É comum de se apontar para o comportamento colaborativo da maioria do povo alemão ao regime nazista, na década de 1930, como uma evidência de que todos nós estamos igualmente vulneráveis a, pelo menos, nos conformar com governos ou indivíduos mal intencionados. No entanto, olhando mais de perto, podemos perceber que, pessoas diferentes, em situações diferentes, tendem a ter comportamentos diferentes mesmo se, por uma perspectiva mais panorâmica possa parecer que estejam se comportando de maneira parecida. Pois desprezando indivíduos que, dentro da Alemanha, se opuseram com excepcional valentia ao nazismo e que foram vítimas desproporcionais de sua crueldade, e também aqueles que foram colaboradores ativos, chegando a atuar como autores pessoais de crimes contra dissidentes, mesmo a maioria dos alemães que atuaram como colaboradores passivos, existiram diferenças de postura que precisam ser comentadas, e que costumam acontecer em qualquer contexto similar. São elas, a conivência, a indiferença e a impotência.
terça-feira, 7 de junho de 2022
A diferença entre conivência, indiferença e impotência
A primeira consiste no apoio a algo, no caso, ao regime nazista, quer seja por relativa ignorância ou por conhecimento do que está defendendo. Foram muitos os alemães que apoiaram a máfia hitlerista e nem por isso eles são totalmente perdoáveis ou moralmente justificáveis, já que mesmo no caso de uma "lavagem cerebral", o indivíduo nunca é convencido por uma narrativa sem que concorde com ela em alguma coisa, inclusive com alguns de seus aspectos mais controversos.
A segunda consiste em se estar indiferente ao que está acontecendo e, portanto, muito mais propenso a seguir o fluxo do que de ir contra a maré. Mas estar conivente ou indiferente não são posturas muito distintas, ainda mais em um contexto hegemônico de crueldade. Pois alguém que está conivente, porém por ignorância predominante, é um pouco mais perdoável, porque a indiferença também tende a significar uma maior compreensão do que está acontecendo ou de se não importar com o que acontece, enquanto que o ignorante ou alienado pode estar bem intencionado.
A terceira é a mais interessante porque é provável que muitos daqueles que detectam um governo cruel e se opõem a ele acabam caindo nessa categoria de postura, de se perceberem impotentes, especialmente quando calculam perdas e ganhos e concluem que, além de estarem muito mais sujeitos a perder do que a ganhar, suas ações individuais de oposição explícita é pouco provável que terão grande repercussão ou influência concreta, "optando" por essa posição que tende a ser externamente cômoda, mas internamente muito incômoda.
É muito fácil para nós, vivendo em sociedades variável a parcialmente democráticas, acusar de covardia ou conivência todos aqueles que vivem em ditaduras e que aparentam se conformar com as mesmas. Só que, se estivéssemos na mesma situação, a maioria acabaria se vendo numa posição de impotência e forçada a se conformar, mesmo que isso não seja o mesmo que apoiar ou colaborar ativamente.
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