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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Sobre a perversidade de mentir para não ofender e suas consequências

 O que é ser realmente bom?? 



Tem um filme, "Florence: Quem é Essa Mulher?", de 2016, que eu nunca vi e parece muito interessante. Protagonizado pela lendária atriz Meryl Streep, conta a história real de uma granfina americana de nome Florence Foster Jenkins que, apesar de não ter talento algum para o canto lírico, acreditava no oposto e, justamente por isso, chegou a investir em uma carreira artística e se apresentar publicamente. Ela, inclusive, fez "sucesso" em suas apresentações ou... humilhações gratuitas, já que havia muita gente disposta a pagar para vê-la desafinando ao vivo. Pois essa história pode nos dar uma lição sobre bondade e verdade, se se trata de uma mulher que tinha uma grande ilusão sobre si mesma e cuja crença ainda foi reforçada por outros, não apenas por aqueles que queriam vê-la se humilhando e, talvez, sem qualquer consciência do papel que estava se prestando, mas também pelos que, sentindo pena de sua aparente inocência, apoiaram o seu sonho (e sem deixar de falar sobre a possibilidade de pode ter "molhado a mão" de alguns para ajudá-la em sua empreitada).  

Percebam que, mesmo essa ideia moderna e popular de que a "empatia", como sinônimo de bondade, se expressa particularmente pelo ato de mentir para não ofender ou para agradar, tem os seus limites. Vejam o caso da Florence em que, aqueles que mentiram para ela, apoiando sua carreira, não eram melhores ou mais bondosos que aqueles que sentiam prazer em vê-la se humilhando, se o mais certo é dizer a verdade, principalmente se for necessário, porque existem situações em que a franqueza pode ser facultativa. Mas, se tratando de inteligência, talento ou competência, o melhor é sempre dizer a verdade, por mais dura que possa ser. Aqui, ainda é preciso diferenciar a verdade subjetiva ou o que se pensa e se sente e a verdade objetiva ou o que se percebe objetivamente.

Para piorar, esse hábito de sempre mentir para não ofender definitivamente deixou de se limitar à esfera pessoal, adentrando no mundo da política, por ter sido adotado por partidos ditos "progressistas" ou "de esquerda" e em relação aos seus grupos "politicamente protegidos" ou, "relevantes" aos seus projetos de poder: grupos histórica ou socialmente 'marginalizados". Então, a partir da ditadura do politicamente correto nas principais instituições da maioria dos países ocidentais, com base em um alinhamento de ideologias aparentadas: do igualitarismo ao relativismo cultural, passou-se a condenar qualquer ideia ou pensamento que confirme diferenças potencialmente inatas de desempenho cognitivo e de comportamento entre indivíduos e grupos, ainda mais se for sobre esses grupos "protegidos".. Como resultado, temos vivido em um cenário similar ao da história da Florence, em que a maioria das pessoas tem sido emocionalmente coagidas a acreditar que, por exemplo, as diferenças cognitivas entre homens e mulheres ou entre grupos raciais se deve exclusivamente a fatores culturais e sociais, e não porque, talvez, sejam reflexos das próprias diferenças intrínsecas entre eles: mentir para não "ofender', se parece mais fofo "culpar" o meio do que endossar um pensamento mais determinista e que justifica ao invés de problematizar certas diferenças de representatividade, por exemplo, a desproporção de homens trabalhando no mundo da ciência e da tecnologia. E, além da imposição discursiva, esses grupos ou partidos políticos  também têm criado leis baseadas nessas crenças, tal como o estabelecimento de sistemas de cotas para os seus grupos "politicamente relevantes". Mas, se suas diferenças são mais profundas, se não são apenas produtos de privilégios de um outro grupo sobre outro, então, indivíduos aquém da competência exigida estão sendo contratados, principalmente por serem da raça ou etnia contemplada (ou outra categoria). Portanto, temos uma situação definitivamente anti-meritocrática ou injusta e que ainda pode trazer graves consequências a médio e longo prazo, exatamente por estar atribuindo funções importantes à pessoas menos capazes ou ideais ao cargo...

