sexta-feira, 8 de julho de 2016

Por que parece que tem mais homossexuais e bissexuais hoje em dia do que no passado** a teoria cultural análoga ao canhotismo ....

No passado a maioria das pessoas canhotas eram punidas nas escolas e em suas casas porque usavam a mão esquerda, especialmente, para escrever. Então elas eram ''reensinadas'' desde cedo a escreverem ''certo'', com a mão direita. Resultado, o percentual de canhotos, isto é, de pessoas que permaneceram usando a mão esquerda, especialmente para escrever, se reduzia drasticamente em cada geração. No entanto, as pessoas que foram forçadas a aprender a usar a mão direita, continuaram biologicamente dispostas para a mão esquerda e não duvido que muitas delas continuaram a  usa-las para muitas outras tarefas manuais e triviais (assim como também o hemisfério mais dominante como por exemplo chutar com o pé esquerdo).

Algo bem parecido acontece, não apenas com o simples hábito de escrever, mas também com vários outros comportamentos quando são mediados pelas culturas (e quase sempre são) e eu resolvi pegar o exemplo da sexualidade, mais especificamente da homossexualidade, até mesmo por ter tanto em comum com o canhotismo, em termos biológicos, especialmente, para expandir esta realidade que até então encontrava-se represada apenas para o hábito de escrever.

Hoje em dia fala-se muito, especialmente entre os direitistas, sobre ''lavagem cerebral'' ou ''emasculação proposital'' por parte do governo, em relação aos homens, por causa da maior visibilidade e proporção de homens (mas também de mulheres) homossexuais, bissexuais, transgêneros e outros, nas sociedades ocidentais, assim como também o oposto para as mulheres, isto é, de que ''estariam sendo masculinizadas''. Supostamente o governo está com as suas mãos oniscientemente intrusivas moldando comportamentos. Supostamente. 

Eu acredito que o governo manipule a população de muitas maneiras, mas não acredito que estes artifícios sejam tão profundos a ponto de modificar a essência das pessoas. 

Eu estou dizendo portanto que não acredito que ''o governo'' tenha sido o único e principal responsável pela [supostamente] maior incidência de não-heterossexualidade na população ocidental nos dias atuais, talvez principalmente porque tal ''lavagem cerebral'' não aconteceu comigo, eu vou explicar o porquê...

Desde muito novo que eu já apresentava características comportamentais que apontavam para a homossexualidade, ainda que não fosse extremamente afeminado. Um relato divertido e embaraçoso de minha infância. Me lembro quando eu fui confundido com uma garotinha, lá nos meus 6,7 anos, no ano de 1994, por causa do meu cabelo grande e muito liso, mas também provavelmente por causa de minhas feições, diga-se, sutilmente femininas. Me lembro da vendedora em uma loja de roupas infantis perguntando ao meu pai e olhando pra mim sobre o que que ''esta garotinha linda vai querer**''.

O governo não colocou mais estrogênio secretamente na comida da minha mãe. Também não fui vítima de qualquer bombardeamento sistemático de ''mensagens subliminares'' pela televisão, ainda que acredite na vulnerabilidade infantil pra vários tipos de propaganda. Mas ao menos no meu caso isso não aconteceu. Eu já sabia subconscientemente o que eu era desde a tenra idade. Talvez eu posso extrapolar o meu caso para muitos outros ou mesmo para a maioria dos modernos lgbt.

Eu cresci em um ambiente superficialmente hostil à diversidade sexual, mas que nunca proibiu ninguém de nada, ao menos, não em termos estatais, visto que a homossexualidade já estava legalmente descriminalizada. De fato, eu cresci em uma cultura de transição entre a ''tolerância'' que vemos atualmente e o conflito intergeracional que foi bem típico aos anos 90, isto é, entre os resquícios finais da ''velha onda totalitária conservadora'' e as primeiras marolas da onda ''moderna'', que também é negativamente totalitária, mas no sentido oposto.

O ambiente brasileiro em relação à diversidade sexual permanece superficialmente hostil, como nos idos de 94. Existe uma maior ''tolerância'', é fato, mas mesmo assim mudou menos em relação ao que muitos homossexuais imaginam.

No mais, independente do ambiente, em qualquer lugar, e sob a mesma ''carapaça'', eu chegaria nas mesmas conclusões internas, a de que, quer queira quer não queira, eu sou o que sou.  

Existe uma gradualidade entre o homossexual e o heterossexual exclusivo. Quanto mais próximo dos dois extremos menos suscetível de ser influenciado por fatores culturais e portanto mais propenso a permanecer o mesmo. Quanto mais próximo do meio deste espectro mais provável de ser influenciado por fatores ambientais ou culturais. Eu me encontro um pouco mais distante do meio que parece ser o mais dependente do cenário cultural, e mais próximo do extremo homossexual exclusivo, claro, sem levar em conta outras características que costumam compor as identidades individuais como o nível de afetação comportamental. Em termos de desejo sexual, eu apresento uma clara preferência pelo mesmo sexo. No entanto, eu consigo sentir atração sexual neutra, isto é, me atrair apenas pela ideia de se fazer sexo. Eu já tive relações com uma mulher e gostei muito. Eu não sou o típico e pelo que parece, raro bissexual, que sente atração tanto por homens quanto por mulheres, no mesmo nível de intensidade, mas ao contrário de muitos homossexuais, homens ou mulheres, eu não sou totalmente repelente ao sexo oposto. 


