segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A verdadeira pílula vermelha

Nem totalmente à esquerda,
Muito menos à direita 

A trilogia de filmes Matrix é uma brilhante metáfora filosófica originalmente pensada para criticar o sistema capitalista (e, por tabela, a sociedade conservadora que o mantém), perceptível pela multidão de engravatados andando nas ruas daquela Nova Iorque de mentira, projetada nas mentes dos escravos humanos; pela diversidade étnica da única cidade livre, fora da matrix, Zion; e pela analogia do ser humano comum como um pilha de energia explorada por "elites" maquiavélicas (máquinas). No entanto, desde que o último filme da franquia foi lançado, em 2003, algo esquisito começou a acontecer com a sua tão celebrada metáfora: sua usurpação por políticos e ideólogos de direita. Tal como se tivesse sido cooptada por senhores Smiths.  Não digo que esteja totalmente desprovido de lógica compará-la com o politicamente correto.. das esquerdas progressistas, que distorce, nega ou manipula certas verdades que consideram "inconvenientes" aos seus ideais e que ganhou muita influência nas últimas duas décadas. No entanto, os que se agarram à essa reinterpretação, se esquecem que também existe um politicamente correto conservador que tem sido imposto goela abaixo por séculos a fio, e que é tão ou mais problemático que o da esquerda autodeclarada iluminista. Portanto, esse discurso de ser a favor da liberdade do indivíduo ou contra (qualquer forma de) exploração, opressão e alienação (Matrix) é hipócrita e/ou ignorante, se o que de fato defendem é a volta do PC deles. Isso, por acaso, é o mesmo que escolher pela famosa pílula vermelha, da verdade??

Certo que não. 

Pois, ao tomarmos a verdadeira pílula vermelha, seguindo a metáfora, sairemos de nossas próprias "matrizes" ou bolhas de auto-conformidade ideológica, em que nossas opiniões subjetivas hegemonizam e limitam nossa capacidade de compreensão objetiva e essencial (ou filosófica) da realidade, se quase sempre se sobrepõem à busca honesta por verdades objetivas para, então, entrarmos no único mundo em que existimos, do hiperrealismo, onde são as verdades mais importantes, as existenciais, que passam a ser prioridades em nossas vidas. Ateísmo e justiça//harmonia social, portanto, se tornam fundamentos absolutos, afinal, quando deixamos o labirinto das cadeias alimentares e percebemos que só existe uma vida finita e frágil para viver, e que isso nos faz essencialmente iguais, egoísmo e divisionismos absolutos deixam de fazer sentido. Pela pílula vermelha, nos tornamos muito mais progressistas do que conservadores  No entanto, também não caímos no outro extremo de apagarmos os equívocos e crimes cometidos supostamente em nome da justiça social, por exemplo, ditaduras como a de Stálin, nem as distorções de verdades "inconvenientes" mesmo se bem intencionadas, que são prática comum de muitos progressistas, por exemplo, de que não existem diferenças intrínsecas (porém seletivamente maleáveis) entre as raças/populações humanas. 

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Quando

Quando eu cheiro a chuva
Eu sou a chuva
Quando eu olho pro céu
Eu sou o céu
Quando eu abraço
Eu sou outro
Quando eu cansaço
Eu sou a mim mesmo
Quando eu choro pelo morto
Eu ainda estou vivo
Quando eu olho pro meu rosto
Eu sou um espelho de vidro
Quando eu odeio
Eu sou frio
Mesmo quente
Quando eu amo
Com os olhos fechados
Eu sinto tudo
Eu sou o mais consciente
No silêncio da inércia
Nos atos mais básicos
Quando eu apenas existo 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Racionalidade, a verdadeira "normalidade" e a metáfora da linha do Equador e do meridiano de Greenwich