A empatia, o ato de se colocar no lugar do outro, é uma qualidade indiscutível. No entanto, ou parece que tem sido excessivamente valorizada e/ou superficialmente compreendida, tal como eu comentei nesse outro texto: "Altruísmo patológico ou empatia subdesenvolvida??". Porque, mesmo que seja respeitoso evitar dizer certas verdades ou, evitar o sincericídio, não é toda situação em que esse hábito será o mais correto, tal como parece ser o caso da capacidade ou inteligência, já que uma sociedade complexa depende desses filtros de competência profissional para funcionar de maneira minimamente adequada. 

11 comentários:

  1. Antes de mais nada quero aqui parabenizá-lo por mais um texto excepcional. E já deixo aqui bem claro que este elogio não é para te agradar...rs...aproveitando a carona com a temática que abordou. Meu caro...devemos ou não ser sinceros sempre? Quando devemos ser? O nível de reflexão que uma pessoa tem sobre estes aspectos para mim define a qualidade de suas escolhas. Há alguns gostos a meu ver sobre ideias, manifestações artísticas, políticas e culturais que parecem estar mais ligados ao "mau gosto", se é que posso utilizar esta expressão, do que uma força para quem emite tais expressões. Uma vez estava na rua e ouvi uma voz alta...e fui ao local e era uma garagem aberta para rua com um senhor bem idoso pregando a "palavra de Deus" com grande entusiasmo para umas 20 cadeiras vazias. Eu que não sou ligado a uma religão naquele momento sicenramente pensei em "dar uma força" para ele e escutá-lo. Talvez o q

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    1. Obrigado! Ah sim... Bem, mas já agradou por comentar aqui. Olha, eu, geralmente, reajo muito à pessoas tentando forçar suas crenças ainda em espaços públicos, que tendem a ser religiosas. Aqui na cidade pequena onde moro tem umas pessoas assim, particularmente dois idosos, ambos evangélicos, um homem e um mulher e que parecem ter algum transtorno mental, ou pelo menos quando estão "pregando a palavra do senhor" na rua. Acho desrespeitoso e auto vergonhoso. Se estivesse no seu lugar passaria batido dali. Não consigo sentir empatia por esses pregadores fanáticos, aliás, de nenhuma denominação. E desprezando questões morais sérias onde há pouco espaço para maiores discordâncias.

      Sim, eu estava pensando sobre isso um dia desses. Mas ainda penso que, mesmo se uma predileção por uma banda ou música favorita for muito subjetivo, ainda existe o seu aspecto comparativo-objetivo. Acredito que seja possível avaliar tanto por um prisma subjetivo quanto objetivo. Isso eu já comentei em outro texto. Por exemplo, mesmo um estilo musical definitivamente desprovido de uma qualidade artística mais tradicionalmente apreciável, tal como o funk carioca, ainda temos que pensar que o objetivo principal desse estilo não é ser bonito ou profundo, mas pornográfico mesmo. Pois nesse sentido, quanto à proposta primária dele, não há o que discutir.

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    2. Olha...desenvolver a visão empática em relação a quem é vítima é muito mais simples do que desenvolver a mesma visão quando o foco são as pessoas que geram sofrimento aos outros. Se colocar na posição destes não é tarefa simples. Também tenho dificuldade de ter esta visão empática neste caso...mas reconheço o valor daqueles que conseguem. Compartilho do pensamento de que é necessário tomar cuidado com toda interpretação do universo que almeje ser o próprio e não mais uma opinião ou interpretação pessoal. O caráter objetivo será sempre único, independente de opiniões. A subjetividade, múltipla, opera dentro da relação entre a essência individual de cada um de nós com o mundo objetivo, ela precisa também ser valorizada em sua diversidade para a construção multifocal de outros referentes autônomos através de visões que enxergam o mesmo objeto por ângulos diferentes. Abraço.

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    3. Objetividade e subjetividade são complementares. Elas passam ser adversárias quando uma quer operar no lugar da outra.

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    4. Sim, eu não estou julgando a sua atitude. Achei até louvável e poderia ter dito isso no comentário anterior. Mas quis comentar sobre a minha perspectiva, já que a maioria dessas pessoas tendem a ser fanáticas e como não costumo tratar fanático como normal ou pleno de suas faculdades mentais e intelectuais...

