sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

"Muito inteligente" (sábio) versus "superdotado"



A minha psicóloga além de dar sinal negativo sobre eu "ser" autista,  também me caracterizou como "um rapaz muito inteligente ... mas que não é "superdotado". Ao questiona-la sobre o porquê de não me considerar como um superdotado, ela argumentou sobre o vazio destes rótulos e também sobre a necessidade de se "comprovar" a superdotaçao com base em testes cognitivos. 

Eu não concordei sobre não estar dentro do espectro autista, ainda que possa concordar com ela muito levemente sobre não estar "dentro o suficiente" para "merecer" um diagnóstico conclusivamente positivo. Sobre a superdotaçao eu não concordei, não por ter dito que eu não sou superdotado, mas por ter enfatizado a necessidade de se comprovar a mesma por meio de testes cognitivos. 

No entanto, eu achei a sua definição cognitiva em relação a mim muito interessante, porque afinal de contas, eu posso concordar com ela sobre ser "muito" inteligente e isso necessariamente não implicar em "superdotaçao". 

E eu vou explicar o porquê



A diferença operacional entre o sábio genotipico (ou sábio por excelência) e o superdotado 



Os sábios sempre aprendem com as suas experiências e com os seus erros.  O superdotado na maioria das vezes... não....

O processo de abordagem analítica do sábio é perfeccionista, principiando por si mesmo e se expressando em pensamentos e ações profundamente coesas, como o movimento da água depois do impacto de uma gota que caiu de um céu nublado. O ser é o epicentro supra lógico de suas ações ou de sua expressão e se a base dos seus pensamentos for fraca, então por lógica a probabilidade para que possa abordar o fenômeno da existência ou vida de maneira incompleta, estupida ou grosseira será muito grande, se assemelhando ao efeito cascata a partir de uma lógica hierárquica. 

A principal característica conceitualmente descritiva da superdotaçao é a presença de uma grande capacidade cognitiva que poderá ser mais específica ou generalizada. 

Portanto nada impede que exista um predomínio de não-sábios dentro esta demografia cognitivamente enfatizada. E de fato, há.

Um violinista talentoso que acredita que Cuba seja um país maravilhoso


Jovens matematicamente prodigiosos, moralmente retardados ou naturalmente displicentes em relação a moralidade objetiva

Um Nietzche, que pregou uma "filosofia" radicalmente darwinista e imoral, um Newton, fervorosamente religioso, um Einstein, que detestava o seu filho esquizofrênico, um Lombroso, obcecado pela moral hipócrita cristã, são muitos os exemplos de indivíduos excepcionais que apesar de suas grandes capacidades cognitivas, não demonstraram a mesma virtuosidade em relação a construção de seus sistemas pessoais de moralidade.

A partir de parâmetros supra morais via moralidade objetiva, a maioria dos grandes gênios e das populações de superdotados não serão de sábios completos.

A sabedoria se caracteriza primeiramente pela busca exponencialmente qualitativa pelo auto conhecimento. Um dos aspectos mais significativos da psicologia de um sábio completo é a sua progressiva capacidade de aprender com as experiências e erros mas também de prevê-los. A sabedoria é homogeneamente expressiva, moralmente desenvolvida e holisticamente realista, dando grande importância a tudo aquilo que mais importa, reduzindo ao máximo possível a habitual carga de ilusões que a grande maioria dos indivíduos humanos tendem a carregar e sempre melhorando a sua atuação na grande cena da vida. Justamente por ter como ênfase bio-existencial a moralidade, a sabedoria completa expressará um grande desenvolvimento neste aspecto elementarmente fundamental da realidade. 

Em compensação a ênfase semântica da superdotaçao será justamente em relação a excepcionalidade cognitiva ou intelectual, tendo o potencial moral e portanto de sabedoria, enquanto uma possibilidade logicamente correlativa mas que não será causal, central, nem mesmo orgânica, para uma boa fração desta demografia particular. A sabedoria orbita a periferia da superdotaçao e a recíproca é verdadeira. Isto é, são periférica a relativamente associativas.

