sexta-feira, 17 de março de 2017

Roubamos a alma do tempo....

Tirou a minha foto, 
Nova ou velha bruxa,
Tirou-me a alma, 
Diziam os velhos índios,
Ainda dizem, suspeitos do moderno,
Sempre olhando baixo, no vazio do teto,
Admirando o eterno,
No fim que já viram,
Em seu mundo simples,
Por suas rugas tristes,

Roubamos o tempo pra nós,
Sua alma,
fotografamos, guardamos,
E ela morre conosco,
Ou renasce,


Mas a roubamos,
Isso eu sei,
Comemos o tempo,
O tragamos,
O tornamos, 
Antes, o herdamos,
Por nossos ancestrais,
E como alquimistas o guardamos,
No peito e na mente,

Nossos atos inconsequentes,
Nossas preces solenes,
Nossas incertezas perenes,

Somos cápsulas do tempo,
Somos nossas lembranças,
O roubo que não desejamos,
Mas nos viciamos,
O universo vendo a si mesmo,
Nós em frente ao espelho,
Em cada toque,
Em cada anseio,
Em cada olhar curioso e espantado,
Em cada cheiro poroso, ou mal lavado,
Em cada encanto e rubor,
Em cada canto, 
em cada dor,

Roubamos a alma do tempo,
O DNA é a sua poeira,
Como um relógio de areia,
Vive, a existência dentro de nós,
Nós, dentro da existência,
Pois a roubamos,
As usamos, 
E ela nos usa, nos abduz,
Nos serve, e se serve de nós,
Nos seduz,
E nos mata, porque a roubamos,
E morremos, porque a matamos,
de amores, de saudades, de esperanças,
Que não temos culpa,
Se somos selvagens,
Se somos inocentes,
Se ainda somos crianças,
Não pedimos nada,
Roubamos, mas sem querer,
E agora queremos, e queremos ser,
Queremos possuí-la, e à vida,
Nesse estupro, que não foi concedido,
nos induz à morte,
Nos matamos, e se temos sorte,
Nos matamos sozinhos,
Mesmo sem querer,
Nunca temos o que queremos,
Veio dado a nós, sem pedirmos,
E quando pedimos, nos é negado,
Por isso roubamos, 
Pois nascemos ladrões,
De esperança, de alegria, de um ter,
De um ser,
Mas deixamos,
Porque roubamos, usamos e morremos,
Porque nos consumimos, 
Nos tragamos, 
O tempo sempre mata,
E sua alma vive, 
O que engrandece, também envenena,
A espreita de um novo sequestro,
E nossas almas,
Nossos restos,
Quem saberá,
Dos seus destinos, de suas sortes, 
Se sabe dos seus gemidos,

É o tempo que sabe,
E nos penitencia,
Que nos comove, e que nos vicia,


Lhe roubamos, lhe maltratamos, 
Mas não nos conta,
O que será de nós,
Por que nós,
Essas nozes que temos que quebrar,
Esses limbos que temos que andar,
Mas só queríamos saber por que...
Antes de começar...

Nascemos cegos,
Não vemos o sentido da vida,
A vivemos, pelo tato,
Dedos pregos,
E quando morremos, os olhos se abrem,
A realidade se abre pra nós,
Como realmente é...

Morremos ladrões,
Sem perdão, sem reconciliação, 
Sem desculpas ou razões,
Sem lágrimas ou canções,
Apenas ladrões do tempo,
O que somos, e o que deixamos ao vento....







Nenhum comentário:

Postar um comentário