quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O perfil psico-cognitivo do ''enganador'': acumula muitos conhecimentos... mas não sabe usá-los, não os compreende de maneira ideal ou mesmo nem sabe do que está falando

Assimetria de desempenho entre cognição fluida e cristalizada (verbais e lógico-ideacionais) e com preferência para a cristalizada: o internalizador de alto funcionamento...

A cognição verbal fluida é a capacidade de se improvisar, seja para esboçar letras de rap, para argumentar ou para qualquer outra atividade de natureza verbal que esteja atrelada ao raciocínio ''de improviso'', isto é, testando as habilidades de raciocínio em tempo real.

Os termos fluido e cristalizado, aqui, estão sendo usados de acordo com os seus conceitos mais puros ou literais, que eu já comentei, eu acho, em textos anteriores, isto é, fluido enquanto ''algo que deve estar sempre sendo trabalhado'' e cristalizado enquanto ''aquilo que foi capturado ou internalizado''.  

A cognição lógico-ideacional fluida se consiste no uso/trabalho/construção de ideias invariavelmente lógicas ( em cima daquilo que foi internalizado) enquanto que a cognição lógico-ideacional cristalizada se consiste na internalização de informações invariavelmente lógicas (potencialmente racionais). Esta sub-cognição avalia a sua capacidade para compreender o mundo a partir de um ponto de vista (inicialmente) lógico e portanto correto, isto é, já exibe um viés, que a meu ver, se consiste na maneira mais correta de se entender a realidade, porque a própria existência é extremamente lógica ou sistematizada/mecanizada.

Internalização e trabalho de informações corretas: memorização/cristalização e raciocínio/fluidez. 

As cognições verbais, cristalizada e fluida, estão intimamente relacionadas com as cognições lógico-ideacionais, fluida e cristalizada, tal como a roupa está para o corpo. Primeiro internalizamos impressões lógicas, depois as traduzimos/associamos a símbolos/palavras/números, isto é, as verbalizamos, a nível ideacional e oral. 

Todo mundo percebe a mesma coisa, mas construímos diferentes narrativas sobre esta coisa e claro que quanto mais complexa/abstrata maior será a dificuldade para entendê-la de maneira lógica. O diferencial é o quão correta/próxima ao real, será a narrativa/interpretação sobre esta coisa. 

Ambas obviamente que se encontrarão atreladas à realidade objetiva/imediata e também à realidade abstrata que em comunhão supra-ideal produzirão a moralidade objetiva, que é tudo aquilo que está irrevogavelmente certo ou errado, mediante um prisma moral idealmente correto. 

Existe é claro uma diversidade de perfis cognitivos em que algumas pessoas serão melhores nos quesitos lógico-ideacionais mas menos nos quesitos verbais ou vice-versa. E também teremos aqueles que são mais intensos/quantitativamente melhores para a internalização de informações do que para o seu posterior trabalho/manipulação/entendimento, em palavras mais simples, no próprio raciocínio.

Eu já comentei que acredito ter uma cognição verbal fluida/lógico-ideacional bem desenvolvida, em relativo contraste com minhas capacidades cristalizadas. Isto é, eu internalizo menos, mas melhor, com uma maior proporção de informações de qualidade ou que são  lógicas e ainda sei improvisar/ser criativo. Todas essas características parecem evidenciar uma natureza agudamente sábia, que dá sempre preferência para a qualidade assim como também para um conhecimento simples porém correto e exponencialmente completo/holístico da realidade. 

E talvez por causa de minha natureza mais intermediária, em vários aspectos: cognitivos, psicológicos, temperamentais, seja mais fácil pra mim compreender a sabedoria e agir de acordo, ainda que vivamos solapados pelo caos organizado que se consistem as sociedades humanas, do micro (família, por exemplo) ao macro nível e que portanto, não é tão simples assim agir de modo racional na maior parte do tempo, porque justamente a todo momento somos desafiados pela ''ilógica lógica'' ou incompletude intelecto-perceptiva, isto é, em que se percebe de maneira minimamente correta a realidade, mas se esquecendo de muitos ''pormenores'' e muitos deles serão de natureza empática, e este é o modo usual humano para interagir com a sua realidade. Em suma, todas as ações humanas que forem invariavelmente corretas/lógicas/friamente corretas ou inteligentes poderão ser justificadas mediante uma perspectiva igualmente lógica, menos quando começarmos a falar sobre racionalidade e sabedoria.

O relativismo moral faz sentido pra lógica, se funcionar, mas não fará sentido para a racionalidade, que é claramente uma evolução da lógica.

Pode-se saber de cor várias contas matemáticas e de física, pode-se recitar vários poemas do poeta favorito, enfim, pode-se ser muito inteligente em alguns aspectos, diga-se, que estão relacionados com a quantidade cognitiva, mas sem uma capacidade mais profunda, para de fato entender o que faz, então não resplandecerá qualquer qualidade cognitiva de peso.

E o fator diferenciador, que separa '' tolos espertos'' (clever sillies) de racionais é a sabedoria, que eu já comentei que se consiste no conceito implicitamente primordial da inteligência: o julgamento correto, e que por sua vez se principiará de modo lógico ou ''aquilo que funciona'', sem qualquer grande teor moral embutido, e evoluindo para um raciocínio finalmente moral. 