"Normalidade" ou especificidade cultural/moral

Racionalidade ou "normalidade" ideal/essencial

Quando estudamos geografia, na escola, aprendemos que o ser humano tem dividido o planeta em paralelos e meridianos. Que os paralelos são linhas imaginárias que dividem o mundo em dois hemisférios: norte e sul; que o paralelo de maior circunferência é a linha do Equador; e que determinam as latitudes. Que os meridianos são linhas imaginárias que dividem o mundo em dois hemisférios: leste e oeste, e que determinam as longitudes. Que o meridiano mais importante é o de Greenwich, em Londres,  ponto estabelecido por convenção. Se o professor foi virtuoso no ensino dessa matéria, então, ele também terá chegado à  conclusão que a linha do Equador foi definida com base em critérios estritamente geográficos, enquanto que o meridiano de Greenwich foi definido com base em critérios "políticos', afinal, a priori, tanto faz a localização do meridiano e, no entanto, foi decidido que seria no país mais rico da Europa naqueles tempos.

Agora, a metáfora que quero fazer.

Imagine que o meridiano de Greenwich é equivalente àquilo que temos aprendido a chamar de "normalidade" e que a linha do Equador é aquilo que poderíamos chamar de racionalidade. Ok, mas, por quê?

Porque a "normalidade" está totalmente restrita à cultura local ou na qual se está inserido. O que é definido como normal ou anormal, em termos de comportamento, pode mudar dramaticamente de região para região. A "normalidade", portanto, é tão relativa quanto o ponto ou meridiano principal que divide o planeta em leste e oeste, pois é uma linha imaginária de "certo" e "errado" que tem sido definida por convenção e não totalmente com base em critérios mais neutros/universais ou "científicos"/factuais.

Já, a racionalidade, mais se parece com a linha do Equador porque, mesmo também se consistindo em uma linha imaginária, de certo e errado, se baseia em critérios muito mais verdadeiros ou factuais e, portanto, mais universais. Não existe uma linha na parte mais ampla da superfície terrestre, que a divide em norte e sul, mas é notoriamente observável que se localiza na parte mais distante dos pólos.

Os critérios de certo, discutível e errado, da normalidade, pendem à aleatoriedade qualitativa, vezes baseados em fatos, mas mais comum de se basearem em opiniões subjetivas, incluindo distorções grosseiras da realidade.

Exemplos notórios de "normalidade" ou especificidade cultural:

"Na Arábia Saudita, a diversidade sexual é condenada com base na crença religiosa (isto é, em uma distorção grosseira da realidade). Mas, é normal que homens andem de mãos dadas nas ruas"

"Em certa tribo da Papua Nova Guiné, a passagem para a vida adulta, de menino para homem, acontece a partir de um ritual com relação homossexual"

....
 
"Em certos países da Ásia oriental, a prática de comer carne de cachorro e gato não é totalmente condenável, ainda que seja menos comum do que alguns ocidentais pensam".

"No mundo ocidental, a prática de consumo de carne de cachorro e gato é significativamente condenada... Mas o exato oposto em relação ao consumo de outras espécies domesticadas"

Exemplos de contrapontos racionais:

Respectivamente

"A diversidade sexual é uma expressão natural e não condenável moralmente porque, a priori, não causa sofrimento de nenhum ser humano (ou seres vivos de outras espécies), como se sentir atração pelo mesmo sexo fosse, por si só, problemático. No entanto, qualquer prática que é autoritária e extremista, em que não há diálogo, concessão, conciliação e/ou esclarecimento  entre os envolvidos e que ainda pode causar sofrimento sem haver necessidade, deve ser criticado, mesmo que tenha se tornado norma em determinada cultura"

"O carnismo é moralmente condenável principalmente quando existem alternativas à sua prática. Ainda assim, é um tópico difícil porque não sabemos com precisão o quão vegetariano o ser humano pode ser ou se tornar. Em relação ao 'hábito' citado, isso é ainda mais condenável porque se consiste numa expansão do grupo de espécies que têm sido sistematicamente objetificadas para agradar ao paladar egoísta de seres humanos e com a conivência velada de muitos de nós. [...] O mais ideal é de buscarmos diminuir o consumo, em quantidade e no tipo de alimento, preferindo por "frutos" do mar do que por animais terrestres ou aviários, para quem ainda está no início desse processo ou não consegue ir mais adiante, e para os que se sentem mais confortáveis, de abraçar essa mudança de maneira integral. Ainda valendo dizer que o veganismo não se limita à alimentação."

