domingo, 17 de julho de 2016

A homossexualidade é um paradoxo paradigmático porém essencial para a filosofia, por nos dar uma lição de humanidade...

Continuamos humanos, continuamos animais, continuamos no mesmo barco, se sofrendo mais ou menos, continuamos todos no martírio de nossa espécie, de saber demais, além de nossas capacidades emocionais, e ao mesmo tempo de saber de menos, e esta falta nos coloca em um ''não-lugar'' na existência perceptiva, porque não sabemos o suficiente para não sermos estes seres naturalmente depressivos, que lutam com unhas e dentes contra esta naturalidade, e por sabermos além de nossas possibilidades de de fato ''saber'', resultando finalmente na incerteza, o estado absoluto da mente humana, a incerteza, que sabe demais e de menos, ao mesmo tempo.

Neste ambiente desolador, no entanto, multiplicam-se toda sorte de profetas, alguns bem disfarçados de ''cientificistas racionais'', que com suas roupas sóbrias e olhar compenetrado, pretendem ''consertar'' tudo aquilo que qualificam como ''inferior'', por exemplo, os transtornos da mente e também comportamentos ''indesejados'', diga-se, muitas vezes, que serão julgados pelos tipos mais rasos e grosseiros de seres humanos.

A filosofia tem no desvio comportamental, que não é imoralmente basal, isto é, que em sua raiz não exibe desde já qualquer tipo de desvio mais grave, como no caso da ''psicopatia'', um aliado forte para segurar esses pés ''idealistas'' por demasia e mantê-los fincados no chão da humildade filosófica, diga-se, da verdadeira filosofia, porque esta pletora de tipos invariavelmente polêmicos e em especial quando estão sujeitos ao julgamento torpe da ''moralidade subjetiva'', dão uma lição de humanidade, literalmente falando, a esses auto-eleitos reformadores da realidade, e que usualmente tem pouco de sabedoria e muito de megalomania para esbanjar.

O ser humano veste roupas, cobre o seu sexo, se distrai na maior parte do seu tempo com frivolidades,  tende a desenvolver um sistema pessoal de pontos de vista que estão pela metade poluídos por pseudo-conhecimentos, enfim, se trans-forma, transgride a natureza com as suas prolíficas bugigangas, e se esquece que diante de todo este ''país das maravilhas'', continua a ser um animal-humano finito e desgostoso de sua condição final. 

E nada mais conveniente do que a presença de comportamentos como o desvio sexual e nomeadamente a homossexualidade para nos mostrar que, ''apesar de tudo'' continuamos humanos e assim seremos, mesmo se nos transformarem em ciborgues. A teimosia da ciência em peitar a realidade até mesmo ao ponto de determinar de maneira brutalmente tendenciosa, binária, com o seu crivo de qualidade, aquilo que ''serve'' e que ''não serve'', direcionada especialmente para os semi-escravos que se consistem os seus subalternos, isto é, a boa parte da humanidade, esmorece diante deste paradoxo paradigmático, isto é, mediante a possibilidade de uma ''melhoria'', prostrar-se diante de si enquanto uma barreira natural, não apenas a humanidade mas também a existência por si mesma, e sempre lembrando aos cientificistas que, apesar dos seus melhores esforços, continuaremos a sermos vidas, continuaremos a morrer, e que com ou sem doença ou desvio, continuaremos a ser, em especial quando formos mais 'errados'' e que os seus olhares gélidos e praticamente robóticos tendem a penitenciar e com uma espontânea naturalidade.

A primeira lição de humanidade, de vida, da filosofia, é a de que, apesar de tudo aquilo que a tecnologia pode nos providenciar, continuaremos a ser e a deixar de ser, e que no final, talvez, fosse melhor deixar como está ou ''apenas'' lutar contra o grande mal que ameaça não apenas a nós mas também a todos os outros vivos que aqui respiram, o mal por si mesmo, enquanto psicopatia, enquanto ignorância, e por que não, enquanto cientificistas ambiciosos.

