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segunda-feira, 30 de março de 2020

O conservador e o filósofo

Por ser um termo muito vago, conservador requer um conceito com base em sua expressão concreta e histórica. 

Curto, grosso e preciso [esqueci do pedante, mas ok]

Com base nos comportamentos mais comuns, praticamente característicos, daqueles que se denominam assim..

O conservador,portanto, é aquele que nega o cerne da filosofia, que é a verdadeira religião [e/que se principia pelo ateísmo], quer seja pela adoção de um sistema mitológico de crenças e/ou pela negação de outras verdades absolutas, como a igualdade essencial de todos os seres vivos. Nega a natureza ideal humana, fundamentada em autoconsciência, empatia, racionalidade ou ponderação, o máximo de inteligência/conhecimento que o ser humano pode atingir, o seu estado mais evoluído. 

Para o conservador, se o ser humano fosse uma ave, seria proibido de voar. Sendo um, quer que aja como um ''animal irracional'', para que possa continuar sendo o seu fazendeiro, o seu parasita, especialmente se este for o tipo mais abonado. Ele é incapaz de enfatizar pelo que temos de igual, de comum. Se pobre ou precarizado, age em conformidade à sua posição, apesar de nutrir a esperança de um dia subir de degrau na pirâmide da civilização típica. Assume a posição de "patrão" àqueles que se posicionam abaixo dele, incluindo a própria família. Age com base nos instintos que apenas tateiam cadeias alimentares, exatamente como um ser humano desprovido de boa parte daquilo que nos faz uma espécie única. Por isso que tenho o hábito, eu admito que, grosseiro, de apelidá-lo de ''elo perdido'' [quem dera se ''perdido'']. 

O filósofo é o oposto do conservador, por ser um conceito bem definido e, também, por basear-se na busca pela sabedoria, isto é, por todos os conhecimentos ou verdades, de nunca negar fatos, morais/existenciais ou concretos. O conservador nega fatos ou verdades que negam sua subjetividade ou perspectiva, predominantemente egoísta ao invés de altruísta, utilitária ao invés de contemplativa, competitiva ao invés de solidária, concreta ao invés de abstrata, artificial ao invés de real, autoritária ao invés de reflexiva, medíocre ao invés de ideal, organizada ao invés de harmônica.

Pela filosofia, o egoísta, o utilitário, o concreto, o artificial, o autoritário, o medíocre e o organizado, terão todos os seus respectivos lugares. Mas, sempre em harmonia com os seus pólos opostos. Mesmo uma virtude incontestável, em sua concepção primária, quando em desequilíbrio, resulta em consequências aquém do desejável. O altruísmo, por exemplo, que, em excesso, se expressa como um sacrifício suicida. Arriscar a própria vida é,  algumas vezes, necessário ou imprescindível (o limite moral). Outras vezes, é muito mais um atributo de impulso sentimental do que por reflexão ou conhecimento de causa. O altruísta sem conhecimento é uma presa em potencial. O conservadorismo é um extremismo historicamente naturalizado. Não representa um corpo social saudável, harmônico, simétrico... 

A suposta metafísica do conceito de conservador

'Filósofos" conservadores gostam de tecer definições extremamente puristas e idealistas sobre o termo conservador. Existem virtudes praticamente unânimes  entre eles, pensadas para defini-lo, que, na verdade, esboçam mais aquilo que pensam sobre si mesmos. De que o "verdadeiro" conservador é o mais cético, cauteloso, cuidadoso, racional e honesto de todos... 

E ainda tem aqueles que chegam ao cúmulo da idealização denominando o conservador como uma pessoa que só quer o bem ou preservar "coisas boas" [se, com base em concepções subjetivas ou racionais/mais ideais].

Ok...

O falecido "filósofo' Roger Scruton foi um dos que participaram deste concurso para ver quem idealizava mais o conservadorismo.

Mas, na realidade prática, em termos de identidade, o que vemos é outra coisa. Talvez, esse conservador quase metafísico exista, mas é  minoria no meio de uma multidão de cidadãos de bem tipicamente hipócritas, nem um pouco céticos e/ou parcamente racionais. Pra começar, o exemplo do abraço instintivo de muitos deles às crenças mitológicas ''reconfortantes'. É certo que a maioria desses cidadãos se consideram como personificações das virtudes conservadoras... 

A comparação com o termo filósofo é válida, porque algo parecido mas, não-idêntico, acontece com ele, se também existe uma maioria de indivíduos, muito aquém do título, se definindo como tal.

É verdade que o termo filósofo é bem definido, mas, ainda é preciso buscar pela definição para sabedoria e verdades, para ampliar e reforçar sua estabilidade ou segurança semântica. A imprecisão histórica de ambos os termos que explicam o que é ser filósofo, tem sido uma das razões para a sua prática diversamente ideal do desejável. Autoconhecimento fraco é outra causa, mais intrínseca, que explica a auto-identificação assimétrica. Por isso que tem casos em que é possível/o resgate de conceitos e práticas ideais apesar da prática histórica e descaracterização conceitual massificada, enquanto que, para outros, por serem tão vagos, não é possível o mesmo processo e ser bem sucedido, sem que replique o "problema" da/expectativa/de/uma definição precisa, no sentido de restrita, a partir de um vocábulo intrinsecamente vago. 

Como conclusão, o suposto conceito do ''conservador ideal'' cabe perfeitamente ao filósofo. Não basta a autodefinição ou auto-identificação. Também é fundamental demonstrar que não se consiste apenas em um desejo de pertencer à certa identidade, que seria mais narcisista do que intelectualmente honesto/ objetivo. 

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