quinta-feira, 12 de maio de 2016

Olhos e cicatrizes



Olhos, 
e suas janelas
 
A persiana da alma 


Seu vidro se reflete

 em outras chagas
noutras vidas...

Estes olhos que cicatriza-ão 

do futuro esperado
ao presente,
nesta acalentada previsão

Antes 
flamejam um fogo quente
 a'ódio !!!


Sem a melancolia do fardo

 
Sendo o mestre de sua vontade 
De ver-se assim
Superior 


Ardiloso 

Neste humor poroso
pois os poros do corpo
querem fugir deste rigor

querem se espalhar
não importam-se
 emoções ou pipas
querem furar

Negro em seu calor


Dum fel manipulador


Cicatriza-o-lhos 


e então 
em si 

se esfria-ão

se é sempre esperado,
como a maré cheia
ou a primavera 
perfeita em sua adoração

Cinza o céu que espelha 
E um sol da manhã


D'uma serena combinação 


Empalidece
N'alvura

 
E morre neste gelo de razão...

 
Se quebra
Até voltar ao ego, 

a escalar nova montanha

Até crescer novamente 
E acumular nuvens escuras 


num cúmulo de rancores...

Raios e trovoadas anuncia-ão
Até se explodirem

céus-olhos

Como se o corpo preparasse de antemão
El bipolarizado 


Na gravidez

De sua gravidade 

Prenhe de tempestades

Se prepara para o combate
E ao perder toda energia 


Reconhece em outra face sua

a sabedoria 
E vive este ciclo de completar


Reconhece a própria verdade
em seu atiçar de contrastes

E se contrasta 
na pura perfeição

de ver tolos defeitos
e portanto de
ver-se inteiro

um espelho mais do que completo
apenas honesto

cicatriza-se novamente
sanguinolento 
fleumático
ou melancólico

vive como a atmosfera
com'um céu
d'azuis e cinzas dores
ou naquele castanho,
a sua cor,
baixo a nos rodear
alto, 
sem que possamos alcançar

d'olhos meus
e minhas cicatrizes 

da paixão pela vida
mais que 
quero ter

desenfreada és minha solidão
por ser como ar 
por não ser humano

sendo um não-animal
mais o espelho
do que o próprio corpo

mais por ser'alma
do que um tinindo e ocre

sou muitas cores
e intensidades

se imito o real
eu m'entornei 

como a um ciclo de chuvas
eu sou-me 
um rei

Don 
chicotes quel tempo
sangra mas também me irriga

me suga
pelo alento
n'Alentejo
ou num convento

eu beijo o ar
me beijo 
e sinto-as cicatrizar

se são aquilo que fazem

eu sou 
o que meu verbo mais é

sou portanto único
a singular
indivíduo
uno, 
a sonhar com hunos simpáticos
e acordar todo dia
toda hora
neste teu mundo idiopático 
oh teu,
este teu mundo,
se também sou seu,

e nunca serei só meu,
a consciência caminha assim,

de um dia,
eu-poder 
ego-em-mim,
tê-lo só

continuam olhos
lágrimas secam o fogo
o ódio raciocina 
eu, um outro

e sempre assim,
seguindo o tempo,
seguindo o fim




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