domingo, 14 de maio de 2017

Domingo de chuva

Nublado, indolente, triste,
Dia de morte, de tristeza, mesmo que ninguém tenha morrido,
A semana que é sempre a vítima, que sempre morre no domingo,
É o fim do ciclo, e as nossas memórias, que se viciam a pensar assim,
Na chuva, com o céu acinzentado, emburrado,
Esperando o dia passar, de descanso, de preguiça, 
Dia que mais parece não ser, dia que não é dia, é uma espera, uma reflexão forçada,
Domingo no parque, no quarto, debaixo do cobertor,
Caminhando, deitado, tomando um café pra relaxar,
Esperando o dia passar, o vácuo de energia humana,
Cultuamos o domingo, mesmo sem perceber, sem querer,
Mas querendo, e se não existisse, e se todo dia fosse como a segunda, a terça ou o sábado,
Até pra respirar profundo confiamos no tempo, nas fronteiras que cercamos, no mapa que inventamos,
Nas horas, nos segundos, e em seus meandros,
Pra chamar de domingo, e quando é na chuva, com o céu nublado, melhor ainda,
Mais domingo, mais triste, o dia do melancólico, do ansioso, da realidade,
Dia pra pensar um pouco, antes de cair na psicose do ser humano,
De se distrair, de escapar de si mesmo, do conhecimento,
De filtrá-lo, de nos filtrarmos e de abraçar a própria ilusão, 
Esquecendo do tempo,
Domingo de chuva, de culpa, de dane-se o mundo,
De xingar a vida, e depois pedir desculpas, de agradecer a deus, mas sempre com um puxão de orelhas, sempre com uma chantagem, com uma permuta, 
Domingo de chuva, de sol fraquinho, de culpa, de luto, de tudo.

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