domingo, 12 de março de 2017

Lógica, racionalidade, sabedoria e o espectro da ação e reação.... Lei da proporcionalidade comportamental: Mais rápida para a lógica e mais lenta porém apurada para a sabedoria...

+ Nível de realismo

Novamente, a ideia de completude perceptiva.

A lógica parte e se finaliza quase pelo instinto, ou de maneira predominante.

Racionalidade e sabedoria principiam pelo instinto mas a partir de então continuam a pensar, e portanto a questioná-lo, se aquilo que concluiu sempre será o certo.

A lógica pouco desafia o instinto pois permanece em níveis muito similares ao dos seres vivos não-humanos, isto é, moralmente simplista ou pragmaticamente utilitário.

Ao contrário do que tem se acreditado, os seres vivos não-humanos estão muito mais atomizados da realidade do que o ser humano, ainda que evidentemente existam tipos [demograficamente predominantes) de nossa espécie que apenas repetirão a regra no reino da vida não-humana.

Atomizados por seus instintos, os seres vivos não-humanos agem com base em suas necessidades existenciais mais agudas, e portanto percebem o mundo de maneira hiper-egoísta ou hiper-centrada. Evidente que a realidade não é apenas ou especialmente aquilo que percebemos dela ou de acordo com que a interpretamos. No entanto esta é a regra quase ou absoluta do reino dos seres vivos não-humanos e também da maioria dos seres humanos. 

O instinto nos atomiza de uma compreensão mais profunda e abrangente da realidade (aquilo que se relaciona e que não se relaciona diretamente a nós) porque com ele, centralizamos as nossas percepções em nós mesmos, ao contrário da sabedoria que principia pelo ser, mas que não termina por ele. E na verdade o próprio aprofundamento na introspecção tende a mostrar-se impossível em um cenário de hegemonia instintiva no organismo ou ser vivo. 

Portanto a ideia proto-filosófico de que os seres vivos não-humanos são mais realistas que os seres humanos, a meu ver, não se sustenta, porque na verdade eles estão ainda mais atomizados do que nós, dragados por seus instintos. O que nos passa a impressão de serem mais realistas é justamente pelo fato de estarem sempre lutando diretamente por suas vidas, enquanto que a inteligência humana tem conseguido reduzir este embate direto, esta luta apressada e constante pela sobrevivência, maximizando ainda que porcamente as nossas seguranças quanto ao desafio da vida.

É interessante pensar que isso possa ser comparado ao famoso eufemismo pós-moderno e urbano que está presente no Brasil em que, é comum chamar uma mulher trabalhadora, negra ou parda, pobre e com vários problemas tradicionalmente atrelados à sua condição social, de ''guerreira''. No entanto, talvez, se ela fosse menos instintiva, como geralmente acontece nesses casos, ela não teria constituído família tão cedo em sua vida, que com certeza responde por muitos dos seus desafios diários e que por sua vez lhe faz ser chamada de ''guerreira''. Ela de fato ''se vira nos 30'', e isso é admirável. No entanto, não será ''preventivamente'' admirável, mas paliativamente falando. O mesmo acontece com os seres vivos não-humanos [e também com a maioria dos seres humanos) que ''se adaptam'' de maneira paliativa/ curto prazo, por serem mais instintivos e menos deliberados em suas capacidades analíticas.  

Muitos poderiam dizer que uma mulher urbana e ''guerreira' como esta será mais realista do que um pensador como eu. No entanto, na verdade estamos falando de níveis de auto e consciência ou conhecimento em relação ao contexto social, econômico e cultural em que se vive. Por saber que o sistema em que vivo é extremamente corrupto e injusto eu titubeio em me adaptar a ele de maneira ''normal''. Em compensação esta ''guerreira'' desde sempre aceitou as regras do sistema, mesmo à revelia, e a sua vontade instintiva, delineando as suas atitudes, a colocou em uma situação que se assemelha à regra no reino natural não-humano, de tentar sobreviver a cada dia. 

Quando o nível de atomização à realidade se reduz passamos a agir ou a buscar agir de maneira mais proporcional, ao invés de distorcida, ou que é fortemente influenciada pelo instinto. Nos tornamos mais íntimos da realidade, e se formos mais introspectivos e mentalistas, então passaremos a ter a proporcionalidade comportamental como regra de ouro em nossas interações. 

