domingo, 17 de julho de 2016

Antes do vento e outros brados

Antes do vento,
Da penumbra,
Da luz,
Do reflexo,
Dos transtornos do universo,
Dos raios de Deus a se espalharem como lava
A matéria e dentro o seu corpo-espaço 
E sua força expansiva, o tempo 
A inércia absoluta dominava
A dualidade era una
Não existiam contrastes nem forças 
Tudo era perfeito
 Desde o nada 
Elementos existiam 
Não se mesclavam 
Tudo em seu devido lugar 
Como um arco iris perfeito 
Como uma prateleira organizada
em ordem alfabética 
Gradual e sem qualquer conflito 
Não era essa doença a dualidade 
E quando a perfeição se quebrou 
A unidade se eletrizou
E explodiu um câncer 
e outras constelações
Elementos díspares se uniram 
E a existência nasceu 
E existe apenas por saber 
Que é um problema a se resolver
A onda de estrelas e imensidão,
em todos os lados invadiu,
invade,
e continua com o seu caminho,
até perder força,
e por que não voltar*
pois quer de novo aquele calor,
daquele primevo pecado,
do primeiro desastre,
antes do vento,
assoprava a não-existência,
de uma paixão primeva,
e nasceu de si mesma,
num primeiro masturbar,
e o vento continua uivando,
uivos do primeiro amor,
do primeiro erro,
e sua força é a sua teimosia,
e o destino, pra quem se queixa,
é a tristeza,
a dor leve de uma melancolia,
e imaginar,
quando saberá,
quando finalmente saberá...



Quanta pressa


Onde vai Lua
Com tanta pressa!
Me espere linda que eu quero ir junto 
Meu maior sonho é viver num céu bonito 
Nesta noite iluminada por ti
Se esconde nas nuvens escuras
Não seja tímida
Você é uma rainha 
Me mostre pra onde está indo 
Tem tanta pressa!!
Parece andar tanto

 mas também parece que está sempre no mesmo lugar
Eu confesso minha linda Lua
Estamos todos assim como você
Corremos tanto e no final 
Também não saímos do lugar 

também temos faces ocultas
deixamos apenas um lado amostra
ao combate ou à sorte
como ao seio da justiça
com o seu olhar incompleto
se não somos todos assim minha Lua querida
incompletos
Então, realize o meu desejo
Me leve deste chão imundo 
Vamos fugir deste compromisso
Eu quero toda liberdade
Porque a vida é mesmo uma prisão 

você sabe
Mas para querer eu preciso ser
O que eu serei quando deixar de ser?
Qual será o meu adjetivo?
Você também é pequenina não é minha Lua??
Também está sendo esmagada
pelo imenso silencioso
Quanta pressa, me espere 
Eu quero me confessar
A vida é muito boa mesmo apesar de tudo 
Eu encontrei a minha paz sabe
Ela estava bem aqui dentro de mim 
Nós aqui de baixo somos assim
Procuramos aquilo que perdemos
De mais precioso 
Mas nos esquecemos 
Que está sempre no mesmo lugar
Dentro de nós
Corremos pra nos encontrarmos
Mas estamos sempre no mesmo lugar
Em nós mesmos 
Eu não tenho pressa Lua
Deixo a vida ter por mim

A minha preguiça é tanta que eu vou embora
boa noite Lua querida
fique com Deus
que eu também estarei com ele aqui
do meu lado
em mim 
em todo lugar
em cada canto
em cada espaço



Tímida tormenta da noite 


O baile de nuvens que se confunde com o céu limpo 
No limbo de fuligem 
Do humano em seu absinto 
Em meus olhos que miram o céu 
Com mil perguntas sem conceitos 
Mesmo sem interrogações 
Encaro o teto que nunca cai
Nos protege e se sobressai
Aglomeram as nuvens que se apoderam do salão 
Com os seus vestidos pomposos e seus robustos grilhões, delineando a cintura, encolhendo a barriga,
Numa valsa lenta, contam os espaços vazios

em passos tímidos, calculados 
evitam toques e tropeços sem intenção
Parecem arquipélagos em algodão
Uma singela e silenciosa tormenta
Que escutamos pelo nariz 
O seu vento cheiroso fala mais que damas e benzendeiras, 

derrama todo o charme da vida
Que na verdade da noite
Se revela livre bailando acima

desta escuridão
desta tormenta calma


Na noite eu converso com Deus 


Vejo o céu escuro 
Ele revela a verdade da luz
Na noite em que eu converso com Deus
Vejo a beleza e me entrego no silêncio
Doce e solitário da noite 
Eu contemplo a vida 
E a compreendo num aprofundar...
Sentir-se com em conexão com o todo 
O toque em mim,

o puro sentir
que é o puro existir
Na melancolia, num expirar mais pesado 
Porém muito sincero 
De me emocionar sério
De ouvir o ventinho da noite
Dominar o meu corpo e constatar 
A mais óbvia e cristalina verdade 
Eu estou vivo 
Eu vivo 
Eu amo viver 
Apesar de tudo 
Eu converso com Deus apenas pelo olhar
Lembro muitas vezes de amores que se foram
Se nesta estação estamos todos
Esperando o próximo trem 
Eu acompanho a noite até sua casa
Me apresso à cama
Aos sonhos estranhos 
Eu me conecto com o universo 
Quando em mim adentro 
Partindo mares profundos 

num nado abstrato e cego
Buscando por minha alma
Por meu contato mais próximo com Deus
Com tudo e com o todo 
Somos herdeiros desta primeira chama
Deste primeiro transtorno 
Da onisciência de Deus, o primeiro faiscar de fogo,
Da existência e de seus filhos espelhos 
A vida em sua centelha

 em seu breve respirar 
O céu olha pra mim 
Eu retribuo gentilmente 
E por dentro choro, 

se a melancolia não é assim mesmo 
A cascata do espírito
Serena inquietude
Depois de uma longa caminhada
Que Encontra o destino final 
A serena sabedoria 
Nas montanhas mais escondidas 
Mais altivas
E digo a Deus pelo olhar
Que eu estou aqui 
Que eu estou lhe vendo,  o verdadeiro 
E lhe pergunto ate quando 
O que é o quando 
O que é
E por que é
Porquês são sempre importantes
As falsas esperanças

 e seus santos de barro
que sempre se esquecem deles 
O verdadeiro contato 
Não tem medos 
Tem anseios mas também calma
Que um dia talvez todos nós saberemos 
Valentes e pequenos 
O broto da existência saberá tudo

 o que mais importa quando se desbotar 
Quando se entregar, por fim

 sem demora ao espaço e tempo
E voltar a ser parte do todo

deixando de ser aparte
voltando a ser sensações puras
deste mistério orgulhoso e grave

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