O céu que vejo em gotas,
numa folha de bananeira
O pincel de Deus que se escorrega
entre borrões e leves passadas
O ar que gravita a intensidade
E neste refúgio de dúvidas
Gritos da garganta que brotam d'alma
A realidade que se sobrepõe
Em contínuas cascatas
Algumas gotejam redenção
Outras jorram fúrias de tempestades
O tempo pesa e o acúmulo esparsa
Algumas gravitam com os pés no chão
Outros levitam no cenário da vida
Força e liberdade
E esta vida, nossa vida, neste intervalo
Entre o nada e o tudo
Nadamos ao nada
Enquanto o tudo se jorra
Ate se esgotar totalmente
Até jorrar nova mente?
Até viver noutra vida, noutra experiência?
De caminho em caminho
Caminhamos sem rumo
Porque não o existe
Porque é apenas uma palavra
Mais uma abstração
Viveremos sempre
Mesmo sem saber?
Em cada morte, outro profundo esquecer?
Outra surpresa?
E aquela impressão de já tê-la vivida
vívido ou ilusão
A realidade se sobrepõe
E insanos, nos sobrepomos
Na poesia ou poema eu me agarro
Nada mais são do que amar a beleza
Nos atos, nos versos, nos becos, nas cestas
Nas sextas, na alegria,
Na redução de força e rapidez
Em frente ao muro enorme
Extremamente antigo
Mais que o próprio tempo
Que nos impede de saber tudo
Imaginamos o que tem ali,
Escondido
pra sempre?
De nossos olhos curiosos
De nossas almas dengosas
De nossos juízos chorosos
Mesmo o sorriso mais aberto e franco
Tudo o que fazemos é fugir de nossas sombras
Menos alguns poucos
Que desavisados
Insanamente desumanos
Denaturalizados
Põem-se a tatear na escuridão
A verdade mais profunda
À garganta mais rouca
A realidade mais verdadeira
E mais proibida
Querem ver o que Pandora guarda
Querem calar o soluço mais puro do coração
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