quinta-feira, 28 de julho de 2016

''Leitura da mente''

Por que, ou quando, não existe diálogo... 


A maioria pensa que tem bola de cristal pois pensa que é capaz de adivinhar pensamentos e intenções dos outros. Criou-se inclusive um termo na psicologia chamado ''leitura da mente''. Dizem que aqueles que são autistas ou que apresentam mais traços comportamentais do espectro do autismo são mais propensos a apresentarem déficits nesta capacidade que é fundamental nas relações sociais humanas. No entanto o termo em si parece muito vago pois quando observamos de maneira mais profunda as relações inter-pessoais daqueles que não apresentam qualquer desvio comportamental em direção ao espectro autista, concluímos que o único adjetivo que encontra-se difícil de se ser utilizado para defini-las é justamente aquele que é derivativo da palavra ''perfeição''. As pessoas que não são autistas apresentam muitos déficits em suas capacidades emocionais e em especial quando são relacionadas com o meio social. Só que por se consistirem na maioria e por seus déficits não olharem tão significativos, a priore, como no caso de muitos autistas ou afins, então foi estabelecido a ideia de que tal realidade pudesse não só ser tolerada mas também transformada no ''comportamento ideal'', e quando algo não vem à tona, muitos sequer o perceberão. Parece verossímil que o autista médio seja menos habilidoso em sua perspicácia não-verbal intencional, isto é, na tarefa de encontrar a intenção emocional certa das pessoas com as quais estão interagindo. Mas que este achado possa ser então reverberado para outros casos, eu já acho que se consista em uma decisão precoce. 

Eu já comentei que talvez estejamos confundindo os termos envolvidos e que quando a maioria dos especialistas em autismo ou psicólogos avulsos dizem que eles, em média, são menos empáticos, eu acho que o termo mais adequado seja o simpático. Eu já falei, verborragicamente, como era até então o meu costume, sobre as diferenças marcantes entre simpatia e empatia. A simpatia se consiste em uma espécie de empatia superficial, que mostra-se mais característica na expressão comportamental do que na ação em si, como por exemplo, sorrir ao invés de fazer algo que possa ser conclusivamente definido como ''empático'', e que pode ser facilmente traduzido como ''bondade''. Pelo que parece a maioria dos autistas não são simpáticos, porque a simpatia se consiste em uma resposta predominantemente não-verbal e emocionalmente benigna que encontra-se constante ou usual nas relações sociais dos neurotípicos. Um exemplo mundano mas muito necessário. Quando recebemos visitas em casa tendemos a recebe-las, oferecemos algo para comer ou beber, nos polimos ao máximo, nos forçando a um nível de educação que na maioria dos casos não se consiste em sua normalidade cotidiana. De maneira falsa ou sincera, nos prostramos a esboçar interesse em relação às visitas e àquilo que pretendem dizer ou conversar. Os chamados ''neurotípicos'' tendem a agir assim. Pelo que parece os autistas e afilhados, em média, ou não sabem como agir mas tentam de alguma maneira, ou não ligam pra essas regras sociais. 

Eu internalizei finalmente a metáfora de Schoppenhauer, vivenciado-a de modo não muito convidativo em meu dia a dia, porque pode-se dizer que eu seja como um ''estranho no ninho'', por ser muito diferente em comportamento e/ou motivações intrínsecas, em relação aos meus pais e irmãos. Eu sou como um estranho da rua ou conhecido distante que resolveu morar por definitivo na casa ''dessas pessoas'' e que por causa das diferenças de temperamento, comportamento e cultura neurológica tenho colhido mais atritos do que alegrias nessas relações.

Observando de perto o comportamento social de minha família eu cheguei a algumas conclusões. Primeiro, as pessoas interagem de maneira hierárquica e quanto mais dominante for o indivíduo mais ''respeitado'' ou ''temido'' ele será. E nossos pais tendem ou podem agir desta maneira, sendo mais comedidos com os seus filhos mais dominantes em personalidade e mais severos com os seus filhos menos dominantes. Em outras palavras, tal como a força da água que ao não encontrar resistência, invade certa área, o mesmo é provável que acontecerá dentro das relações humanas, a física básica explicando o comportamento em especial dos seres humanos comuns, que tendem a ser naturalmente subconscientes de suas próprias ações, tomando-as como perfeitas para cada micro-ocasião em que participam, isto é, confiando no instinto do que perguntando à razão ou ''segunda consciência'' o que acha*

Segundo, as pessoas tendem a produzir resumos grosseiros em relação ao conhecimento que constroem sobre si mesmas (intrapessoal) e sobre os demais (interpessoal), mesmo quando for  sobre os próprios filhos ou pais. Como resultado diálogos racionais não costumam ser lugar-comum provavelmente na maioria dos lares humanos.

