sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Empatia por antecipação [ou defensiva*]: Vulnerabilidade para a paranoia e a hiper-internalização


Ler placas ou "ler mentes"??

Vamos imaginar que você, até então um adulto analfabeto, é finalmente alfabetizado e a partir disso passa a ter curiosidade por cada placa com palavras que se depara nas ruas.

Agora vamos continuar a imaginar só que de outra maneira, digamos, mais tresloucada. Vamos pensar que você, antes uma pessoa com níveis normais de empatia (interpessoal), toma um remédio pra gripe, só que ele tem um efeito colateral inesperado porque o deixa permanentemente paranoico. Antes você passeava ou passava por ruas cheias de gente e sentia indiferença parcimoniosa à multidão. Agora, cada pessoa que te interessa nas ruas, e são muitas [a maioria], o fazem providenciar inferências sobre os seus pensamentos, impressões, via linguagem não-verbal e verbal [sempre com vontade impulsiva/instintiva de ler ''as suas placas'' ou mentes]. Agora que você está "alfabetizado em paranoia", você quer ler mais mentes do que antes/ se antecipando às mesmas/ e na maioria das vezes tornando-se desgostoso ao acionar, sem querer querendo, também as suas empatias interpessoais defensivas e agressivas, ao interpretar de maneira exagerada ou factual os pensamentos e comportamentos não-verbais e verbais alheios em relação a si mesmo.


 Se antes aquele bolo de colegiais desaforadas e assanhadas rindo em sua direção, aumentavam a sua libido, ou no mínimo passava-lhe uma sensação positiva, de estar agradando, agora o torna mais comedido, preocupado em agradar e na dedução de não estar. A empatia [interpessoal] por antecipação, intensa e muito mais constante, parece ser o fardo da maioria se não de todo paranoico.

A maioria das pessoas até poderiam ser consideradas como empáticas interpessoais superficiais constantes ... em ambientes densamente ocupados. Elas são empáticas interpessoais superficiais porque fazem leituras superficiais das ''mentes''/comportamentos alheios nesses ambientes [ruas, festas, etc] enquanto que psicóticos e arredores são muito mais descontroladamente intensos neste aspecto. Valendo sempre ressaltar que a empatia interpessoal [receptiva, defensiva e agressiva] é uma espécie de arma evolutiva extremamente importante, não apenas presente no ser humano, que tem como função a nossa sobrevivência, ao nos auxiliar no estabelecimento de parcerias [amizade, coleguismo, procriação, etc = empatia receptiva], e em nossas defesas pessoais [empatia defensiva e agressiva].

Hiper-internalização

Pergunte-me sobre psicologia, especialmente a parte não-freudiana, e é provável que eu saberei responder muito bem [mais ou menos]. Pergunte a um matemático sobre matemática, especialmente sobre os conhecimentos mais basais ou gerais de sua área de especialização, e é provável que ele saberá responder muito bem. 

Tudo aquilo que hiper-internalizamos tende OU talvez se relacionará aos aspectos mais nucleares de nossas psico-cognições. 

Eu já falei que os nossos aprendizados [factualmente corretos ou não] consistem na expansão de nossos instintos, isto é, em nossos neo-instintos, como maneira de completar os nossos desenvolvimentos bio-psico-cognitivos, e que, para nós, este processo de aprendizado, tende a continuar por toda a vida, ainda que, é claro, também vai sendo reduzido ao longo da mesma. Já usei o exemplo hipotético de um matemático [novamente] que precisa lidar com pessoas que não são muito inteligentes em matemática em seu próprio trabalho e justamente tendo a mesma como assunto principal, para explicar a situação do emocionalmente inteligente [ consciencioso e factualmente preciso OU sábio] que precisa lidar, de fato, a todo tempo, com pessoas que são menos emocionalmente e racionalmente inteligentes que ele. 

Pois então, algumas pessoas são muito boas para internalizar ou fixar, não apenas ou especialmente sobre matemática ou biologia, por exemplo, mas também sobre ''conhecimentos intra e interpessoais'' [sejam eles mais factualmente certos ou não] e de usá-los sempre que possível. Portanto o exemplo hipotético do matemático é real para os mais racionais e especialmente para os mais sábios, mas também para os tipos mais tendenciosamente psicóticos, porque eles estão naturalmente inclinados para internalizar/memorizar informações intra e inter-pessoais, e a todo momento as acionam, de maneira mais constante/neo-instintiva e intensa, para lidar com as outras pessoas, e dependendo dos seus teores [negativo por exemplo], podem causar-lhes reações mais exacerbadas. 

Portanto novamente, alguém te faz uma pergunta OU você escuta alguém falando sobre o assunto que você domina, imediatamente a sua mente sinalizará ou mesmo já irá lhe entregar de bandeja a resposta ou a explicação que internalizou [correta ou nem tanto]. 

Agora imagine se você tivesse que lidar com isso praticamente toda hora em seu convívio social** 

Aquele que é instintivamente mais direcionado para o ''mentalismo'' lida com maior intensidade, importância e frequência com uma de suas áreas psico-cognitivas mais importantes e alguns deles estão tão intensos que acabam desenvolvendo vulnerabilidades, alguns, literalmente falando, ''se tornam'' mais empaticamente desordenados, sem falar daqueles que já nascem praticamente destinados aos limites da empatia interpessoal como os ''psicóticos''. 

É o que tem acontecido comigo pois quando eu internalizo uma maior antipatia em relação à certa pessoa, ao internalizar um predomínio de informações [interpessoais] negativas sobre ela, e ainda tendo que conviver quase que numa base diária, o meu corpo sinaliza de maneira cada vez mais intensa ou mesmo precipitada, me avisando que não é uma pessoa que eu goste ou que apresentamos diferenças intratáveis [sinalização de ameaça]. A minha mente aprendeu ou concluiu que essa e/ou certos tipos de pessoas definitivamente não são ''as minhas cara-metades'', quer seja para a amizade ou para o amor, e ao invés de tolerá-las, me faz reagir de maneira estereotípica, negativa, em relação à elas. Percebo em mim àquilo que tenho atribuído tanto aos esquizofrênicos quanto aos autistas [mas mais aos primeiros], que é uma boa intolerância à ambiguidades interpessoais. 


Enfim, por enquanto é ''só'' isso. 

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