sexta-feira, 15 de julho de 2022

Segundo um ponto de vista verdadeiramente filosófico, quem está mais certo sobre o aborto e/ou direitos reprodutivos da mulher, esquerda ou direita??

 A polarização ideológica não é apenas uma divisão da sociedade em grupos com posicionamentos políticos e/ou morais predominantemente opostos que disputam por sua hegemonia, mas também com um predomínio de posicionamentos ou opiniões simplistas e extremistas, independente do quão primariamente certas possam estar. Pois em muitos tópicos de discussão acalorada, é perceptível esse padrão de simplificação e de radicalização não-ponderada de posicionamentos por ambos os lados. Esse é o caso dos direitos reprodutivos da mulher, particularmente o aborto, se, de um lado, da direita conservadora, sua possibilidade é condenada, principalmente por razões reprodutivo-religiosas e, do outro lado, da esquerda progressista, sua possibilidade é totalmente defendida, por se acreditar que a mulher precisa ter poder de decisão sobre o seu próprio corpo.


Mas qual delas que está mais certa?? 

Vou analisar e julgar a partir de um ponto de vista verdadeiramente filosófico, que busca ser o mais ponderado, sensato e justo possível. 

A princípio, o aborto é uma prática radical que, idealmente, só deveria ser administrada nos casos mais graves: gravidez por estupro, que põe em risco a vida da mulher ou em situação de pobreza absoluta...

O aborto também é uma prática paliativa, de quando falham todas as tentativas ou possibilidades de se evitar uma gravidez indesejada. 

Além disso, sua legalização absoluta está associada a um elevado risco de banalização da prática, tal como acontece em alguns países em que existe uma maior liberdade para abortar. 

Pois um dos resultados mais lamentáveis de sua banalização tem sido o que resolvi chamar de "eugenia de mercado", em que casais optam pelo aborto do feto quando descobrem que ele apresenta anomalias detectáveis, particularmente a Síndrome de Down.

"Alguns pontos" a favor dos conservadores, porque, mesmo se, nas primeiras semanas, o feto ainda não pode ser considerado vida, na maior parte da gestação já se constitui como tal. 



Mas também é muito justo que a mulher tenha liberdade sobre o seu próprio corpo.

Portanto, por essa perspectiva de direitos individuais, aqueles que estão mais favoráveis ao aborto, quase sempre de progressistas, estão bem mais certos do que aqueles que defendem por sua limitação ou proibição. 

Como conclusão, mesmo que seja totalmente justo que a mulher tenha direito à autonomia sobre o seu corpo, ela precisa exercê-la com responsabilidade, porque, do contrário, isso deixa de ser liberdade. Ela precisa se conscientizar que, quando engravida e o feto já se constitui como vida senciente, ela também passa a ter responsabilidade por outro corpo, além do seu.

O aborto deve ser legalizado, mas não deve ser incentivado, por se consistir em uma medida paliativa e radical. Por isso que, em um cenário de liberalização, é racionalmente necessário investir no incentivo à medidas preventivas ou contraceptivas e na educação sexual. 

Essa pode não ser a resposta mais eficiente para prevenir, tanto o aborto quanto a gravidez indesejada, mas é a que consegue preservar os direitos reprodutivos da mulher e sem romantizar tal prática, enfatizando sua natureza extrema e evitável.

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