Terceiro que as pessoas tendem por lógica intuitiva a se sentirem mais confortáveis, naturais e sociáveis quando estão perto de seus semelhantes em comportamento, motivações intrínsecas e personalidade. Deve ser por isso que nossos amigos tendem a ser geneticamente semelhantes a nós, como tem sido mostrado em alguns estudos recentes. E este achado pode nos ajudar também a entender um pouco sobre a relação quase sempre complicada entre autistas e afins em relação aos neurotípicos.


O autista ou similar é sempre o culpado...


Também pode ser comum dentro das famílias, como tem sido comum na minha, que o perpetrador de algum conflito, geralmente, seja desprezado pelas autoridades familiares, isto é, os pais, em relação à vítima que por sua vez se torna a culpada. 

O seu irmão implica, você reage e leva a culpa, injustamente. 

Tal como acontece em macro-conflitos sociais recentes em que os perpetradores, na maioria das vezes de criminosos ou de culpados principais pela situação, são tidos como vítimas enquanto que aqueles que na verdade são as verdadeiras vítimas, são culpabilizados. 

Neste caso, o autista ao vivenciar uma realidade de constante e extremo criticismo em relação a cada particularidade do seu comportamento, e muitas vezes, constituído por uma hiper-sensibilidade quanto à críticas, caminhará para se tornar mais e mais fechado dentro do seu mundo interior rico, reação que talvez a maioria dos seres humanos desenvolvessem se fossem colocados na mesma situação. No entanto a maioria dos seres humanos são neurotípicos, portanto, as chances de que sejam constantemente hostilizados ou criticados na mesma intensidade com que muitos se não a maioria dos outliers costumam ser, serão bem menores. O contrário é o mais comum, pois a maioria dos neurotípicos tenderão a se refugiar dentro do ''sombreiro da normalidade'', emulando ou mesmo acusando os outros de ser ou de pensar de modo divergente.

A capacidade de ler nas entrelinhas as intenções alheias existe mas é muito superficial para a maioria. Pelo que parece o autista médio e similares tende a sobrepor o seu mundo interior evidenciado por sua ''cultura neurológica'' (motivações intrínsecas, gostos pessoais, tipo de rotina, etc) sobre as regras sociais subjetivas de etiqueta enquanto que o neurotípico médio é ou se torna facilmente capaz de camuflar a sua personalidade em relação a essas regras emulando-as dentro de um limite amplo de ''aceitabilidade''. 

Talvez a principal razão para a falta de adaptação social de autistas e similares seja justamente por serem tão honestos e sinceros enquanto que as sociedades em que vivem predominam mentiras ou conclusões precipitadas tomadas enquanto verdades absolutas. 


Autistas e similares são elementos sociais diretos


A ''subjetividade'' que praticamente caracteriza as relações sociais neurotípicas bem que poderia ser substituída pela palavra ''falsidade''.  Eu também gosto do termo ''confusão''. Autistas e similares tendem a ser diretos nas relações sociais e deste modo podem ser também mais profundos nas mesmas, da mesma maneira que costumam ser em relação aos seus interesses de maior estima.

O típico jogo social humano é como um jogo de xadrez, de estratégia, de blefe, de flertes, de manipulação psicológica...

O jogo social de tipos mais virtuosos, como uma proporção possivelmente alta de autistas e similares, se consiste na objetividade em que fins raramente justificarão os meios, pois a finalidade e os meios para se chegar a ela serão progressivamente coerentes ou honestos que em outras palavras poderá ser entendido como ''meios e finalidades são os mesmos''. 

Portanto as pessoas neurotípicas, em média, conhecem mal a si mesmas, mal as outras pessoas e como resultado as suas ''leituras da mente'' serão artificiais e muitas vezes relacionadas com o acato das convenções sociais do que de respeitar e buscar um melhor entendimento de si mesmas assim como também das outras pessoas, que eu já comentei longinquamente, sobre as diferenças entre empatia parcial e empatia total.

O modus operandi social neurotípico aparece como o ideal mas tudo indica que está anos-luz longe desta realidade. Norma não é ideal, é norma e nada mais.


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