Em nossas sociedades aquele que é mais eloquente, que ''esbanja conhecimento'' regurgitando o seu conhecimento específico ou amplo que foi cristalizado, tenderá a ser considerado como uma pessoa indubitavelmente inteligente. No entanto, a essência sempre supera a aparência, e neste caso, a capacidade fluida parece ser mais importante que a capacidade cristalizada, ainda que a segunda também seja de grande importância. Eu não estou apenas comparando as duas capacidades, mas criticando as sociedades humanas que dão valores assimétricos às mesmas e favorecendo as capacidades cognitivas cristalizadas. Portanto é muito comum termos os ''detentores do conhecimento'' esbanjando aquilo que internalizaram/memorizaram, como se isso já se consistisse na finalidade do conhecimento, enquanto que o mais importante, como quase sempre, não é a quantidade nem a memorização mas a qualidade e o raciocínio, o verdadeiro entender. Portanto em alguns aspectos muito importantes pode ser possível dizer que especialmente os mais criativos que de fato compreenderão porque  serão capazes de criar em cima do que entenderam, isto é, o entendimento ou compreensão serão profundo que terá ainda uma capacidade para extrapolar ou ampliar as fronteiras de sua área de fixação e conhecimento. E claro que o entendimento criativo tenderá a ser muito variável, em que algumas pessoas poderão desenvolver uma compreensão de frações de sua área de fixação, mas que será significativa ou profunda a ponto de resultar em desenvolvimentos criativos/divergentes/lógicos.  

Pode-se saber menos mas muito, ou muito mas menos

E eu já comentei sobre esta tendência. Você pode ser um grande conhecedor sobre a história da França, mas ao desprezar ou desconhecer a importância de um conhecimento integrado entre os conhecimentos naturais/naturalmente percebidos, que são aculturados entre os seres humanos, este feito pode ser menos impressionante do que aparenta, isto é, de se saber acoplar o seu conhecimento cristalizado específico, em especial, em relação à ''lógica basal'', isto é, a tudo aquilo que estiver basalmente correto ou coerente, por exemplo, falar sobre a história da França, em termos de datas, acontecimentos sociais, mudanças demográficas, chegando ao conhecimento sobre psicologia para que possa integrar os dois ramos para um maior conhecimento sobre a situação francesa atual, chafurdada em ''multiculturalismo'' e perigo para a sua própria continuidade cultural e étnica.

O ''enganador'' pode ter grande conhecimento cristalizado mas fraca capacidade fluida, lógico-ideacional, isto é, de raciocínio. Isso parece nos ajudar a entender bastante sobre os ''tolos espertos'', que tendem a internalizar informações equivocadas e a justificá-las de maneira inteligente. No entanto neste caso parece que estamos falando de tipos que também apresentam talentos fluidos verbais, mas destituídos de internalização preferencialmente qualitativa de informações, a 'bússola da sabedoria', e portanto é necessário diferenciá-los. 

O típico ''tolo esperto'' como o próprio adjetivo ''esperto'' está querendo dizer é capaz de desenvolver raciocínio/fluidez mental interessante porém baseados em ideias equivocadas: falta de sabedoria/de bom senso.

Em compensação o internalizador de alto funcionamento se caracterizaria justamente pela assimetria entre as suas faculdades cristalizadas e fluidas, sendo portanto capaz de internalizar um maior montante de informações (quantidade cognitiva) mas que não serão de grande qualidade (lógica, precisão, factualmente correta). Como eu já havia dito em algum longínquo texto  quando ''se está mais certo'' ou mais bem informado, é mais fácil debater ou raciocinar com alguém que não está, parece que, por razões óbvias.
Quem defende crenças ao invés de fatos, de natureza puramente cognitiva ou afetiva (sim, eles existem!), precisa de uma maior ginástica mental para produzir argumentos fantásticos que ''validem'' as mesmas.

Existem conceitos dentro da psicologia que já foram criados em relação aos temas que tenho trabalhado, e relacionados à neurociência, então por que eu teimo em criar novos** Não seria besteira inventar novos termos para particularidades que já tem termos criados especialmente pra elas*

Na maioria das vezes não, porque eu tenho buscado maneiras de integrar e otimizar o entendimento direto e em especial, vinculado á lógica/potencial racionalidade do mundo real, isto é, eu busco contextualizá-los, por exemplo, no caso da ''cognição lógico-ideacional'', enquanto que a psicologia moderna tende a ter como política ou procedimento ''ético'' uma suposta neutralidade de julgamento, mas sabemos que isso é quase, praticamente impossível de ser sustentado sob uma ótica verdadeiramente racional.

As subdivisões da inteligência fluida e cristalizada em termos mais específicos e em especial a criação de um termo que encontra-se intrinsecamente vinculado à lógica, é uma maneira de direcionar de maneira mais objetiva e correta o entendimento do comportamento humano.

Memória de trabalho ou função executiva apresentam as suas valias não tenho dúvidas mas acredito que a fomentação de novos termos com denominações mais específicas sobre as mesmas particularidades que também são trabalhadas pelos dois conceitos acima, exemplificados, ao invés de se consistirem em excesso, talvez possam ser entendidas como potencialmente úteis, partindo daquela lógica em que é melhor pecar pelo excesso do que pela falta. 

Raciocínio e memorização encontram-se debruçados sobre uma realidade multidimensional, que conseguimos perceber, portanto não vejo problemas em subdividi-los, na verdade, partindo desta conclusão, esta tarefa seria o lógico a ser feito.


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