O paradoxo da homossexualidade ou de qualquer outro desvio da norma é também pungentemente o paradoxo da filosofia e agora encarna também um quê de paradigma, por estar sob potencial ameaça por parte deste junta de super-egos auto-eleitos que desejam ''consertar'' aquilo que entendem como ''errado''. O paradoxo de não ser exatamente o certo mas de ainda ter o seu valor filosófico. E o paradigma que se aproxima mais e mais a partir da escatológica intenção capitalística de fundar um comércio popular de ''qualidade biológica'' e vejamos o quão sutilmente corretos serão as pessoas comuns na possibilidade de escolherem os próprios filhos. Eu não preciso nem mesmo providenciar uma explicação, um porquê, até mesmo porque a própria ideia já nos coloca na tarefa de imaginar o cidadão comum, bronco, fanático por futebol e destituído de um sutileza perceptiva, juntamente com a sua mulher, igualmente complementar em sua mediocridade, se prostrando diante de uma tela de computador em busca do ''ser humano perfeito'', claro que de acordo com os seus gostos que desde a muito se mostraram comuns a duvidosos. Se falta-lhes consciência estética, então como que poderão decidir quanto à vida que pretenderão arcar, diga-se, a vida bio-manipulada de acordo com as suas vontades**

A filosofia é o ponto final do pensamento humano, assim como também é o seu ponto inicial, a sua origem e o seu fim. Tudo começa e termina na filosofia e o seu fim se aproxima perigosa porém seguramente do niilismo, pois apesar de concluir final e esperadamente que, ''no fim, morreremos'', de qualquer jeito, não importa a qualidade da vida que levemos, que formos, mesmo não importa se o ser humano conseguir ''vencer'' a morte, a existência é com certeza uma erva daninha infinitamente mais complicada. No niilismo, quando tudo não mais importa, é na filosofia em que tudo importará. Tão próximos em magnitude e substancialidade final ou derradeira, e tão distantes, tão opostos. A filosofia, como uma entidade racional, bloqueia o pensar lógico, justamente porque este se consiste ainda na maturação da percepção humana, isto é, é um estágio adolescente, quase adulto, talvez até mais jovem, enquanto que o pensamento racional é ao mesmo tempo, como uma técnica desta entidade espetacular, inicial e final. A lógica beira á infância perceptiva, por ser consumista, materialista, afobadamente imediatista e pragmaticamente prática. Quando a ciência triunfa sem o julgo filosófico, então quer dizer que continuaremos a agir logicamente, isto é, limpando, purificando aquilo que ''não serve'', reduzindo a experiência humana unicamente em um espectro cada vez mais superficial e diminuído, no prazer hedonista, numa alegria progressivamente perfeita e portanto desumana por excelência, enfim, agindo como animais domados por seus instintos que se agarram pragmaticamente a si próprios e portanto à uma proto-qualidade, que está absolutamente desprovida de moralidade objetiva ou a moralidade por si mesma. Renegamos a nossa humanidade, que se apresenta como sabedoria, em prol do conforto mesquinho e auto-enganador, se como eu já disse, ''morreremos'', tudo no final será em vão, com ou sem homossexualidade. 

A homossexualidade ou qualquer outro desvio moralmente neutro em sua expressão basal, nos revela o quão humanamente animais somos, em nosso faro pelo sexo, pelo prazer, muitas vezes imediato, em nossas ''sujeiras'' fluidas ou corporais, em nossa humanidade despida desta avalanche crescente de artifícios, que a energia criativa humana tem sido direcionada, isto é, para este fim de tapar todos os buracos de realidade, da luz do sol, e nos envolver em uma redoma cada vez mais distante de nossa realidade final, que no final, não importarão essas picuinhas.

A homossexualidade ou seja lá o desvio qualquer, é um exemplo, primeiro quanto à necessidade da sutileza perceptiva, de compreender conscientemente que cada caso é de fato um caso e que deve ser analisado separadamente, a piore. Segundo que partindo desta lógica então existirão erros e erros e alguns erros ou desvios podem não ser muito importantes em termos objetivamente práticos, mas por não serem intrinsecamente problemáticos, como não é o caso da maldade irracional ou selvagem, por exemplo, isto é, a ação malévola ao invés da reação, sem prévia e coesa justificativa que mereça tal comportamento, então tal diversidade deve ser pensada e repensada antes de ser condenada no novo livro da inquisição, agora por meio da manipulação genética de mercado.

O erro e em especial aquele que não for imediatamente problemático não é a marca apenas da humanidade mas talvez da própria existência e no final, com ou sem ''erros', morreremos. Esta tentativa de purificação bio-cientificista ao invés de se consistir em uma cartada final do homem sobre a natureza pode muito bem resultar em sua própria desgraça. 




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