A lógica, apossada pelo instinto não-social, busca emular o suposto realismo da cadeia alimentar não-humana, se esquecendo que eles, os outros seres vivos, estão ainda mais atomizadas da realidade, menos íntimos dela. A ação e reação em um cenário lógico, não obedece à sua lei física, pois o instinto distorce a macro-compreensão factual, centralizando-a em si mesmo, ao invés de partir de si mesmo. A auto-projeção é inevitável, o que não é inevitável é a possibilidade de se bloqueá-la ou de se tentar entendê-la. Maior a racionalidade e sabedoria maior é a simetria de interação entre o ser, humano, e o seu ambiente de vivência, porque será menos atomizado desta relação franca, e menos centrado em si mesmo. É como se, metaforicamente falando, existisse um relógio da realidade, fora dos seres vivos, e relógios, dentro de nós. Em um cenário instintivo, o relógio interno, nossos relógios, marca uma hora que é diferente do relógio externo, da realidade. Em um cenário racional/ a sábio, os relógios interno e externo marcam horas e minutos muito mais parecidos, mais próximos. As formas de vida mais primitivas, dentro desta tentativa de visualização metafórica da relação do ser com o seu ambiente de vivência, apresentariam os relógios internos mais dissociados do relógio externo da realidade, único e universal. 

Se uma pessoa age de uma certa maneira comigo, eu, racionalmente, retribuirei. Se eu fosse mais instintivo então eu provavelmente reagiria de acordo com as minhas possibilidades reativas, tendo a regra de ouro apenas como uma dessas possibilidades. Os mais lógicos tendem a acessar os seus instintos não-sociais e a reagirem também com base naquilo que eles emanam ou lhes determinam. Os mais sociais acessarão os seus instintos sociais. Novamente, as chances que aconteça uma proporcionalidade comportamental serão maiores para o primeiro caso, especialmente se os dois elementos em interação forem da mesma natureza. 

Tal como acontece na natureza, por causa de uma grande intimidade com a realidade, sábios e [verdadeiramente) mais racionais apenas reagirão ou ao menos pensarão primordialmente em agir de maneira proporcional, enquanto que com uma carga instintiva muito pesada, esta simples proporção será pouco provável de ser plenamente requisitada e efetuada, porque dependerá das atribuições feitas pelo instinto. Percebam que o instinto funciona como uma barreira, um pedágio entre o ser e o seu campo de vivência, de interação e de compreensão factual. Este filtro, em um cenário hipoteticamente ideal, não existirá ou será de excelente qualidade, no caso dos mais racionais e sábios.

Um exemplo. Você foge de uma zona de guerra ou de um país em frangalhos para viver em um país de primeiríssimo mundo, com tudo ao seu dispor, casa doada pelo governo, um monte de pessoas querendo te ajudar a se adaptar e ainda por cima algumas delas querendo se casar com você, especialmente se lhes forem de bom grado. Estão te oferecendo mel e ouro e no entanto, porque você não é racional, simplesmente renega tudo isso, não por ser abnegado, mas porque os seus impulsos instintivos interpretam por eles mesmos que toda esta bondade na verdade se consiste em uma oportunidade para parasitar, para fazer o que quiser, por exemplo, estuprar mulheres, cometer atos ilícitos, etc... Você também pode ser dragado pelo besteirol religioso e re-interpretar aquilo que parece instantaneamente fácil de se perceber, de uma maneira bastante distorcida e ainda por cima contraproducente pra si mesmo. 

O instinto excessivo com o seu piloto automático não nos faz pensar na realidade para buscar entendê-la e tirar o melhor proveito dela, porque a única verdade que existe neste cenário é aquela que está sendo determinada por ele. 

O racional e o sábio apresentam grande potencial de adaptação exatamente por emularem a lei física da ação e reação ainda que ''um passarinho não faz verão'' e portanto em um ambiente coletivo, os indivíduos sozinhos não fazem nada, não são capazes de fazerem nada, sem antes terem movido as massas. 

Portanto é isso. O único realismo que realmente existe só pode ser acessado por agora pelo ser humano porque todos os outros seres vivos encontrar-se-ão sobrepujados por seus instintos, distorcendo esta relação franca e mais aprofundada entre o ser e o ambiente de vivência. 

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