Novamente...
Primeiro, o que é verdade??
Por uma definição bem básica, a verdade é a reflexão de um fato a partir da perspectiva de um ser vivo e, especialmente do ser humano, que é o único capaz de expandi-la para um nível mais abstrato. Em outras palavras, a verdade é aquilo que percebemos da realidade, e podemos fazê-lo por várias perspectivas. As mais relevantes, nessa explicação, serão a subjetiva e a objetiva.
É importante enfatizar que, primariamente, toda verdade é subjetiva porque só pode ser gerada pelo indivíduo, encontrando-se inteiramente sob o seu domínio, diferente da realidade que, independe de nossa capacidade de percebê-la, para existir; que é relativa porque varia de acordo com a perspectiva de cada um (uma perspectiva mais contemplativa). Mas ela também é objetiva porque, o que percebemos da realidade, apresenta um nível variável de precisão ou objetividade. Em relação aos dois tipos de verdade ou perspectivas que citei, a subjetiva é aquela que consiste na autoprojeção ou sensação do indivíduo sobre uma realidade específica, por interação. Já a objetiva é a contenção da auto projeção ou durante a interação em que se busca perceber certa realidade ou objeto, por si mesmo, isto é, objetivamente.
Por exemplo, quando eu sinto a chuva caindo no meu corpo e a sensação de estar molhado, isso é uma verdade subjetiva, que apenas eu, "dentro" do meu corpo, estou sentindo (ainda que outros também possam sentir a mesma sensação, apenas eu que posso sentí-la por mim mesmo). Já, quando eu consigo isolar conceitualmente a realidade da chuva, eu estou reconhecendo uma verdade objetiva, que é a própria chuva. Também o faço pela sensação, reconhecendo-a (sua própria natureza) no momento da interação e abstraindo a minha percepção que estou tendo dela em relação às de outros elementos e fenômenos, especialmente com os quais já apresento familiaridade. Agora, um exemplo mais polêmico. Se eu estou a andar pela rua e, ao ver um casal de homens se beijando, reajo com raiva ou repulsa, esse meu sentimento é subjetivamente verdadeiro...
Aí, caímos na segunda afirmativa falaciosa, de que não existe certo e errado porque, supostamente, a verdade é apenas relativa. Portanto, por essa conclusão, a homofobia e o respeito seriam considerados absolutamente equivalentes, como se fossem atos opostos, mas com consequências idênticas...
No entanto, a ideia de que a verdade é apenas relativa parece considerar somente a sua perspectiva (ou verdade) subjetiva como verdadeira. Seria como dizer que a minha sensação da chuva caindo no meu corpo é a única verdade, e não a minha percepção objetiva da própria chuva, de reconhecê-la pelo que é. Claro que apresentamos níveis variados de percepção factual e, portanto, de precisão sobre as verdades objetivas. Mas, isso não significa que nenhum ou qualquer grau de objetividade seja possível para nós...
Voltando ao segundo exemplo, eis que, mesmo se eu tenho essa reação, que é verdadeira para mim, não significa que seja um reflexo perfeito do objeto ao qual me projetei ou que estou interagindo. Então, se eu sinto repulsa e raiva pela expressão homoafetiva, isso, a princípio, não representa a sua própria natureza. De, ela não é repulsiva porque eu a considero assim. Por isso, é importante confrontar o que se afirma (se baseado no que está sentindo ou pensando) sobre o que se afirma, de comprovar com base na realidade. E, a partir dessa abordagem racional, podemos chegar à uma série de conclusões sobre esse tópico, inclusive pelos próprios argumentos usados por homofóbicos para justificar seus sentimentos em relação à diversidade sexual: de que não é uma doença, porque ninguém fica doente de "homossexualidade", ainda que existam correlações de risco e, independente de sua possível origem biológica; de que não é errado, nem no sentido de "anti natural", nem no de "pecado". Primeiro, por serem variações naturais do comportamento sexual, não apenas dos seres humanos, isto é, por pertencerem ao "mundo natural". Segundo, porque não é um comportamento que, intrinsecamente, cause malefícios a quem o pratica, nem aos demais que não o praticam. Não é crime sentir atração pelo mesmo sexo ou sentir-se dissonante ao sexo de nascimento, se o crime, em seu conceito mais universal e objetivo, consiste em violações mal intencionadas do espaço existencial de um ou mais indivíduos (e, em um sentido hiper realista, não apenas do indivíduo humano). Mesmo quanto ao argumento de se ser "antinatural" por parecer que não tem utilidade evolutiva, já que a relação homossexual não pode resultar em concepção, aqueles que o utilizam para defender a homofobia se esquecem que o sexo, especialmente para nós, humanos, nunca foi praticado apenas para a reprodução, mas também como atividade recreativa. Portanto, a sua utilidade, nessa comparação, é a mesma que a do sexo como recreação. Sem falar que, a ideia de utilidade tende a variar muito entre indivíduos, grupos, contextos... Por exemplo, os livros que, para muitas pessoas, que não são ávidas leitoras, apresenta um valor baixo a nulo de utilidade. E claro que, o oposto para as que os valorizam mais. Pois o homofóbico, assim como qualquer outro que decreta seu gosto ou preferência como o único que está certo, sequer consideram as perspectivas daqueles com os quais antipatizam para fazer esses julgamentos que, claramente, mostram-se precipitados e tendenciosos.
