terça-feira, 15 de agosto de 2023

Novamente sobre ciência, filosofia e religião

 Como começaram:


Unidas. Indissociadas. 

Como estão:

A religião ocupando o lugar que era para ser da filosofia e a filosofia, deslocada de suas funções mais condizentes, disputando com a ciência a hegemonia sobre a busca e a produção de conhecimento, mas mais literalmente pra ver qual delas que é mais difícil de ser compreendida pelo público leigo. A ciência, separada da filosofia e disputando com uma versão sua, deslocada e descaracterizada, passando a tratá-la como antagonista e não como colaboradora. 

A religião era pra ser a própria filosofia, a busca e vivência pelas verdades ou conhecimentos existenciais, os mais decisivos, derradeiros ou absolutos. Ou a filosofia que era pra ser a nossa* religião, a sabedoria, e tendo como base justamente esses conhecimentos, os mais importantes. Era a filosofia que deveria organizar moralmente uma sociedade, orientando-a, com base na compreensão mais realista do mundo, e a ciência contribuindo com a filosofia também para melhorar a sociedade em termos práticos. Mas o que temos e, desde há um bom tempo, são ideologias não-filosóficas disputando a hegemonia política, cultural e moral que, idealmente, seria da única e verdadeira filosofia ou sabedoria...

Resultado: 

A ciência abraçou sua versão cientificista, excessivamente pragmática, isto é, eticamente irresponsável, facilmente cooptada pelo poder, independente de sua qualidade moral.

Boa parte da filosofia, e não apenas atualmente, é "bobagem profunda" (em inglês: profound bullshit) se passando por "sofisticação filosófica", porque se tornou excessivamente abstrata ou teórica, enviesada em pensamentos e reflexões vagas, na estética do pensamento do que na qualidade do seu conteúdo, se dividindo em múltiplas ideologias erroneamente denominadas de "filosofias" e essas, por sua vez, disputando a hegemonia da sociedade e, quando a conquistam, geram novas formas de doutrinação e opressão do que de legítima educação e justiça. 

Já a religião nunca conseguiu evoluir para o nivel filosófico, estagnando-se sob a forma de mitologia, porque, ao invés de responder às perguntas universais e objetivas que faz desde os primórdios da autoconsciência humana, tradicionalmente fabrica respostas paroquiais, geralmente afastadas de um rigor racional.

Enfim, cada uma passou a direcionar seu olhar excessivamente para si própria ou, nem isso, e apenas se distorcem de maneira grosseira, desprezando a possibilidade de adotarem suas versões mais ideais, a ciência como busca, produção e ampliação do conhecimento humano, voltada para uma perspectiva mais geral e prática, a filosofia como avaliadora do que a ciência produz e voltada para uma perspectiva mais essencial ou existencial, e moral, e a religião justamente como esse núcleo da filosofia, ou sabedoria. 

*A filosofia, enquanto sabedoria, se tornou praticamente a minha "religião". 

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