terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Defeituoso ou deficiente? Demolindo a ideia popular que "(todos os) eufemismos escondem e distorcem a realidade"

A única explicação para o porquê de algumas ou muitas pessoas serem contrárias à polidez em conversações e uso de termos qualitativamente polêmicos é o caráter ou uma propensão ao sadismo/falta de empatia.

Um dia desses eu li em uma rede social a notícia de um candidato à cargo político prometendo doar o seu primeiro salário caso fosse eleito à "crianças defeituosas". A pessoa que postou a notícia não parece ter ficado no mínimo desgostosa com o termo usado e pelo que parece foi assim mesmo que ele, o candidato a cargo público, se referiu à essas crianças. 

Eu já debati o uso do termo ''especial'' para crianças com deficiência e concordei que apesar de fugir parcialmente da realidade por razões nobres e/ou filosóficas eu não vi qualquer outra razão mais significativa para evitar o seu uso porque o que importa é a associação entre a palavra ou símbolo e o seu significado. Se a maioria das pessoas compreenderem o uso deste termo ao associa-lo à "crianças"(adolescentes, adultos e idosos) com deficiência então não haverá a necessidade de se evita-lo porque a verdade factual da deficiência continuará em evidência, afinal não é tudo aquilo que é especial que será benignamente especial. Além de manter o significado o termo ainda resolve outro problema ao evitar termos estigmatizantes ou mesmo puramente grosseiros. 

Então eu me perguntei onde é que devem existir crianças perfeitas, bem porque elas  não parecem ser muito comuns não é? 


Imperfeição também é outro termo, muito próximo de defeito, que não é recomendado neste caso, e pelas mesmas razões. 

Deficiente é neutro, mais factual, tem praticamente a mesma intenção semântica que defeito, isto é, a ideia ou significado, e no entanto não é grosseiro, não soa grosseiro e não será interpretado grosseiramente  de maneira quase universal. Deficiente é um eufemismo perfeito pra esta situação ainda que também recomende o uso do termo especial. Talvez os dois possam ser usados ao mesmo tempo criando uma composição mais vencedora. A ideia de deficiente passa a ideia factualmente correta que o indivíduo portador de deficiência não pediu pra nascer ou ficar assim, tirando-lhe desnecessária e equivocada culpa por sua situação. A ideia de defeituoso por outro lado parece mais endógena, quase que colando à identidade fundamental do ser em questão, como se fosse indissociável de sua particularidade, isto é, de sua deficiência, e claro, tendo como esperado resultado em auto-culpabilização. 

Por que especial??

Ninguém pede pra nascer sem um braço ou com deficiência intelectual (na verdade a própria ideia de deficiência intelectual tem muito mais nuances em seu espectro qualificativo porque afinal de contas pessoas intelectualmente perfeitas são bastante raras... Seriam elas sábias??). O melhor que podemos fazer é o uso deste termo até porque a deficiência tende a moldar o comportamento das pessoas fazendo-as mais solidárias, empáticas e prestativas. Seria até interessante analisar se isso de fato tende a acontecer com grande frequência. Pra mim não faz mal nenhum em me acostumar com este termo contextualizado nesses casos. 

Novamente como conclusão, aquilo que já havia comentado antes. O que mais importa é o uso perfeccionista das palavras e seus significados nos mais diversos contextos e se houver a possibilidade de evitar o uso de termos chulos tanto melhor. Você não precisa ofender ninguém pra dizer verdades. Esta associação entre verdade e sentimentos ruins ou de apreensão precisa ser revisada e se possível modificada para que se possa tolerar as verdades ou factualidades de maneira menos histérica e mais correta.

Bicha ou homossexual?

Portanto voltando a conclusão do inicio  para fechar este texto. Quem deliberadamente usa termos pejorativos para se referir àqueles que julga como inferiores a si é provável de ser mais sádico. E mais, eu mesmo me vejo caindo na tentação de esfolar verbalmente os meus desafetos. Isso significa que também tenho que começar por mim mesmo a melhorar minhas abordagens.

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