domingo, 11 de junho de 2017

O lado bom do preconceito

Surpreendente autoconhecimento forçado 

Hoje em dia a palavra preconceito foi alçada ao posto de mais novo pecado capital graças ao (((politicamente correto))). No entanto eu já comentei que o termo pré conceito pode ser efetuado tanto para o pré conhecimento/julgamento negativo quanto para o positivo. Isto é, que nós podemos pré julgar alguém tanto de maneira positiva, elogiando-o ou criticando-o, sem de fato, conhece-lo. 

Se tornou claro pra mim que também temos os nossos auto preconceitos [cognitivos], isto é, também tendemos a nos pré julgar, geralmente de maneira mais positiva do que negativa, e tendo como resultado em "racionalizações" de qualidade racional variada e portanto com maior aleatoriedade de erros e acertos nesses auto julgamentos. Geralmente exacerbamos as nossas qualidades em relação aos nossos defeitos. Logo tenderemos a bloquear ou no mínimo, a acharmos suspeito, a maioria das críticas oriundas de outras pessoas. Se todos nós fôssemos comportamentalmente e intelectualmente perfeccionistas de fato estaríamos mais certos com esta tomada comum de (auto) conduta [auto pré conceito predominantemente positivo] do que equivocados. O problema é que a maioria não é perfeccionista no comportamento interpessoal nem no intelectual e claro porque já começam errando consigo mesmos isto é em relação aos seus comportamentos intrapessoais, a serem auto-negligentes. Já se sabe que é mais fácil julgar o outro e mesmo de maneira minimamente correta do que a si mesmo. Mais fácil apontar o dedo julgador para o outro do que pra si mesmo. Então quando é o outro que o faz em relação a nós, talvez devêssemos prestar maior atenção ao invés de ligar o piloto emocional automático e sair disparando indignação porque quem está vendo sob uma perspectiva neutra mas ao mesmo tempo conhecedora/mais próxima, tem um ângulo melhor de visualização e também porque não está tomado pelo instinto direcionado para um certo conjunto enfatizado/teimoso de ações ideacionais e literais. 

Sim, se não fazemos/fizermos o dever de casa quanto ao autoconhecimento seremos surpreendidos com maior frequência com pré julgamentos e mesmo com julgamentos mais acurados sobre nós, realizados por outras pessoas, e sabemos o quão desagradável tende a ser este tipo de situação, quase sempre humilhante. Ainda que desagradável este é um lado "surpreendentemente' bom do ''preconceito'', especialmente aquele que, de fato, for o mais factualmente correto.


Outro fator interessante é que o preconceito muitas vezes consistirá ''apenas'' em uma abordagem empática mal-comunicada ou cruamente comunicada, por exemplo, quando o pai percebe que o filho pode estar indo para um caminho que considera polemicamente qualitativo e tenta persuadi-lo ou comunicar-lhe a sua desaprovação. Em outras palavras, quando o zelo pelo outro, pensando em sua melhoria, se dá de maneira abrupta. Este parece ter sido o caso de Schoppenhauer em seu famoso texto sobre as mulheres. Não é que ele as odiava, pura e simplesmente, mas que, ao observá-las sob uma lente mais honesta, sincera e focada em seus defeitos, buscou com isso condená-los, e não necessariamente ''a'' mulher em si mesma. 

Quem ama, ou quem se preocupa, muitas vezes, demonstrará o seu zelo de maneira crua e poderá ser identificada como ''ódio'' ou ''inveja'' ou ''mal agouro'', e na verdade é apenas uma maneira de se preocupar por aquele que sente ou sentiu afeição empática. O sentimento foi nobre, mas a ação foi ignóbil. 

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