Esperar-se-á por uma linearidade correlativa em que quanto mais inteligente mediante critérios psicométricos ou de criatividade, mais sábio ou "muito moralmente inteligente" será. No entanto este cenário é provável de não se consistir numa realidade (redundantemente) factual. 

O sábio até poderia ser considerado como um tipo de superdotado, especializado em autoconhecimento (inteligencia intrapessoal), capacidade de raciocínio analítico e holístico, geralmente  direcionado para a moralidade ( objetiva ). Mas o seu impacto nas sociedades humanas tem sido mínimo, solapado por uma cadeia contínua de criatividade irresponsável e completa falta de empatia. 

Quem entende muito bem a realidade em que vive, a si mesmo, em termos cognitivos puros, já poderia ser definido como "muito inteligente". Muitas pessoas astutas poderiam ser alocadas dentro desta categoria cognitiva. Se o básico para demonstrar grande intelecto estiver bem desenvolvido, constante e preciso...

Superdotados, talentosos e gênios de quase todas as categorias geralmente se caracterizarão por grande assimetria entre as suas forças e fraquezas mas principalmente por deterem um epicentro cognitivo de grande envergadura e/ou potencial. A transcendência do gênio é o de transcender o seu gênio, o talentoso, o seu talento, o superdotado, a sua inteligência... Quase sempre que estarão direcionados para o trabalho, recreativo ou objetivo.

A sabedoria é muito mais existencialmente profunda do que qualquer categoria de excepcionalidade cognitiva. Não é aquilo que o indivíduo pode oferecer em termos de trabalho individual, mas aquilo que ele pode ser. É o ser que mais importa para a sabedoria.

 A inteligência humana  sempre tem sido mensurada enquanto qualidade potencial para o trabalho ou cooperação e portanto como eu tenho falado aqui, seria de bom tom denominar como trabalhadores mais eficientes e não como seres humanos mais inteligentes aqueles que pontuam mais alto em testes cognitivos.

Novamente, a partir da dicotomia "ser inteligente" (em pensamentos, ideias, transferidos em ações) e "ter inteligência" 

(transferido para o trabalho humano), o sábio será o mais inteligente, por enfatizar por si mesmo e pela realidade, a objetividade e precisão harmonicas na relação ser e ambiente, enquanto que, com base em critérios psicométricos e de realizações direcionadas para o trabalho, onde que a enfase estará direcionada justamente para a qualidade daquilo que se pode oferecer ou fazer, e não no ser, por si mesmo, genios criativos e superdotados estarão entre os mais inteligentes, ou seria melhor, eficientes.

O sábio é o inteligente absoluto por primazia, mas isso não se traduzirá numa grandiosidade quantitativa, possivelmente mensurada por testes cognitivos ou por análises neuro-fisiológicas, ou mesmo por grandes realizações pessoais (que seria muito mais provável de se dar nas áreas de administração), mas pelo melhoramento constante do seu cotidiano, em tudo aquilo que o estúpido despreza como uma pequeneza sem importancia.

2 comentários:

  1. Eu me encaixo nesse aspecto, sinceramente aprendo muito com uma simples situação, é como se viesse várias possibilidades daquela mesma situação e muitas soluções para lidar com ela.

    Outro fator importante é a minha capacidade de me adaptar e readaptar as situações e pessoas, por causa das minhas experiências, é como se absorvesse mais de 100% daquela experiência, nunca pensei em desenvolver esse tipo de genialidade.

    Em situações de baixa autoestima, me forcei a cometer algumas vezes o mesmo erro, e foi uma sensação que nunca mais quero sentir. Como se estivesse me torturando, sufocando-me e matando a mim mesmo.

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    1. Então, você seria o tipo superdotado clássico, né?

      Eu tenho um primo que é exatamente assim.
      Há até uma suspeita de que ele seja autista.

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