sábado, 10 de setembro de 2022

Sobre "neolamarckismo" e "lamarckxismo"

 Neolamarckismo: aparente tentativa de reavivar e legitimar uma hipótese evolutiva notoriamente defendida por Jean Baptiste de Lamarck, Lamarckismo, há muito desacreditada pela teoria da seleção natural, ou "Darwinismo", que foi paralelamente desenvolvida por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace.


"Lamarckxismo" ou lamarckismo de esquerda: termo satírico que eu inventei e que se consiste na combinação da crença na tábula rasa com a realidade da luta de classes e, então, na busca por igualdade ou justiça social com base na primeira; teimosamente popular entre professores e acadêmicos das ciências humanas.

Tábula rasa: (quase) todo ser humano nasce, tal como uma folha de papel em branco. Apenas ou especialmente as condições do meio (desigualdades socioeconômicas, raciais, de gênero; nível de educação recebido, tipo de criação dada pelos pais) que são responsáveis pelas diferenças de desempenho intelectual e de comportamento entre indivíduos e grupos humanos;

Lamarckismo: a evolução das espécies acontece pela transmissão de características adquiridas por esforço repetitivo; 

"Marxismo": a história humana tem girado em torno da luta de classes em que, as classes mais abastadas, principalmente as "elites" político-econômicas, exploram economicamente as outras classes para o próprio benefício.

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Portanto, acredita-se que, bastaria investir na melhoria dessas condições que essas diferenças, a médio e longo prazo, diminuiriam de maneira significativa ou mesmo desapareceriam por completo. Por exemplo, se, em média, indivíduos das classes trabalhadoras apresentam desempenho intelectual inferior aos indivíduos de classe média, é porque não tiveram igual acesso a uma "educação de qualidade" durante o período escolar, resultando na especialização da maioria desses indivíduos, do primeiro grupo, em trabalhos manuais ou de "baixa qualificação". Então, é preciso oferecer, particularmente aos seus filhos ou às novas gerações, uma "educação de qualidade" para que possam se tornar "tão ou mais 'inteligentes" que os jovens de classe média (lei do uso e do desuso/lamarckismo), aptos a ingressar no ensino superior e, assim, exercer profissões de "maior prestígio", que pagam mais, diminuindo a desigualdade social.* 

* Aqui, como eu já comentei em outros textos, despreza-se que, o mais importante ainda não é que "apenas' uma minoria tenha acesso ao ensino superior, mas que a maioria exerça profissões que paguem tão pouco, ou que existam diferenças salariais tão grandes, até porque, toda sociedade precisa de indivíduos que se dediquem à profissões de "colarinho branco" e também que, mesmo se todos pudessem frequentar uma universidade pública, continuariam existindo os que acabariam se especializando em funções mais básicas, que não exigem uma maior qualificação técnica.

Realidade: 

Um dos mecanismos mais importantes para a evolução das espécies é a seleção natural, de características favoráveis à adaptação. Outros fatores são: deriva genética, que pode resultar em gargalo ou efeito fundador; isolamento geográfico... portanto, a hipótese lamarckista, de que a evolução das espécies acontece fundamentalmente por transmissão de características adquiridas por esforço repetitivo, não parece correta;

Seres humanos não nascem como folhas de papel em branco, totalmente destituídos de predisposições comportamentais. É a biologia que tem um papel mais decisivo, por mais extremas possam ser as condições do meio (uma folha não é levada pelo vento apenas pela força do mesmo, mas também por causa do seu nível de leveza).

Portanto, se indivíduos de classe trabalhadora tendem a apresentar um desempenho intelectual inferior aos de classes média é pelo simples fato de terem, em média, capacidades cognitivas comparativamente mais baixas, e não porque a maioria estudou em escola pública ou não teve acesso a uma "melhor educação". A priori, a única maneira de se igualar desempenhos entre as duas classes seria se os indivíduos mais academicamente inteligentes de classe trabalhadora produzissem mais descendentes que aqueles de menor capacidade do mesmo grupo ou que acontecesse o padrão oposto com os indivíduos de classe média. Desprezando que, muitos dos "mais inteligentes" de origem humilde ascendem socialmente. Sim, eles existem, mesmo sem terem tido acesso a uma "educação de qualidade", seja lá o que isso signifique... 

Pode ser que, altos índices de pobreza extrema causem efeitos intergeracionais--epigenéticos, por exemplo, prejudicando o crescimento ideal dos cérebros dos indivíduos mais afetados. Mas em vários lugares onde a fome deixou de ser endêmica ou epidêmica, percebe-se que não tem havido um ajuste significativo dessas diferenças entre grupos socioeconômicos, raciais ou de gênero, comprovadamente causado pela melhoria das condições sociais, por exemplo, nos EUA, sugerindo que a biologia tem um papel mais decisivo que o meio, mas não absoluto, pelo menos em relação à inteligência humana. Nem por isso, deve-se suspender o apoio à luta contra as desigualdades que causam injustiças sociais...

Pois até parece que as esquerdas usam sua crença na tábula rasa, de que "somos todos naturalmente iguais", como principal argumento em seu combate às desigualdades. Mas eu penso que deveriam adotar o argumento existencialista, de que somos todos iguais, em essência, por nossa fragilidade, finitude e insignificância em comum, diante da monstruosidade descomunal e indiferente do universo. Sem mais se iludirem de que nossas diferenças não-essenciais seriam facilmente erradicáveis. Em outras palavras, de terem como base em suas políticas, verdades absolutas, e não mentiras reconfortantes que se alinham com algumas de suas crenças ideológicas mais importantes.

É verdade que o monopólio administrativo de "elites" político-econômicas mal intencionadas, principalmente as de direita, tem resultado na distribuição desigual das riquezas produzidas, dentre outros crimes... Mas a pobreza também é produto de uma incapacidade individual de adaptação a certos contextos, especialmente de indivíduos que apresentam traços considerados desvantajosos, tal como uma baixa capacidade cognitiva.

Apenas o "marxismo", vagamente definido neste texto como "luta por justiça social", que está mais certo, por ser o básico bom senso de se buscar por uma sociedade mais equilibrada e justa...

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