domingo, 27 de agosto de 2023

Analisando criticamente as 5 leis da estupidez humana

De Carlo Cipolla (1922-2000), professor de história econômica que lecionou nas universidades de Pavia e Berkeley e publicou trabalhos acadêmicos particularmente sobre a superpopulação humana ao longo da história. Sua "teoria da estupidez" foi construída com base em 5 leis fundamentais. Irei, aqui, analisar cada uma, como proposto no título. 

 As 5 leis fundamentais da estupidez humana 

 1. Sempre e, inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo. ''Não importa quantos idiotas você suspeite estar cercado, escreveu Cipolla, você invariavelmente está diminuindo o total. Esse problema é agravado por suposições tendenciosas de que certas pessoas são inteligentes com base em fatores superficiais como seu trabalho, nível educacional ou outras características que acreditamos serem exclusivas da estupidez. Eles não são. O que nos leva a:'' 

 Minha opinião: 

 Pode ser verdade que subestimamos o número de indivíduos "estúpidos", mas não é um fatalismo intransponível, porque podemos aprender a tecer estimativas mais próximas da realidade. 

 Outro problema é essa narrativa adotada no texto, em que o autor parece presumir que ele e os seus leitores definitivamente não se encaixam em nenhum grau de "estupidez" aparente, que apenas os outros podem ser idiotas, tal como se fossem observadores passivos da estupidez ativa alheia. No entanto, é praticamente certo que todos nós somos pelo menos um pouco idiotas e que os menos idiotas são justamente aqueles que, primeiro de tudo, aprendem a reconhecer suas próprias limitações para, então, buscar melhorar no que apresentam verdadeiro potencial. 

 Cipolla está certo ao afirmar que nível educacional ou tipo de ocupação não determinam _em absoluto_ o quão (racionalmente) inteligente um indivíduo humano pode ser ou estar e que essa é uma maneira de subestimar a estupidez humana. 

 2. A probabilidade de que uma determinada pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica da mesma pessoa.

 ''Cipolla postula que a estupidez é uma variável que permanece constante em todas as populações. Cada categoria que se possa imaginar – gênero, raça, nacionalidade, nível educacional, renda – possui uma porcentagem fixa de pessoas estúpidas. Existem professores universitários estúpidos. Há pessoas estúpidas em Davos e na Assembleia Geral da ONU. Existem pessoas estúpidas em todas as nações do mundo. Quantos são os estúpidos entre nós? É impossível dizer. E qualquer palpite quase certamente violaria a primeira lei, de qualquer maneira.'' 

 Meus 3 cents: 

 Será mesmo que a estupidez, que parece ter sido definida como irracionalidade pelo Cipolla, se manifesta sempre de maneira separada de qualquer outra característica?? 

 Pois se é verdade que existe uma grande diversidade de pessoas muito irracionais ou estúpidas, também parece verdadeiro que o grau de independência de uma característica qualquer e do estado corrente de estupidez de uma pessoa tende a variar individualmente, sendo dependente de contexto pessoal em que, uma característica, mesmo se não tem qualquer grau relativo com a irracionalidade, pode servir como suporte ou meio catalisador de comportamentos estúpidos específicos, se em eventos isolados ou como um padrão disfuncional. Isso também nos leva à conclusão de que existem características ou traços que estão mais intimamente relacionados, se não expressivos, de uma maior estupidez irracional, do que outros. Por exemplo, a altura de uma pessoa, que, a priori, não tem qualquer relação com o seu nível de racionalidade, em contraste com os seus posicionamentos político-ideológicos que estão diretamente relacionados, se são resultados do mesmo. 

 Eu acho extraordinária a afirmação do Cipolla, de que existe uma constância universal da estupidez, ou irracionalidade, em grupos humanos e que, portanto, requer evidências extraordinárias. Por enquanto, as evidências legítimas que podemos compilar corroboram para o oposto desta afirmação, de que não existe essa "porcentagem fixa" de (mais) "estúpidos". Apenas um exemplo, de dois grupos, o primeiro de cientistas altamente renomados e o segundo de religiosos fundamentalistas. Então, parece um absurdo afirmar que o nível de estupidez ou irracionalidade desses dois grupos seja exatamente o mesmo apenas porque os estúpidos podem ser encontrados em qualquer lugar... 

 Quantos são os "estúpidos" entre nós?? Impossível dizer?? 

 3. Uma pessoa estúpida é aquela que causa dano a outra pessoa ou grupo sem, ao mesmo tempo, obter um benefício para si mesmo ou mesmo causar prejuízo. 