Voltando à pergunta mais relevante: o que é certo e o que é errado??
Mentir é mais certo que dizer a verdade??
Pois mesmo que exista uma diversidade de contextos em que essa resposta não será simples, a verdade, de maneira geral e essencial, tem um valor absolutamente superior à mentira. Por exemplo, nesse exato momento, todos nós estamos interagindo com a realidade, sentindo e percebendo os fatos no presente. A verdade, como um reflexo da realidade, está onipresente em nossas vidas. Mesmo que mentir possa ter alguma utilidade específica, é a verdade, como a nossa única maneira de traduzir a realidade, sentida e percebida, que sempre prevalece no final.
Retornando às afirmações do início
Ao afirmar que a verdade só pode ser relativa, destrói-se qualquer base que possa condenar as "verdades" dos outros. Então, se eu digo que a verdade é sempre e unicamente relativa, no sentido de subjetiva, eu não posso condenar aquele que afirma o oposto... Eu também estou criando bases para condenar o sentido mais básico do conhecimento humano, a ciência e a filosofia, se ambas são esforços da humanidade de maximizar a sua compreensão objetiva.
O mesmo em relação à afirmação de que "não existe certo ou errado"...
Se o certo é mais no sentido de justo que também é mais no sentido de verdadeiro, seguro, útil, ponderado, cuidadoso..
E se o errado é mais no sentido de injusto que também é mais no sentido de falacioso, perigoso, inútil, precipitado, insensível...
Claro que esses conceitos variam muito entre as espécies, mas, de maneira geral, podem ser definidos a partir dos limites adaptativos de cada uma. Por exemplo, de que o certo para os peixes é de viverem em ambientes aquáticos e o errado o oposto disso (eu até já o usei em um outro texto parecido). Pois as nossas concepções de certo e errado idealmente devem ser baseadas no nível mais alto de lucidez ou compreensão da realidade que podemos alcançar, que é a racionalidade.
E para finalizar, como o último exemplo uma discussão muito importante atualmente, sobre a necessidade das vacinas.
Pois se elas nos protegem de doenças que podem ser fatais, então, o certo, dentro desse contexto, é de as tomarmos o mais cedo possível, porque apresentam essa utilidade ou finalidade específica. Já o errado é de desacreditar sua capacidade de proteção, com base em mentiras sobre a sua eficácia e segurança, evitando tomá-las. Mas é interessante pensar que a maioria das pessoas que cometem esses equívocos crassos de racionalidade não fazem com consciência do que estão fazendo, pois acreditam que as mentiras que defendem não são mentiras. E um parênteses para o caso das vacinas que têm sido produzidas para nos proteger da covid-19, já que há um certo nexo quanto ao medo de que algumas delas possam causar efeitos colaterais graves e até levar ao óbito, tal como, infelizmente, tem acontecido para uma minoria ínfima dos vacinados (exemplo: cento e poucos casos de mortes causadas "pela" vacina da AstraZeneca de um total de cinquenta milhões de britânicos que já a tomaram).