segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Lições do filme "Midsommar" sobre doutrinação e cultura

 Pequeno texto recheado de "spoilers"


O filme de terror Midsommar, do diretor Ari Aster, um dos mais aclamados de 2019, buscou mostrar que é possível um filme do gênero causar medo à luz do dia, sem ter a escuridão da noite como elemento catalisador. Sua história se centraliza na situação delicada da protagonista, Dani, que acabou de perder de forma trágica seus pais e sua irmã, e acaba sendo convidada, sem querer, para uma viagem à Suécia com o namorado e amigos dele, vacilante de continuar seu relacionamento com ela. Mas, ao invés da capital, Estocolmo, eles seguem em direção a uma comunidade alternativa no interior do país em que, durante uma de suas cerimônias mais importantes, demonstra tratar-se de um culto macabro que pratica sacrifícios humanos, incluindo visitantes. 

Mas o mais interessante do filme, para mim, é que mostra como funciona um culto, especialmente pelo uso de chantagem emocional: de rituais de socialização que visam reforçar o elo coletivo e o recrutamento de pessoas em situação de vulnerabilidade, por exemplo, as que se encontram em um estado de solidão ou tristeza profunda, como a protagonista. O filme também mostra como o fanatismo ideológico, induzido por técnicas constantes de condicionamento social, dessensibilizam indivíduos, especialmente os mais suscetíveis, manipulando-os a aceitar práticas cruéis como "parte da cultura". 

Também é revelador a cena final em que, um dos jovens membros da comunidade, condicionado a se sacrificar com outros homens dentro de uma igreja de madeira, especialmente construída para ser queimada junto com os escolhidos para morrer, desperta de seu transe e começa a gritar de desespero quando as chamas passam a queimar o seu corpo. Pois essa cena em particular se refere ao despertar, vezes tardio, de indivíduos ideologicamente doutrinados. 

Então, a conclusão que eu cheguei após assistir esse filme é que aquela comunidade fictícia não representa apenas cultos praticados em comunidades isoladas e pequenas, mas também qualquer cultura ou ideologia humanas, atuais e extintas, porque todas apresentam características idênticas aos cultos, principalmente a doutrinação por mitos, ou por pensamento mágico, e a normalização cultural ou dessensibilização de práticas de crueldade...

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