Se guiado apenas pela racionalidade, o indivíduo sempre buscará se basear em fatos para construir seus valores morais e pelas resoluções mais ideais, seguindo a lógica essencial e subentendida das outras espécies que, como eu já comentei em outros textos, não têm o mesmo luxo que nós de dispensar seus ideais de adaptação que são inteiramente construídos a partir dos seus tetos de compreensão da realidade. Para nós, o nosso ideal também é o teto de compreensão ou conhecimento da realidade que podemos alcançar, e isso reflete diretamente na qualidade dos valores morais ou de comportamento.

Se sabemos que ser homossexual não é antinatural, doença ou crime, então não há razão para condenar. O que não é o mesmo de ser incriticável. Se sabemos que somos todos iguais, em essência, que temos apenas uma vida para viver, podemos concluir que, devemos minimizar nosso impacto negativo no mundo para aproveitarmos ao máximo essa única vida, mas, com responsabilidade, convivendo harmoniosamente em sociedade, em relação ao meio ambiente e também às outras espécies, especialmente as de convívio mais próximo, isto é, sempre usando a bússola do bom senso (substituindo pelo senso comum ou "normalidade").

Normalidade e racionalidade se baseiam na razoável ideia de que o ideal é sempre o que é mais equilibrado e, também, no sentido de mais verdadeiro. No entanto, apenas pela racionalidade que podemos produzir sistemas de valores morais totalmente baseados no que é o mais ideal e, também, verdadeiro.  De, primeiramente, percebermos verdades objetivas para, então, pensarmos nas melhores maneiras de lidar com elas...  em oposição predominante às normas culturais vigentes ao longo da história humana, porque têm sido baseadas em opiniões subjetivas especialmente de grupos dominantes e, ainda, sem ter como finalidade o que é o mais ideal.  

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Mais uma metáfora visando explicar o comportamento: espectro de cores

Vamos imaginar que temos um espectro que vai do vermelho até o azul para representar, metaforicamente, a nossa propensão para cometer crimes hediondos. Mais pra vermelho você está, maior o risco de cometê-los. Mais para azul, menor. E, no meio desse espectro, essa propensão será mais influenciada por outros fatores. Portanto, mais azul, mais pacífico. Mesmo em situações muito desfavoráveis, a sua chance de cometer crimes hediondos é extremamente baixa. No entanto, se a sua cor for um azul arroxeado, então, não será praticamente nula. Já se a sua cor for violeta, o seu risco de cometer crimes hediondos será mediado de maneira mais significativa por fatores que estão além da natureza de seu caráter. Percebam que no meio do espectro de comportamentos, parece haver uma maior diversidade de respostas possíveis de acordo as circunstâncias que envolvem o indivíduo.  Para certos ou, talvez, para todos os tipos de comportamentos, existe uma variação individual de previsibilidade de resposta de acordo com o nível de estabilidade dos padrões percebidos. Variação individual, que pode ser de categorizada em subgrupos. 

Genético ou intrinsecamente estável??

Ainda que a proporção genética ou biológica dos nossos comportamentos seja cientificamente válida ou viável, estou preferindo por um conceito que define o nível de flexibilidade dos mesmos de maneira mais precisa e abrangente, por isso que o "intrinsecamente estável" me parece mais adequado, não necessariamente para substituir a perspectiva genética e sim para estabelecer mais um ponto de perspectiva comparativa e descritiva em relação a esse assunto. 

