sábado, 1 de outubro de 2016

Deixe-me morrer em paz... deixe-me viver

Morrer ou viver,
A morte rápida, chamamos morte,
A morte lenta, chamamos vida,
Ou apagamos a chama,
e nos espalhamos como lembrança,
Ou nos apagamos lentamente,
e assim, vivemos,
vivemos, à espera que a morte nos envolva,
e passamos esta sina adiante,
frágeis planetas de vida curta,
nos consumimos,
de estrelas anãs à gigantes de tristeza e alegria,
se vivermos até o fim de nossos ciclos naturais,
se tivermos essa sorte,
se a saudade é o único destino final,
se a poesia é como a morte,
espalha em melancolia,
se a estória é como a vida,
em sequências do tempo,
que nos enganam,
pois sempre terá fim,
e sofrida,
lhe é de expressão natural,

ou, se a estupidez nos levar antes,
nos levar de nós mesmos,
e pingarmos pra sempre,
ou sem sabermos se o pra sempre existe,
e se pinga-lo-emos,
se nos afogaremos no grão-oceano, a existência,
neste mui velho mar que apaga chamas e engole gotas,
que envolve a tudo em sua loucura,
vivemos nela, sim, na loucura,
na total loucura de nada saber,
pois apenas o sentido que dá sentido,
como um inteiro, que dá-se por completo,
damos sentido a grãos de areia,
mas o que nos envolve não tem nome,
sem respostas para os mais importantes porquês,
despertamos, e tateamos o que nossas mãos alcançam,
deixe-me morrer em paz,
deixe-me viver,
deixe-nos,
se deixem,
se a vida é o se deixar,
não tem como,
não tem por onde,
mesmo o viver pra sempre,
mesmo a máquina orgânica,
frívola e supostamente segura,
nada escapa à melancolia,
nada escapa à realidade,
nada escapa à profunda ignorância,
que nos devora,
que nos entope fundo, à garganta,
deixe-a, à vida em se espalhar,
deixe-se morrer vivendo,
e viver, morrendo,
como siamesas, dividindo a mesma sombra,
e nós, como as suas sobras,
deixe-se sobrar, 
e viva...



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