segunda-feira, 28 de outubro de 2019

As origens do ''pobre''

As origens do ''pobre''

A Finlândia já foi terra pobre, de emigração. Tem um punhado de finlandeses e descendentes vivendo na Suécia, pra você ver. Então, investiram no povo, na educação, e o resultado tem sido espetacular. Mas, ainda continua tendo gente que ganha menos, que está em profissões que exigem mais do esforço manual do que do intelectual. Como explicar a persistência de desigualdades em uma sociedade tão igualitária?? Se eu falar "genética", levarei umas boas pedradas. Mas é basicamente isso. As escolas são quase todas públicas. As condições são iguais. A esmagadora maioria dos finlandeses se beneficiaram com esse desenvolvimento que o país vivenciou. Mas, continua tendo gente que não é capaz de cursar ensino superior, pensar mais densamente, trabalhar em profissões intelectualmente exigentes, por mais que o currículo escolar seja o mesmo e os professores se esforcem em não deixar ninguém pra trás.

 Parece necessário dizer isso: não somos absolutamente iguais. Nos diferimos em personalidade e também na inteligência. É verdade, que num ambiente muito pobre ou precário, o potencial de desenvolvimento do indivíduo se encontrará seriamente afetado. Mas isso não mais acontece na Finlândia. E, como podemos perceber com facilidade, esse potencial de desenvolvimento intelectual varia. Não é crime ou pecado, ser mediano, ou ter capacidades  cognitivas mais simples. Sou contra chamar quem é assim de ''burro'' ou ''estúpido''. É um processo difícil reaprender a pensar sem usar ofensas, já que são tão úteis em momentos de raiva ou confrontação com pessoas que pensam muito diferente e vezes mais errado que a gente.

A história humana, das comunidades primárias até às sociedades complexas, nos ajuda a entender porque, mesmo em paraísos igualitários como a Finlândia,  ainda continuarão a existir pessoas com capacidade mais simples trabalhando em profissões equivalentes, ou, uma diversidade mais natural de intelectos, tanto no tipo quanto no tamanho de complexidade que consegue armazenar, reproduzir e criar.

Cognitivamente simples ou mais adaptados a ambientes humanos primários [ comunidades tradicionais/caçadores-coletores e agriculturalistas]

O Brasil, por exemplo, em relação ao êxodo rural que tem vivenciado, especialmente a partir dos anos 50. Muitos moradores das áreas rurais foram sendo expulsos para as margens das médias e grandes cidades. Têm os que se adaptaram à roupagem cultural moderna e diversa da cidade. Outros permaneceram fiéis aos velhos modos. Existem fortes ligações entre o campo e as periferias. Mesmo assim, muitos desses humildes, das classes trabalhadoras, inclusive os importados da Europa e outras regiões, são, cognitivamente falando, criaturas do campo, que se adaptaram à profissões urbanas, mais parecidas com os afazeres rurais tradicionais.

Quando a humanidade, ou parte dela, começou a se sedentarizar, com a descoberta da agricultura e/ou domesticação de plantas e animais não-humanos, as antigas comunidades primárias, parcamente povoadas, foram se aglomerando, dando lugar à cidades. Novas profissões ou especializações foram aparecendo para atender às novas demandas. É ingenuidade ou ignorância  pensar que essas mudanças não foram acompanhadas por alterações na genética da população. O aparecimento das civilizações também foi marcado por uma guinada na hierarquização social e/ou das desigualdades sociais.. Um dos mecanismos fundadores dessas desigualdades é o surgimento gradual de castas de profissão e/ou classe social, parecido com o que tem na Índia. Pessoas das mesmas castas de profissões se casando mais entre si ou homogamia social, criando novos nichos ocupacionais e fenotípicos e acumulando heranças familiares desiguais. As populações basais humanas, dos primeiros núcleos comunitários, foram mantidas, segregadas, ''úteis'' no trabalho pesado ou servil, e recebendo menos por causa do valor ''calculado'' pras suas profissões, sem falar dos escravizados.

O "pobre" veio daí.

Pense num índio recém-saído de sua tribo quase-intocada que é colocado no meio de uma cidade grande. Como que ele se adaptaria a esse novo ambiente??

Vale dizer que não é todo aquele que nasce numa classe social trabalhadora que apresentará uma inteligência restritamente adaptada a ambientes [atividades] cognitivamente simples, que demandam mais força física, porque mutações que ampliam a complexidade da mente, quanto às capacidades de abstração, têm aparecido em todas as classes, mais em umas do que em outras.

Não tenho com isso a intenção de decretar um fatalismo, que, então, devemos esquecer todas as medidas sociais que pedimos inutilmente aos pseudo-governos do nosso pobre e rico país, ou justificar desigualdades, mas sim, de entendê-las, antes de buscarmos pelos antídotos mais eficazes em seu combate. É sempre bom, pela sabedoria, não nos deixarmos engolfar por nobres sentimentos mal alocados no processo de raciocínio, pois resultam no abraço de factoides que, apesar de bem intencionados, podem gerar

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