Se não sabemos o quão genético pode ser a propensão individual à agressividade e ao sadismo, podemos, ao menos, perceber, por observação, o nível de estabilidade ou robustez dos seus padrões, Inclusive numa diversidade de circunstâncias. 

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Autoconsciência, abstração e linguagem

Hipótese tresloucada

O ato primordial da consciência é a constante autoprojeção do sujeito, por seus sentidos, aos ambientes em que está. Por exemplo, nesse exato momento, estou projetando minha visão (a mim mesmo) para reconhecer o meu quarto, os elementos que estão nele bem como o período do dia (está de noite).

Então, o ato primordial da autoconsciência é a percepção do sujeito quanto à sua própria individualidade e consequente//constante autoprojeção da mesma aos ambientes em que está.

Primeiro, nos percebemos como indivíduos (autoconsciência). Então, projetamos o que basicamente percebemos sobre nós mesmos aos demais elementos, derivações (comportamentos) e fenômenos.

Exemplo:

"Se eu reconheço a pedra como um elemento individual, é porque, antes, eu me reconheço como um indivíduo. Em outras palavras, eu projeto o que essencialmente percebo//sinto de mim mesmo sobre os outros elementos."

 É a partir daí que passamos a abstrair ou isolar e a manipular mentalmente elementos, comportamentos e fenômenos que percebemos ou com os quais interagimos, resultando no pensamento abstrato.

Até penso se a autoconsciência não poderia ser considerada como uma espécie de sentido...

Em contraste às criaturas autoconscientes, minha gata, meu alvo charmoso e preferencial de observação, projeta de si suas vontades e impulsos instintivos sobre os elementos, fenômenos e comportamentos com os quais interage, transformando-os, também como a sua imagem e semelhança, mas não como indivíduos e sim como meios para as suas ações.

Exemplo:

"Se ela reconhece uma pedra no chão,  não a reconhece como um elemento individual e sim como um meio para uma ação sua, 'brincar' com a pedra"

Ela percebe sensorialmente a pedra mas, mental ou intelectualmente, não a concebe como uma pedra por si mesma, mas como um meio pra sua ação ou vontade no momento.

Eu a percebo como um indivíduo igual a mim.
Ela me reconhece como um meio igual à ela mesma, que é um meio pra suas próprias ações ou expectativas de reciprocidade, o carinho que dedico à ela, por exemplo.


O ato de pensar, de produzir e escutar a tal "voz interior", compulsórios ao ser humano, reforça a consciência do "Eu". Eu posso pensar ou calcular ações mesmo sem ter qualquer intenção de praticá-las. Em contraste, tenho constatado que a minha gata não pode pensar sem que já esteja preparada para agir. Isso é agir por impulso calculado. Também agimos assim, alguns mais que outros. Sua atividade mental parece estar significativamente associada às suas ações instintivas.

Um dos aspectos centrais da autoconsciência é a capacidade de introspecção, de pensar sobre si mesmo, sobre seus comportamentos, de repensar os próprios pensamentos. Essa ação lhe parece impossível de conseguir porque, a priori, não é diretamente objetiva. Do "se penso, logo ajo". Se o que mais define o instinto é a indissociação entre calcular uma ação (pensamento) e de se praticá-la.

Uma provável diferença de nossa espécie em relação às outras, é que apresenta uma divisão de trabalho bem demarcada entre mente e corpo (ou sistema nervoso central e periférico), resultando na possibilidade de separação significativa, mas não total, do núcleo de sua consciência, o "Eu",  em relação à sua "periferia" (instintos e reações particulares). Não é à toa que a minha gata é tão fisicamente ágil e que eu seja tão intelectualmente constante. O corpo dela é sua arma de sobrevivência, enquanto que a evolução humana tem se concentrado no cérebro e nos membros superiores para a mesma e básica ação.

