existe a essência e o superficial. O estático e o estatístico. O estético e o sentido. Viu que nenhum lado está mais certo. Que o político é como o Arquiteto. Que agentes Smiths não são apenas homens brancos de óculos escuros e ternos. Que era mais um bloco de tijolo no grande muro do poder. Que quando caiu no poço fundo, deixou de ser mais uma pilha de crer. E que não escolheu a pílula vermelha. Apenas mais uma metáfora. Não escolheu o caminho que sempre o perseguiu, que sempre seguiu. O único caminho da verdade, da única filosofia. Do deserto do real. Do vazio da solidão. De todo corpo que é espírito. Que tem a chama de um desejo absoluto e infinito. Que um fato não é mais bonito que bruto. E que depois de se despir de toda alienação, lhe resta o mais importante, viver. Não para os outros, mas primeiro para si próprio. Não para uma sociedade, ainda que continue tão dependente, se nunca deixamos de estarmos unidos. Não para um ideal fajuto. E mesmo que continuem tão ou mais surdos, cegos e mudos, de continuar lutando contra os seus demônios (seus mitos). E mesmo sabendo que não haverão prêmios, nem de consolação, de que não há maior vitória do que se manter íntegro ao que é mais importante. De continuar carregando a tocha da evolução humana, mesmo sem um coletivo com o qual possa compartilhar essa responsabilidade. De uma vocação verdadeira. Um chamado que não pode evitar, que não pode deixar de ouvir e atender. O chamado que chama a todo momento em que se vive. O chamado mais constante do existir.
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