segunda-feira, 11 de abril de 2016
O animal poeta e o impulso da vida
A vida é muito curta
O tempo passa
E deixa feridas
saudades a serem lambidas
O poeta mais poeta
Como um animal em seu impulso natural
a personalidade o domina
Menos domesticado que o habitual
Menos feliz por ganhar biscoitos na boca
Os quer sem precisar fazer nada
O chamam de distraído,
mas apenas a vida que merece a sua atenção
As bobagens humanas merecem sarcasmos e decepção
Um coçar de saco
Um ar de rebeldia
O seu natural não é de se rebelar
Se deixa ser levado por suas vontades
Segue o ritmo da vida
E se esbarra no superficial do mundo humano
Tem de ouvir sermão e críticas
Os escravos estão plenos de convicção
Creem na segurança falsa
Em plantas de plástico
Em suas vidas mórbidas
Sem cheiro nem amores bombásticos
De se apaixonar pela vida todo dia
Mais sincero consigo
Difícil de encontrar alguém como ele
Tão ciente de suas necessidades
Tão entregue à sua felicidade
Poderia ser menos arredio
Mas sabe por instinto
Que se aliviar uma brecha
Será mais um rendido
Neuras para cada estúpido encardido
Mais Paz e amor que toda uma Woodstock
Se ama tanto que se pudesse lamberia o próprio umbigo
Claro que cuspindo de nojo e rindo
Este seu desapego
de quem sabe viver...
Deveriam recompensá-lo
Mas não o entendem
o odeiam
o rodeiam e o repreendem
Deveríamos ser todos assim
Mas selecionaram os escravos
Mais animal
Mais atávico
As suas emoções vem como as ondas do mar
bravo que abraça o horizonte
Num esfregar de corpos
num misturar de céu azul e águas turvas
Como os seus amigos que não perdem tempo
O ser humano é o único que o faz
O talento do poeta poeta
De ser tão animal
Tão natural
Tão verdadeiro
E isto é tão raro entre os preciosos bípedes encrenqueiros
Doente humanidade
O seu cérebro grande virou a sua prisão??
A sua lógica dita a opressão
A sua criatividade inventa novas torturas
A emoção serve pra manipulá-los
Espelham apuros e inimizades
esses olhos de inveja, esbugalhados,
Sou atávico sim
estou mais perto da mãe natureza
Sou talentoso, com certeza
sou super especializado
o meu gênio é o de ser feliz
eu despertei
espreguicei os meus braços
respirei o ar fresco da manhã
eu não acredito no que não vejo ou percebo
só acredito no amor
nesta atmosfera de aconchego
nos abraça
nos mantém em seu colo, oh solo
oh berço
Eu sou de verdade,
sinto de verdade,
não tenho crenças mas pontos de vista,
não espero por uma meta-física
quem ama a vida
não pode ficar esperando
tem que viver cada dia
se encher de alegria
daquela nostalgia...
aquele balançar de cores
alguns céus nublados
outros são refrescos abençoados
Se Deus é a beleza
então eu o saúdo em cada mormaço
na chuva ou numa tarde tranquila
Ser humano
e não ser um escravo
um trabalhador,
usado, explorado
o dizem que a alegria é trabalhar
mas a alegria é o fazer
e se sustentar
Mais poeta,
mais apelo
pelo impulso da vida
pela verdade do ser
adaptado para o profundo
emburrado pelo raso e estúpido
vive de si
para si
mas sem o ego a lhe ferir
não é um incêndio
é um fogo a queimar-se adentro
Mais próximo do animal não-humano
não se apaixona por ledos enganos
não confunde o simples
fazendo-o de difícil
se errar ele aprende
tão simples e tão complexo
tão universo, tão poeta
este animal das letras
das sensações
O animal não pensa duas vezes pra ser feliz
o poeta poeta também não
não tem freios
mas trejeitos
tem respeito
é por impulso,
até mesmo astuto
mas superou este limite
e sábio se entornou
copos d'água ou rijos
ser pelo pulso mas também ser pela razão
mesclar formiga e cigarra
pensar na esquina e em casa
ser passado e presente
oh futuro, d'um esperado ausente
noturno, desaforado
mas nunca inconsequente
mais animal,
mais sincero,
mais ardente,
mais esperto e perfeito,
menos sedas e roupas,
mais pele e verdades
ser humano,
se sê-lo é selar-se dentro de uma bolha,
o poeta poeta será o menos ''civilizado''
e mais próximo do real
livre em sua melancolia
mais desperto que um sorriso fácil
mais certo de seu destino amargo
de ver tanta beleza
e tentar protegê-la de loucos e suas humanidades
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