domingo, 10 de dezembro de 2023

A dissonância entre a crítica de cinema especializada e o público. Quem está mais com a razão?? Por que existe essa dissonância??

Eu tentei assistir ao filme "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" e não consegui. Foram 20 minutos tentando entender e gostar de uma bagunça pretensamente filosófica, sem nexo e cansativa. Eu tinha pensado em assisti-lo porque vários críticos de cinema o elogiaram bastante, anunciando-o como uma novidade imperdível. Então, logo depois do choque de expectativa frustrada, fui ver se estava sozinho, se não era apenas eu e vi que, a grande maioria das críticas de pessoas comuns sobre o filme, pelo menos de brasileiros, foi muito negativa, particularmente no site "Adoro Cinema", em que obteve uma média de 3,3 pontos, bem medíocre para um filme que ganhou várias premiações no Oscar de 2023.



Outra crítica sobre esse filme que coaduna com a minha decepção, você pode ler aqui embaixo:


Pois isso pode ser mais uma demonstração de que essa premiação perdeu o seu prestígio, diga-se, já faz um bom tempo...

Isso também pode mostrar que, infelizmente, não podemos confiar sempre no gosto dos críticos de cinema. 

O que é certo é que existe essa tendência de dissonância entre o que o público gosta e o que eles gostam...

Veja que, algo parecido aconteceu com o filme "Super Mario Bros" em que, enquanto a crítica "especializada" foi implacavelmente negativa, a maioria do público adorou, se tornando um dos filmes de maior bilheteria do ano. 

Mas por que existe essa dissonância?? 

Faria sentido argumentar que os críticos de cinema, com mais conhecimento na área, tendem a estar mais certos que o público. Mas parece que está bem longe de ser só isso. Até pode fazer sentido quando se trata de um filme "cult", raro, daquele tipo excepcional, que foca no enredo e nas atuações, que não agradam ou atraem a maioria. Mas em relação a filmes comerciais, geralmente, produções americanas, não faz, já que a crítica especializada não é indispensável para avaliá-los. 

O fator ideológico

Pois se colocássemos um questionário sobre preferência político-ideológica para críticos de cinema, é bem provável que a maioria, se não a grande maioria deles, acabasse pontuando bem para o "lado esquerdo da força" e, a priori, isso não deveria significar muita coisa, afinal, um crítico de arte deveria, idealmente, ser o mais imparcial e objetivo possível em sua crítica, independente de suas opiniões políticas ou, ao menos, diluindo-as durante a construção de sua crítica. Em um mundo idealmente racional, sim. No nosso mundo, muito aquém disso, o que acontece é que, mesmo quando atuamos como alguém que avalia produções artísticas, não existe nada impedindo que o façamos com base em nossas impressões pessoais e ideológicas e é justamente o que parece estar acontecendo com a maioria da crítica especializada da sétima arte, já que tendem a avaliar os filmes de maneira tendenciosamente subjetiva. Nesse caso, a tendência é que, se um filme coloca e até exalta a tal "diversidade" ou "representatividade" de "minorias' socialmente "marginalizadas', no elenco de atores, no enredo e nos personagens,  mesmo que não seja digno de grande menção, ainda terá pontos a seu favor apenas por essa "benevolência". E, no caso, em especial, de indivíduos que estariam mais para um perfil pós-moderno, qualquer obra artística que desafie convenções consagradas de como fazer um filme, pintar um quadro ou escrever um poema e que, ainda por cima, sinalize compatibilidade ideológica com o seu pós-modernismo, é muito provável que será imediatamente avaliado de maneira positiva, mesmo que apresente mais uma falta do que uma abundância de atributos favoráveis a uma boa avaliação. Pois, enquanto muitos críticos de cinema, até para não "pisarem em ovos" com a nova censura ou ditadura do pensamento via hegemonia cultural da "esquerda" burguesa, fazem malabarismos em suas retóricas evitando qualquer crítica mais contundente sobre isso e suas consequências negativas, o povão, você e eu, por termos uma maior liberdade para criticar obras artísticas, quando vemos um filme ruim em que a propaganda política supera e se sobressai à sua qualidade intrínseca, não nos inibimos de criticar o que estamos vendo, de agir tal como o menino que aponta para o rei nu, naquele conto de fantasia. E quando vemos um filme que é mais do tipo que entretém do que "educa" (ou doutrina), não julgamos com esse preconceito de considerar qualquer filme comercial ou convencional como de baixa qualidade.

Não que um filme não tenha mérito por abordar temas políticos ou de grupos social ou historicamente marginalizados, mas que o faça de maneira doutrinária, com base em distorções de fatos, focando mais na "mensagem" e/ou na "representatividade", do que na qualidade da atuação, da direção e do enredo.

4 comentários:

  1. Excelente texto! Tenho uma opinião congruente com a sua. Infelizmente a doutrinação política e religiosa faz com que os críticos e também as pessoas avaliem positivamente ou negativamente algo sem considerar aspectos fundamentais para uma avaliação isenta e criteriosa. Isso vale para qualquer tipo de avaliação inclusive a de expressões artísticas. O pior são os agumentos utilizados para justificar as avaliações para que estas se pareçam criteriosas e isentas quando na verdade não passam de um reflexo de mentes viciadas e cegas pelas ideologias.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ótimo comentário, Rafa! Pois se for só para dar pitaco, não precisaria de se especializarem, né?? 
      Infelizmente, parece que a maioria da crítica de arte especializada, aqui no Brasil e fora, está ideologicamente viciada e claramente para um lado do espectro político. 

      Excluir
  2. Obrigado! Exato! Como diria aquela velha máxima, que de tão desgastada já virou "mínima"...rs: a "opinião é que nem bunda, cada um tem a sua", devemos respeitar as opiniões. Porém, o que difere uma avaliação criteriosa e lúcida própria de um especialista em um assunto é a insenção, a autoridade de alguém que estuda sobre algo e a pureza da avaliação racional e técnica, produto de uma mente que percorreu um longo caminho de reflexões e avaliações nada superficiais sobre um determinado referente. Como este caminho há pouca gente disposta a percorrer por conta da disponibilidade ou afinidade em se aprofundar deveria ser o papel destes avaliadores que trariam mais do que opiniões...mas informações isentas acerca de um determinado referente. Valeu Santo Oculto!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo totalmente!! Obrigado pelo comentário e sinta-se à vontade para comentar por aqui. Um abraço!

      Excluir