quarta-feira, 28 de junho de 2017

Jabuticabas e o parquinho do tempo

De tempos em tempos,
O tempo voa,
Nos leva junto,
Nos desgarra da terra, das sensações do presente, 
Porque está sempre ele, logo em frente, 
E crescemos, 
E sabemos que crescemos,
E algumas vezes, paramos pra ver onde estamos,
De onde viemos, 
Pra onde vamos, 
No vão do tempo, 
Somos puxados, sem reclamar, sem rebeldia,
Não tem como, se os pés, se a alma, se tudo gira, se tudo é levado, se somos os nossos próprios relógios, 
Nossas areias que voam, que sopram, que sussurram, que se perdem na imensidão, 
Que o coelho sempre mostra,
Sempre nos alerta, 
Que o tempo urge, que o tempo passa, 
E sempre passará, 
E somos passados, se nos acumulamos de passados, de lembranças, de vida,
Enquanto morremos, enquanto a sorte nos leva,
Voltando um pouco, alguns anos atrás, 
Quando eu era, um pequeno rebento, um pequeno frasco do tempo, 
E rebentava no balanço, tão tarde e quente de infância, 
Com os meus amigos, meus perfeitos anônimos, desconhecidos, Risos, suores, energia, jabuticabas a perder de vista, um chão de terra inteirinho delas, 
A dor de barriga, esperada, prevista, mas tão adorada, 
Tempinho sem medos, sem fronteiras, tateando o mundo, ainda alma, antes da automação, antes de nos tornamos mais robôs, mais artificiais, mais ritualizados, mais enjoados das pequenas coisas, 
Se muitos crescem e essas pequenas coisas ficam minúsculas, desprezíveis,
Se na vida adulta não aprendemos com a infância,
Aquilo que ela tem para nos ensinar,
Se sãos, os poucos que a levam consigo,
Com o tempo, que nos entrega sozinhos,
Ao soluço da vida, ao mistério, aos cestos cheios de porquês, e vazios de substância,
As jabuticabas, doce como a infância, como as suaves montanhas,
Mesmo o seu sabor, mesmo a sua lembrança, 
Mesmo o mesmo, sem ter um simples porque,
Sem ter uma simples explicação,
A vida, a existência inteira, 
De se vivê-la e sem esperar um motivo, a não ser de si mesma,
Em si mesma, tentando esconder da escuridão,
Tentando manter a chama acesa, quentinha,
Tentando manter a criança, que um dia fomos,
Tentando, e assim se define o ato de viver,
Tentar,
E não se deixar cair na tentação, de parar, 
De esperar a morte chegar, ou de buscar por ela, 
Se é tão fácil achá-la,
Se também é fácil viver,
Se deveria ser, sendo sábio,
Carregando as pequenas coisas consigo, 
Nunca se esquecendo do chão, das bases da vida,
Do solo de sanidade, 
De jabuticabas, de risos, de balanços, de infâncias, de lembranças, de saudades...

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