Até gosto de pensar, metaforicamente, na autoconsciência humana como uma célula eucariota, por se basear na separação predominante do núcleo da mente, ou individualidade, em relação à sua periferia de instintos (''material do citoplasma''), enquanto que, para os demais seres vivos, suas consciências seriam mais do tipo "procariota", porque não há nítida diferenciação entre o núcleo, o eu (o que eu sou) e a periferia da consciência (o que eu faço).

A linguagem humana emergiu dessa capacidade de projeção da autopercepção de individualidade aos elementos concretos e derivados, se palavras e números são símbolos que visam justamente individualizá-los: identificar, demarcar, categorizar o que, na realidade, existe solto e "descategorizado", ainda que diverso. Com o aumento da capacidade de armazenar informações ou do potencial de memória, mais a sofisticação mecânica da fala, nomear ou identificar elementos, comportamentos e fenômenos, foi se tornando significativamente necessário aos seres humanos. De grunhidos apontando para as "coisas" e onomatopeias imitando sons para nomes individuais ou palavras.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Termos substitutos para o fascismo

Nos últimos anos, o fascismo tem sido usado de maneira excessiva, especialmente por progressistas (inclusive por mim mesmo), para se referir a qualquer regime autoritário e/ou tirano. No entanto, este é um termo específico de um lugar e período históricos: a Itália do entre-guerras da primeira metade do século XX e, portanto, não deve ser generalizado como se fosse sinônimo primário de autoritarismo. O ideal é o de buscarmos por termos mais abrangentes, sem endereço fixo na história. Por isso que, neste breve texto, irei introduzir minha proposta para solucionar esse equívoco que se tornou prática comum no cenário político. Os dois termos substitutos para o fascismo são:

Ultraconservadorismo e autoritarismo extremista

O autoritarismo extremista é todo regime político, cultural e/ou econômico em que, diálogo, conciliação ou concessão (em busca da justiça ou verdade) não são regras fundamentais em sua dinâmica social e que não tem como objeto principal a maximização do bem estar de todos os indivíduos e grupos que constituem uma sociedade.

Os únicos sistemas ou ideologias conhecidos que são, EM TEORIA, os menos autoritário-extremistas, são: a democracia (moderna) e o comunismo.

O que difere o fascismo do capitalismo é que o primeiro enfatiza seu autoritarismo no aspecto cultural e o segundo no econômico.

Fundamentalismo religioso, absolutismo monárquico e pseudo-comunismo também são autoritarismos extremistas.

Além do fascismo, o nazismo, o absolutismo monárquico e o fundamentalismo religioso também são ultraconservadores.

O ultraconservadorismo é a exacerbação de características comuns ao conservadorismo:

- Obediência ou submissão absoluta às autoridades com base em pouco ou nenhum diálogo entre as partes envolvidas;

- Supressão da individualidade, supostamente em prol do coletivo (na verdade, é em prol das "elites" dominantes). Uma falsa dicotomia;

- Divisão radical dos grupos sociais em: elites "naturais", "asseclas" (classes que sustentam e defendem as "elites"), "marginalizados" e "inimigos da nação" (opositores), visando justificar exploração e opressão, especialmente em relação aos dois últimos (alienação existencial);

- Especismo: tratamento predatório ou conveniente em relação ao meio ambiente, flora e fauna: seres vivos não-humanos, domesticados e silvestres;

- Anti intelectualismo: o conhecimento apenas como um meio para manter o poder ou domínio social das elites, sem se preocupar, de fato, com a melhoria constante da sociedade e de sua compreensão sobre o mundo. Verdades "inconvenientes" sempre descartadas. A arte é reduzida à mera figuração estética e a moralidade relativizada. A filosofia, portanto, é substituída por uma mitologia, em seu papel de guiar nações.

Uma intelectocracia também seria autoritária e extremista??