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    5. Não pensei que tivesse me julgando não, fique tranquilo amigo. Gosto de ler os seus textos e pontos de vistas. Sei que este fanático como descreveu ("o chato") ou se tem paciência ou se tem ódio...rs. Ou se tem compaixão ou se tem medo. Concordo com você que ao impor uma convicção podemos transgredir os limites do respeito e ao invés de compartilhar algo útil levamos incomodação. No caso específico do que vivenciei o pastor não estava em um espaço público, ele estava em uma garagem muito pequena, acho que era a casa dele...em uma rua de nenhum movimento...uma travessa da rua principal, esta sim com muito movimento de carros...não estava atrapalhando ninguém, talvez ninguém tenha notado a sua presença, era noite, não tinha muita gente (os vizinhos deles eram estabelecimentos comerciais fechados à noite)...ele estava sozinho...pregando para ninguém, acredito que muitas pessoas achariam a cena cômica...porque todo aquele entusiasmo para quase ninguém notar sua presença...em cima da garagem estava dizendo algo similar à "Igreja da Última Hora"...algo nitidamente pentecostal...

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    6. Então, esse, pelo menos, não estava importunando o mundo e Deus, inclusive.

      Ah, obrigado!! Pretendo postar mais aqui. Parei de postar meus poemas, não sei bem o porquê. Algum medo sem justificativa nítida para mim..

      Você lê os meus textos desde o blog antigo do Santoculto??

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    7. Sim. Não li muitos...mas todos que li compreendi que você tem uma rara capacidade de transformar o produto de suas ricas reflexões em textos sofisticados, pelo menos a meu ver, em meu ponto de vista. O primeiro texto seu que li tinha a ver com uma questão chata que persiste ainda em meu cotidiano. A repetição do número "24", quando olho o horário, em datas, etc...Definitivamente não sou gay e queria entender se isso era só comigo ou não. E digitei no Google, quando apareceu o seu texto...Li os comentários das pessoas...também reclamando deste "acaso" ou "sina"...A partir deste texto li outros excelentes que produziu...mas nunca comentei. Sobre seus poemas, se entende que é necessário torná-los públicos...poste... Escrevi poucos poemas...estudei sobre as fases poéticas de João Cabral e me tornei muito crítico com o que faço e parei de fazer poesia...mas gosto ainda de ler poemas, textos e por vezes escrever coisas mas não publico nada.

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    8. Eu acho que postar poesias aqui é mais problemático, não sei, acho que podem pegá-las sem consentimento autoral (inventei esse termo agora).

      Eu tenho uma página no site Recanto das letras, se chama "Mais um Thiago". Lá, eu posto todas as minhas poesias, prosas poéticas, textos mais pessoais, além dos textos mais políticos aqui.

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  2. que ele estava falando não tivesse uma grande utilidade para mim...mas o fato de escutá-lo tivesse uma grande importância para ele...Pensei isso...mas segui em frente. Abraço.

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  3. Antes de mais nada quero aqui parabenizá-lo por mais um texto excepcional. E já deixo aqui bem claro que este elogio não é para te agradar...rs...aproveitando a carona com a temática que abordou. Meu caro...devemos ou não ser sinceros sempre? Quando devemos ser? O nível de reflexão que uma pessoa tem sobre estes aspectos para mim define a qualidade de suas escolhas. Há alguns gostos a meu ver sobre ideias, manifestações artísticas, políticas e culturais que parecem estar mais ligados ao "mau gosto", se é que posso utilizar esta expressão, do que uma força para quem emite tais expressões. Uma vez estava na rua e ouvi uma voz alta...e fui ao local e era uma garagem aberta para rua com um senhor bem idoso pregando a "palavra de Deus" com grande entusiasmo para umas 20 cadeiras vazias. Eu que não sou ligado a uma religão naquele momento sicenramente pensei em "dar uma força" para ele e escutá-lo. Talvez o que ele estava falando não tivesse uma grande utilidade para mim...mas o fato de escutá-lo tivesse uma grande importância para ele...Pensei isso...mas segui em frente. Abraço.

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