quarta-feira, 20 de julho de 2016

A inteligência cognitiva não é racionalidade... A ideia de epicentro semântico

As palavras abstratas, para que possam ser plenamente compreendidas precisam ser entendidas de maneira objetiva, emulando as palavras concretas, isto é por meio da intrinsicalidade ou epicentro semântico. 

A racionalidade é um termo centrado naquilo que defini como "princípio da sabedoria". A racionalidade é um degrau a menos de perfeição perceptiva. Isso significa que nem todo racional será sábio, mas todo sábio verdadeiro será racional. 

O epicentro semântico da palavra inteligência é muito amplo e diversificado.  Podemos dizer também que nem todo inteligente será sábio, mas que todo sábio será inteligente. O conceito mais central ( ainda que não seja único) da inteligência é a capacidade de adaptação pois se relaciona umbilicalmente com a conservação da vida ou sobrevivência e claro que em nossos ambientes sociais muito complexos (ou confusos) adquire muitas facetas, ainda que o seu significado continue onisciente, a auto-conservação da vida.  


A inteligência é fundamentalmente lógica pois parte de uma compreensão factual pragmática ou friamente utilitária. A adaptação utilitária /lógica ou "apenas aquilo que funciona"  é a finalidade da inteligência enquanto que a finalidade da sabedoria é a harmonia. A inteligência pode ou não ser harmônica pois atitudes inteligentes podem ou não serem egoístas. Portanto não é incomum que pessoas epicentricamente inteligentes possam ter momentos de sabedoria.  Esta é uma impossibilidade para a sabedoria por causa de seu caráter extremamente holístico e objetivo. A inteligência analisa fria, correta ou logicamente. A sabedoria é uma expansão perceptiva porque pensa em todos os pormenores possíveis ou que forem capturados. 

A inteligência em sua manifestação mais expressiva via criatividade, por exemplo, produziu as cidades humanas que foram pensadas específica e sistematicamente, chegando a um resultado perceptivamente deficiente ao não levar em conta a natureza circundante ou mesmo ao tratá-la como ''inimiga do progresso''. A sabedoria por sua vez pensa em todos os envolvidos antes de chegar a qualquer conclusão. A inteligência pode ser imoral, isto é, com o intuito proposital de provocar problemas, ou amoral, tal como se fosse um crime culposo, sem a intenção de prejudicar, quando estamos ingênua ou tolamente culpados


A sabedoria nunca será imoral ou amoral.

O epicentro semântico se consiste na técnica da perfeição semântica ao interpretar termos abstratos de modo semanticamente correto, novamente, emulando a maneira com que associamos as palavras com elementos concretos, com ''coisas''. Parte-se da ideia que sem uma comunicação clara e eficiente a humanidade se perderá seja por meio da inércia ou por meio da entropia destrutiva.





A inteligência humana é super estimada e mal compreendida, isto é, a idealizamos confundindo-a com a sabedoria. Os dois conceitos são muito distintos ainda que expressem a mesma ideia central. 

Da mesma maneira que eu separei o termo lógico e racional, eu o faço novamente e analogamente à inteligência e sabedoria.

Sábios são raros. Inteligentes [ cognitivamente inteligentes ] são comuns mesmo em países como o Brasil.



O ser humano mais do que os outros animais é capaz de se micro-adaptar individualmente às circunstâncias. Por exemplo, a invenção da roupa mais o domínio do fogo foram de grande valia para que a humanidade pudesse se adaptar à regiões de clima frio. Na natureza os animais não humanos são mais propensos a perecerem quando as circunstâncias mudam rapidamente porque eles já tendem a seguir um cronograma limitado de estratégias para sobreviver. 

Basicamente, as formas de vida não -humanas são inconscientemente teimosas, tentando quase sempre as mesmas estratégias mesmo quando as condições ambientais mudam e portanto exigem ''atualizações de abordagem''. Por isso que muitas entram em extinção ou são substituídas por suas versões mais micro-adaptadas.

A capacidade adaptativa a nível sofisticado ou basicamente o auto- arbítrio, a capacidade ou mesmo a simples possibilidade de se pensar na escolha, o simples fato de ter em mãos uma paleta limitada de escolhas já faz do ser humano uma espécie única. 

A limitação é a si mesmo visto que por agora não podemos transcender a nós mesmos, para isso deveríamos ser como ''metamorfoses ambulantes''. Geralmente as escolhas humanas são feitas a nível subconsciente, esbarrando em ideias intuitivas de grande valia. Talvez os seres humanos mais evoluídos possam ser bem mais reflexivos e conscientes de suas ações.

O pensamento lógico é uma mistura de intuição com lógica, uma espécie de intuição lógica pre-conceitual, a partir do primeiro eu, nós enquanto animais instintivos que apenas expressam as nossas tendências (forma&expressão) pelo comportamento, sem grande esforço reflexivo, isto é, julgando as próprias ações, e o segundo eu, o nosso senso potencialmente/inicialmente racional, que analisa as nossas ações. O julgamento não chega a ser racional ou inteiramente racional porque tende a ocorrer a dominância de nosso primeiro eu ou simplesmente ego, se a racionalidade poderia ser entendida como ''recessiva''. Por isso que a lógica funciona mas não é holisticamente perceptiva porque a sua finalidade é a utilidade funcional e nada mais.

Em compensação na racionalidade é o segundo eu que domina  o primeiro eu, ao providenciar julgamentos bem mais holísticos e progressivamente afastados do ego que resultaria na lógica ou racionalização egoísta.

Na sabedoria a diferença é ainda maior por não se consistir caracteristicamente na mitigação ou resolução de problemas mas em suas prevenções. A priore ou em mundo perfeito, a sabedoria funciona como o primeiro (e último julgamento) que analisa o ambiente antes que ''criatividade'' e ''inteligência'' possam agir. Tal como um grupo de caçadores coletores se deslocando para um novo ambiente, o sábio é o primeiro que analisa o ambiente de maneira crítica, antes que criatividade e inteligência possam se assentar. 


A sabedoria por ser uma balança crítico-analítica funciona como o olhar holístico, de fora do ambiente, analisando certa ação, afastada do seu criador criativo e do seu sustentador inteligente.  

Geralmente tem funcionado assim, o criativo cria, o inteligente sustenta e o sábio analisa como uma terceira ou quarta pessoa, a partir de uma perspectiva neutra, em relação ao ego. O criativo é o tipo psico-cognitivo mais egocêntrico. O sábio é o menos.

Através dessas separações semanticamente corretas poderemos finalmente separar o conceito muito vago e complexo da inteligência do conceito que tenho tentado dar precisão, a sabedoria. E lembrando que a racionalidade ainda não será sabedoria.

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