O ideal não é perguntar se seria ou não autoritária e extremista, mas o quão, para quem e por quais motivos ou intenções. Afinal, é inevitável que ocorram imposições e medidas duras. O que diferencia uma tirania, como o fascismo, e uma sociedade moralmente correta, é a gravidade das consequências das decisões que são tomadas pelas autoridades, mesmo sem participação efetiva do "povo". A intelectocracia, conceitualmente, se assemelharia ao comunismo e à democracia moderna, por também ser favorável pelo bem estar de todos (que o merecerem por suas ações).

Impor medidas ou ordens que causarão sofrimento desnecessário e por razões torpes = tirania

Impor medidas ou ordens mesmo depois de ter havido diálogo e tentativa de conciliação mas que é para o bem de todos os envolvidos = democracia moderna, comunismo e intelectocracia (em teoria e por prática absolutamente alinhada à teoria).

Especulação lógica versus ilógica

A possibilidade de vida fora da Terra e da existência de Deus

Existimos. Já estamos em um nível de civilização ou organização social complexa. Já sabemos que o universo é imenso, que existem muitos planetas parecidos com a Terra. Então, por que não pensarmos na possibilidade de existência de formas de vida extraterrestres dotadas, ou não, de inteligência complexa??

Essa especulação é lógica, porque é baseada em fatos existentes e probabilidades coerentes a eles: nós, seres humanos; o restante da fauna e da flora deste planeta; o tamanho descomunal do universo (quiçá dos universos) e a existência de planetas e sistemas de planetas que, talvez, possam oferecer condições similares ou mesmo identicamente favoráveis à vida, tal como às da Terra.

Deus??

Em contraste à especulação sobre vida extraterrestre, a possibilidade da existência de Deus não é baseada no que já existe, e sim no que o ser humano, desde os seus primórdios, tem imaginado e definido como absolutamente verdadeiro, sem sequer buscar por evidências concretas.

Portanto..

Especular sobre possibilidades não-conhecidas ou não-comprovadas a partir do que existe: especulação lógica.

.... pelo que não existe: especulação ilógica.  

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A verdade essencial sobre os testes de QI


Os testes de QI, em essência, mensuram nossa capacidade de uso das ferramentas culturais ou abstratas, inventadas pelo ser humano para se comunicar, categorizar/organizar e compreender as coisas do mundo, basicamente as linguagens: escrita ou vocabulário, matemática e espacial (com exceção da linguagem falada). E, para isso, todos nós temos que ter ido à escola ou expostos ao aprendizado dessas ferramentas, especialmente durante a primeira infância. Do contrário, não poderemos usá-las com o mínimo de proficiência, por exemplo, quanto ao meu "QI verbal" em mandarim que, com certeza, está em torno de 0 pontos.

Da mesma maneira que não existiriam tenistas se não existisse o "Tênis" e suas regras. Ainda assim, é possível perceber que algumas pessoas se destacam mais na prática desse esporte, tanto por esforço repetitivo quanto pela descoberta de uma facilidade mais intrínseca [aliás, um tende a levar o outro].

O mesmo para a inteligência (acadêmica).

Portanto, quando dizem que o componente genético "ou' de "herdabilidade" de nossas pontuações em testes cognitivos gira em torno de "30% a 70%" com base em estudos com gêmeos idênticos,  não compreendem que os testes de QI não refletem um conjunto de instintos 100% naturais, mas uma combinação de potencial biológico associado à existência dessas ferramentas.

QI é muito parecido com o esporte*

A principal diferença é que essas ferramentas culturais são de vital importância para que o ser humano possa se desenvolver e se reconhecer como tal**, enquanto que ninguém precisa aprender a jogar tênis a partir de 1 ano de idade para alcançar esse objetivo.

* outro exemplo é a capacidade de aprendizado em informática, cada vez mais importante. Talvez até poderíamos pensar em um QI de informática.. (neste, também não me sairia bem).

** novamente, com exceção da (qualidade da) linguagem falada ou comunicada que os testes não mensuram;

-Também me refiro, evidentemente, às linguagens inventadas para ajudar pessoas com deficiência a se comunicarem.