 ''Cipolla chamou isso de Lei de Ouro da estupidez. Uma pessoa estúpida, segundo o economista, é aquela que causa problemas para os outros sem nenhum benefício claro para si. ''Essa lei também introduz três outros fenótipos que Cipolla diz coexistirem com a estupidez. Primeiro, há a pessoa inteligente, cujas ações beneficiam a si mesma e aos outros. Depois, há o bandido, que se beneficia às custas dos outros. E, por último, há a pessoa desamparada, cujas ações enriquecem os outros às suas próprias custas. Os não-estúpidos são um bando defeituoso e inconsistente. Às vezes agimos de forma inteligente, às vezes somos bandidos egoístas, às vezes agimos desamparadamente e somos explorados pelos outros, e às vezes somos um pouco dos dois. Os estúpidos, em comparação, são modelos de consistência, agindo o tempo todo com uma idiotice inflexível. No entanto, a estupidez consistente é a única coisa consistente sobre o estúpido. É isso que torna as pessoas estúpidas tão perigosas.'' 

 Minha análise: 

 A definição dele de estupidez é boa, mas, para mim, ainda soa muito vaga e simplista, como se a estupidez estivesse circunscrita a apenas um tipo. Por exemplo, a partir dos próprios fenótipos que o Cipolla pensou, o "bandido" e o "ingênuo", também poderiam ser considerados como tipos de estúpidos. Mesmo o "bandido", porque sua capacidade de conseguir benefícios para si próprio às custas dos outros pode e costuma ter consequências negativas de impacto mais amplo, isto é, mesmo que seja beneficiado, individualmente, pode prejudicar o coletivo. Bem, a história humana nos mostra bem isso, em como que indivíduos mais mal intencionados do que "puramente estúpidos" e em posição de poder podem causar grandes prejuízos a uma comunidade, sociedade ou civilização. 

 4. Pessoas não-estúpidas sempre subestimam o potencial prejudicial de pessoas estúpidas. ''Subestimamos o estúpido e o fazemos por nossa própria conta e risco. Isso nos leva à quinta e última lei:'' 

 Meu achismo: 

 Acho que estar _sempre_ subestimando o potencial de prejuízo das pessoas "mais estúpidas" é... estúpido. Também parece ser estúpido fazer esse tipo de afirmação extraordinária, afinal, é pouco provável que essa tendência seja absoluta entre os "não-estúpidos", ou melhor, "menos estúpidos". 

 5. A pessoa estúpida é a pessoa mais perigosa que existe. 

 ''E seu corolário: Uma pessoa estúpida é mais perigosa que um bandido. Não podemos fazer nada sobre os estúpidos. A diferença entre as sociedades que desmoronam sob o peso de seus cidadãos estúpidos e aquelas que os transcendem é a composição dos não estúpidos. Aqueles que progridem apesar de seus estúpidos possuem uma alta proporção de pessoas agindo de forma inteligente, aqueles que contrabalançam as perdas dos estúpidos trazendo ganhos para si e para seus semelhantes. As sociedades decadentes têm a mesma porcentagem de pessoas estúpidas que as bem-sucedidas. Mas eles também têm altas porcentagens de pessoas indefesas e, escreve Cipolla, “uma proliferação alarmante de bandidos com conotações de estupidez”. “Essa mudança na composição da população não-estúpida inevitavelmente fortalece o poder destrutivo da fração [estúpida] e torna o declínio uma certeza”, conclui Cipolla. “E o país vai para o Inferno.” 

 Minha problematização:

 Ok. Mas não são os "bandidos" que têm corrompido as sociedades humanas desde sempre e não apenas ou primariamente os ditos "estúpidos"?? Por acaso, aqueles que usam suas inteligências para fazer mal aos outros ou, sem se importarem com as consequências dos seus atos, são menos perigosos que aqueles que têm pouca compreensão do que fazem?? Sem falar que os "estúpidos", assim como os "ingênuos" e até mesmo a maioria dos "inteligentes", tendem a ser usados como "massas de manobra" por "bandidos" que, diga-se de passagem, abundam em ambientes de poder. 

 Como assim não é possível fazer nada em relação aos (mais) estúpidos?? Bem, em uma sociedade tomada por um regime democracista***, em que "a voz do povo é a voz de Deus", talvez seja impossível mesmo. *** meu texto: "democracismo", uma versão deturpada de regime democrático. 

 Conclusão: A teoria da estupidez humana de Carlo Cipolla, na minha opinião, baseada no que observei e concluí por suas leis, apesar de nos prover uma leitura interessante, ainda mais por causa do tema, tão polemizado em tempos de "politicamente correto", apresenta alguns pontos discutíveis que merecem maior destaque por parecer que foram baseados em opiniões pessoais do autor, incluindo também os conceitos desenvolvidos por ele, que, para mim, são demasiado simplistas. 

 Trechos traduzidos e retirados do texto no link: https://qz.com/967554/the-five-universal-laws-of-human-stupidity

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