terça-feira, 14 de junho de 2016

Por que ''eles'' sempre ''vencem''**

Em quase todo debate você terá um grupo de pessoas escolhendo um dos lados e usando argumentos para validá-los. Em quase todo debate você não verá boa parte dessas pessoas ou grupos tentando entender os seus oponentes e mesmo que o façam será de maneira superficial e portanto com pequena possibilidade de desenvolvimento. Tal como em uma guerra de trincheiras, os dois lados avançam pouco ou nada e mesmo quando um deles estiver mais essencialmente certo do que o outro, é muito comum termos pessoas que não são predominantemente racionais nesses embates, isto é, que não são capazes de desenvolver para melhor as suas linhas de pensamento, provavelmente porque, por mais certos que possam estar, muitos deles, dificilmente serão racionalmente humildes para aceitar os seus pontos fracos, e com isso evoluir o debate em qualidade de entendimento mútuo. Então como proceder**

Eu acredito que o melhor jeito é primeiro, tomar todos os lados do debate.

 Por exemplo, se você estiver discutindo com um ''marxista'', sobre a União Soviética, é bem provável que ele irá comentar sobre os efeitos sociais positivos da revolução comunista para este país. E você retrucará sobre a falta crônica de liberdade de expressão e subsequente perseguição política, a falta de competitividade e/ou o culto ao líder. Um debatedor típico tentará de todas as maneiras pintar uma imagem ainda mais monstruosa (ou o oposto) da ex URSS do que a de fato desenvolveu ao longo de toda a sua história, isto é, ainda que esteja mais correto, você cometerá o equívoco do extremismo argumentativo, basicamente:

''União Soviética [comunismo] ruim, EUA [capitalismo] bom''

A sabedoria é muito simples.

 A ponderação e em especial ou fundamental, quando existir a real necessidade de se usá-la, isto é quando você tem os dois lados com pontos fortes e fracos, é sábio em aceitá-los, os pontos fortes e fracos do grupo A e também do grupo B, se em termos cognitivos, a sabedoria nada mais é do que o pensar completo, e em especial quando estivermos lidando com a análise de uma panaceia factual ocorrida, isto é, em relação ao passado. Tal como se estivéssemos olhando panorâmica e também intimamente para as realidades que os dois grupos estão parcialmente expondo. 

A+B= AB

isto é sabedoria cognitiva aplicada em debates de natureza puramente analítica, isto é, a descrição dos fatos ocorridos.

Debatedores comuns compram certos pontos de vistas que melhor se encaixam com as suas personalidades e/ou motivações intrínsecas/extrínsecas e desprezam os seus pontos fracos ou que muito provavelmente poderão torná-los contraditórios em debates.

Resultado***

contradições a perder de vista.

O segundo passo é ser direto, objetivo, tal como eu já falei em outro texto de mesmo assunto. 

Se o seu oponente está tentando te enfiar que multiculturalismo, vagamente falando, é uma possibilidade maravilhosa, seja bem claro, acaso estiver defendendo verbalmente os povos ''autóctones' europeus da maré de imigrantes que ameaçam as suas existências bio-singulares, aceite os pontos fortes do seu oponente, mas nunca deixe de enfatizar o ponto que muitas vezes você tentará esconder, a de que deseja, não importa ´porque razão, que as nações europeias permaneçam ''mono''culturais, ou melhor, que esta é a principal razão. Não há nada de moralmente/racionalmente errado nisso. Você não está dizendo que quer que ''pessoas negras sejam exterminadas'' ou que ''homossexuais sejam eliminados'', portanto não há nada de moralmente ultrajante e é sempre bom ser seco deste jeito, porque além de tomar conta dos pontos de vistas alheios concordando com os seus oponentes, você também estará mantendo a sua integridade argumentativa essencial. metaforicamente falando, você estará cuidando da sua capital/''ideia''-pensamento/motivação central,  estará cuidando de suas fronteiras e o mais importante, compreendendo um pouco mais os pontos de vista do seu oponente, sem com isso, precisar aceitá-los. E o mais sábio ainda poderá encontrar muita lógica nos pontos de vista alheios, àquelas que causam calafrios em debatedores que precisam fazer mais ginástica mental do que os demais e que não são capazes deste tipo de estratégia.

Portanto, quando pensar em debater, aceite que 

- é bem provável que o seu oponente estará mais certo que você em alguns aspectos,

- se você for debater defendendo a ''perfeição'' versus qualquer outra coisa, ok, você estará muito mais certo, mas como a maioria das ideias que debatemos são oriundas das construções humanas, sejam elas, civilizacionais, ''ideológicas''/''culturais''/''religiosas''/''filosóficas'', científicas e/ou puramente morais, e portanto são falhas por natureza, dificilmente você estará absolutamente certo sobre tudo e não ter consciência disso pode enfraquecer as suas bases argumentativas,

- se estiver defendendo ideias predominantemente equivocadas, dificilmente será realmente bem sucedido, ao menos se for um típico debatedor médio. Deve analisar a realidade sem qualquer filtro artificial, se conseguir, menos o filtro objetivamente moral/filosófico/sábio, a última fronteira entre o niilismo extremo e a moralidade, isto é, a fronteira entre você escravizar os seus filhos e não fazê-lo, pois esta é a finalidade fundamental da moralidade, mesmo das que forem de naturezas subjetivas/culturas, que por sua vez, estão predominantemente equivocadas. No entanto  o nível de irracionalidade que encontra-se prevalente na humanidade parece ser mais profundo do que apenas déficit na compreensão factual, o que lhes falta mesmo é a consciência estética, a profunda compreensão da necessidade da beleza em nossas vidas, perceptualmente complexas, tanto para entender o mundo quanto para suportá-lo a partir de uma interação constante com a hiper-realidade, porque quem ''parte'' para esta perspectiva existencial, quase sempre termina depressivo e até mesmo mais tolerante com o suicídio.




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