segunda-feira, 27 de junho de 2022

Sobre racionalidade, crueldade e veganismo

 Exemplos: "bullying" e escravidão


Se eu perseguir uma pessoa, tratando-a de maneira hostil e agressiva; pelo simples prazer de maltratá-la; sem que ela represente uma ameaça pra mim ou sem ser por justa causa, como autodefesa, isso significa que eu estou agindo de maneira irracional, porque não estou: refletindo minha ação, analisando a situação e seus elementos/ tentando entender meus sentimentos e os da pessoa que eu estou atacando e pensando se existem alternativas melhores de abordagem. Pois a prática de "bullying", sem que exista uma boa razão para adotá-la, é o equivalente a abrir o guarda-chuva em um dia parcialmente nublado ou dar vários tiros em uma rosa no jardim acreditando que possa oferecer algum perigo imediato. É um despropósito, um excesso, que só pode ser causado por uma impulsividade instintiva, pertencente à mesma categoria de comportamento que o estupro. Por isso que não é apenas coincidência que crianças, adolescentes e adultos imaturos estejam mais propensos a praticá-lo. 

A escravidão é outro exemplo de crueldade irracional, por não ser imprescindível ou necessária, por existirem outras opções, mesmo se com o objetivo de subjugar um povo, se isso pode ser feito de maneiras até diametralmente opostas à sua brutalidade característica e com igual ou maior potencial de "sucesso". Por exemplo, conquistando esse povo através de simpatia e empatia: preservando seus direitos mais básicos, oferecendo-lhe meios de sustento dignos... enfim, transformando-o em um aliado e, assim, diminuindo significativamente o risco de que se revolte contra a sua autoridade, se não há razão para escravizar ou maltratar os que já se encontram em uma posição subalterna, 
 além de lhes causar uma alta taxa de mortalidade, isto é, justamente os que estão sustentando a sociedade. A escravidão não é apenas desnecessária, mas também contraprodutiva e estúpida. E, além disso, a escravidão, assim como qualquer outra prática de crueldade, se baseia no desprezo à verdade da igualdade essencial de todos os seres humanos//vivos, condenados ao mesmo destino final. 

Portanto, já podemos concluir que, crueldade e racionalidade tendem a ser opostos. Mas, isso ainda não significa que, então, seja o mesmo que bondade ou altruísmo por também ser possível e até comum de se praticá-los a partir de impulsividade emotiva ou ignorância. No entanto, quanto maior a ponderação, sinônimo de racionalidade, mais detalhes, nuances e alternativas de abordagem emergirão à mente, resultando em uma maior moderação no comportamento. Por isso que, apesar de não serem a mesma coisa, uma maior capacidade racional tende a resultar em uma maior empatia...

O paradoxo racional do veganismo 

O veganismo é uma prática indiscutível de compaixão, por pregar pela abstenção do consumo de "produtos" de origem animal em prol do bem estar das espécies que têm sido exploradas por nós, seres humanos, para nos servirem. Pois é possível dizer que o tratamento geralmente cruel que temos dado a esses animais é análogo à escravidão de outros seres humanos, partindo dos mesmos argumentos, de desproporcionalidade do ato e de alienação sobre a verdade de sermos todos iguais, em essência. No entanto, essa situação é mais complexa que os exemplos acima, já que a maioria dos seres humanos têm se adaptado a uma dieta onívora, desde os primórdios de nossa espécie. Pois se "bullying" e escravidão não são imprescindíveis à sobrevivência individual ou coletiva, o mesmo não pode ser igualmente dito sobre a domesticação de espécies animais visando seu "valor nutritivo". 

Eis aí um paradoxo, por ser racional tentar minimizar o sofrimento desses animais a partir de uma análise imparcial dos fatos envolvidos, por exemplo, de que eles, assim como nós, também são sencientes, porque sentem prazer, dor, alegria, tristeza; e por sermos essencialmente iguais, ao contrário da falácia especista que exagera as nossas diferenças em relação às outras espécies. Mas por também ser racional se preocupar com a própria saúde, e uma dieta deficiente em proteína pode acarretar problemas a médio e longo prazo. Porém, se a maioria dos veganos toma suplementos que ajudam a equilibrar suas dietas, talvez o veganismo seja totalmente viável (na verdade, partindo da ideia de que o veganismo não é necessariamente uma abstenção, mas uma redução máxima do consumo de produtos de origem animal, então, parece ser bem mais acessível do que se pensa).  

No meu caso, eu decidi minimizar o máximo que consigo o  consumo de alimentos de origem animal. Por isso acabei adotando o pescetarianismo. 

Como conclusão, o veganismo é primariamente muito racional, mas também é  potencialmente irracional, porque pode colocar em risco a saúde do indivíduo que o pratica. O ideal, portanto, seria não aderir totalmente ao mesmo, tal como eu faço, ou buscar por compensações que diminuam esses riscos, como muitos veganos têm feito.   

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