Mentira e subconsciência


A maioria dos seres humanos mentem e não sabem que estão mentindo. Como dizem, a melhor mentira é aquela em que você mesmo acredita nela. E a maioria dos seres humanos e talvez todos os seres humanos o fazem. A diferença não é o fazer ou não-fazer, mas desenvolver uma consciência-cristalizada sobre esta realidade. A subconsciência é um resquício muito atuante, vivo e decisivo de nosso passado não muito recente enquanto ''animais-animais''. Estamos em uma fase de transição entre o início de uma real consciência predominantemente racional, que alguns poucos seres humanos são capazes de alcançar, parcialmente, diga-se, e uma subconsciência melhorada em relação às outras formas de vida. No mais, a nossa tendência de mentir e de acreditar em nossas mentiras, é uma constante. 
Mentimos mais no meio social, onde que criamos personas públicas, que se diferenciarão em graus individualmente variados em relação às ''nossas'' verdadeiras personas. Alguns, como os sábios, percebem esta macro-situação muito mais rápido e profundamente, e regridem às suas personas reais. Tal possibilidade também parece ser constante ao gênio, ao menos em termos cognitivos. Esta possibilidade se consiste na re-sincronização com o verdadeiro eu. Muitos são criativos, até mesmo ao nível do brilhantismo, mas se creem mais em suas personas públicas do que em suas personas reais, no eu verdadeiro, então é provável que direcionarão os seus talentos naturais para um caminho equivocado, o oposto do caminho para a verdadeira genialidade, que tem doses nada homeopáticas de sabedoria embutida, assim como também quanto à própria sabedoria.

Da mesma maneira que muitas crianças, que nascem mais dispostas ao uso manual da mão esquerda, são forçadas a usarem a mão direita por razões culturais, especialmente pra escrever, muitas outras crianças que nascem com maior disposição para a homossexualidade, podem ser forçadas a se portarem como heterossexuais ou ao menos dentro de um ''espectro respeitável de comportamento normativo''. Então, tal como aconteceu e acontece com o canhotismo, muitos homossexuais biológicos são forçados por pressões culturais a se comportarem como heterossexuais. E nas sociedades onde esta prática permanece comum e socialmente aceita muitos homossexuais ou suscetíveis à homossexualidade acabando se casando com o sexo oposto, tendo filhos, e muitos até se acostumam às suas vidas ''reensinadas'' de maneira tal que se esquecem quanto às suas preferências marginais porém existentes, ou mesmo, até então que eram mais fortes. 

Esta é uma das explicações que, na minha nada-humilde opinião, é muito provável de explicar o porquê deste ''gap de gerações'', em que os mais velhos reportam menor comportamento homossexual em relação aos mais novos.

E como bem diz no subtítulo, muitos ''homossexuais bem guardados em seus armários'', ao construírem vidas perfeitamente emparelhadas às normas sociais dominantes de seus ambientes, chegam mesmo ao ponto de conseguirem suprimir de maneira muito eficiente as suas disposições naturais.

E também é interessante observar que mesmo tamanha pressão cultural ainda não é capaz de reduzir pra ''0%'' a incidência nem do canhotismo nem da homossexualidade. Por que será**

Será que alguns homossexuais são tão exclusivos que são incapazes de se adaptarem mesmo à regras praticamente draconianas** [por exemplo, no Irã]. Da mesma maneira que alguns canhotos podem ser tão exclusivamente canhotos que mesmo uma tentativa de reeducação pode não ser suficiente para ''reeducá-los''... mas não para muitos outros...

Portanto, além das explicações habitualmente recorrentes como o aumento do número de crianças nascidas de pais mais velhos, modificações químicas na comida, poluição*, o relaxamento & incentivo cultural, não confundir com lavagem cerebral, que eu já expliquei em alguns textos, principalmente no velho blogue santoculto, parece ser mais interessante para explicar complementarmente às possibilidades acima, ou não, o porquê de termos mais homossexuais ''fora do armário'', assim como também tipos mais mistos, como os menos exclusivos hoje em dia do que na época de nossos avós. 

Por ser muito autoconsciente, autocentrado, desde a tenra idade,  é menos provável que possa usar a minha experiência de vida como um exemplo fidedignamente transferível para a média, visto que as pessoas neurotípicas tendem a ser mais influenciáveis por mudanças culturais e portanto menos autoconscientes de suas próprias falhas. No entanto, eu duvido que a maioria dos homossexuais que estão ''fora do armário'', sejam produtos diretos dessas mudanças, isto é, deste relaxamento. O que eu estou querendo dizer é que as suas maiores visibilidades atuais, ao saírem do armário e construírem (pseudo-)comunidades, são sim, produtos diretos dessas mudanças. Mas a homossexualidade assim como qualquer outro comportamento tem uma base biológica frequencial. Portanto, a maioria dos homossexuais ocidentais (pós-)modernos, creio eu, ''born that way'' e em um ambiente mais ''tolerante'' e ''incentivante'', muitos deles se tornaram visíveis e coesos em relação às suas disposições, enquanto que em sociedades ''tradicionalmente'' monoteístas o oposto é muito provável de acontecer, e a maioria estará casado, com filhos e tentando conversar internamente consigo mesmos para manter os seus ''ímpetos pecaminosos'' bem controlados e portanto escondidos da cena social.

Se eu fosse criado em uma cultura mais fechada em relação à homossexualidade e tivesse a disponibilidade de casar cedo e ter um emprego potencialmente vitalício, a regra nas sociedades tradicionais, é provável que conseguisse conter esta minha tendência, assim como também me adaptado à situação, se eu apresento alguma tolerância firme para manter relações sexuais com o sexo oposto, mas também por causa do meu temperamento. Percebam que mesmo em uma sociedade mais aberta, eu ainda não consegui ''sair do armário'', ainda que pareça cada vez mais explícito quanto as minhas predileções. Claro, estou pressupondo, isso não significa que em uma hipotética situação isto aconteceria sem qualquer chance de dúvidas.



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