Toda manhã eu acordo animado, por minha alma,
Por mim mesmo, pelo dia que raiou, pelos sons que me acordaram,
Por minha vida que me espera, com o rabo entre as pernas,
Pelo ar que me rodeia, pelas sensações que me anseiam,
Pela preguiça que me sustenta, pelo espreguiçar, que me lembra,
Que voltará a dormir, que voltará a descansar, a sonhar, ou apenas ir,
Eu, animado pela alma, como uma pedra que pula sozinha, sem ajuda do vento, sem ajuda minha,
Como uma folha que baila, em suas pernas verdes, em sua capa, com clorofila, que se embala, como se embala uma filha,
Eu, animado pela manhã, pelo humor do dia, que um dia ou outro me contamina,
Triste, nublada, com semblante carregado,
Feliz, ensolarada, quentinha ou tórrida, se já for o verão apressado,
Animado, talvez sem querer, se o verdadeiro desejo nunca podemos ter,
Estudando falas, errando, tocando, sentindo mil coisas, e descrevendo apenas uma, que nunca, é apenas uma,
Eu, em um roteiro, em uma rotina, que se repete, que nunca volta, porque o tempo nunca volta, porque a viagem nunca para, nunca descansa,
Eu, animado pela alma, sorrio, ou só rios, em lágrimas, que escorrem mais dentro do que fora, subterrâneas, se entornam, se enxugam, carregam,
E por fora, eu, animado pela alma, me divirto, me contradigo, me comunico, o que preciso sentir, o que preciso preencher,
Sem o instinto, ou, sem muito dele,
A vida precisa aprender, como se encher, para preencher o vazio,
O vazio que é viver,
O vazio que é, nunca saber,
O vazio que é, viver, ser, sem saber o porquê,
É como agir sem saber o que está fazendo,
É como girar, sem saber que está girando,
Por isso que, o amor e o sexo,
Os dois, são fortes, são santos simples, não são terços ou deuses complexos,
São eles que [também] devem preencher este vazio,
Mais que o ódio, mais que o brilho,
Se o que deve mais ser, é o sentir,
Mais as boas sensações, as emoções do corpo,
Mais os toques, os carinhos, os beijinhos doces,
Eu, animado pela alma,
Eu, que sou a minha alma,
Animado ou vivo,
Eu, que apenas vivo,
Eu, que preencho o tempo com o meu vazio,
Que o imenso nunca é, e nunca será, totalmente preenchido...
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