domingo, 21 de fevereiro de 2016

Doces tiranos: classe "educada"




Nos EUA, na Europa ou no Brasil, todas as suas respectivas classes "mais educadas" tendem a compartilhar grandes similaridades ideológicas, ao menos em nossa época. Especialmente no departamento das "humanidades", "ser" de esquerda não é apenas uma questão de escolha mas também de sobrevivência. No entanto, tal tendência de homogeneidade ou conformidade ideológica também costuma atravessar os muros do reino encantado das "humanidades" e ter eco em outros departamentos da educação "superior".

Nesse momento a maior parte da comunidade acadêmica americana é muito provável de estar contra a candidatura e possível sucesso do fanfarrão sincero Donald Trump, para o partido republicano, nas eleições deste ano. Existem muitas razões racionais para desgostar de sua pessoa, mas a sua (relativa) sinceridade em relação a geopolítica interna dos EUA, o coloca como o melhor candidato de todos, tanto da direita quanto da esquerda. Os candidatos "socialistas" são sempre demagogos, propondo as mesmas  ideias vagamente abstratas de "igualdade social" e ''diversidade''. Algo parecido acontece com a oposição controlada da "direita" americana, com os seus discursos de sempre, que tem mudado muito pouco de umas décadas pra cá. O caso de Trump é vergonhosamente sensacional não apenas por causa dele, por sua figura espalhafatosa e cretina, mas também por causa do seu choque de frescor no enorme marasmo político, com o jogo de cartas marcadas de sempre, por ser o único a apontar extremas obviedades de grande relevância para a nação estadunidense que apenas os meios acadêmico e midiático poderiam negar.

Eu já questionei a veracidade da correlação positivamente absoluta entre ''uma maior inteligência" e frequentar universidades. Sabemos que o fenômeno da relativa universalização da educação superior é muito recente, ao menos no Ocidente.

Em termos coletivos, psicométricos e até gerais (que leva em conta vários outros aspectos), frequentar uma faculdade e especialmente, com credenciais de status acadêmico como por exemplo o de portar um doutorado, pode sim sugerir  uma correlação relativamente positiva com uma maior inteligência, especialmente a do tipo neurotipico, quantitativo, verbal e ou matemático.

O problema é que a universidade é uma continuação da escola, e ambas nada mais são do que ambientes laborais, só que ao invés de enxadas, carros e bíceps, nós vamos ter salas de aula, livros e cérebros.

O qi mensura especialmente a cognição e aplicada ao trabalho, isto é, o  potencial relativo de qualidade laboral que as pessoas tendem a portar.

O foco do qi não é no/o ser mas naquilo que ele pode oferecer  (relativamente ) especialmente dentro de um contexto laboral moderno.

O sistema meritocrático não busca selecionar o máximo possível de gênios criativos de todos os ramos laborais porque a sua função principal é a de primar pela quantidade qualitativa, isto é, o máximo possível de pessoas que sejam inteligentes ou especificamente capazes o suficiente para realizar certa função e especialmente isso


A "meritocracia" habitual das nações modernas não deseja aqueles que além de oferecerem um bom trabalho também podem criticar os seus "superiores". A evolução da sociedade acontece(ria) em todos os seus aspectos quando temos gênios criativos e especialmente se forem dotados de sabedoria, criticando a realidade como está e na labuta de sanar esses problemas percebidos.

A maioria dos professores e pesquisadores acadêmicos não estão profundamente preocupados em melhorar a sociedade, até porque esta disposição que já é rara na espécie humana será ainda mais rara entre os neurotípicos, mesmo muitos dos mais inteligentes.

A inteligência humana fundamenta-se pela interação da personalidade ( bio variáveis logicamente retroalimentáveis) com a cognição. Portanto, não basta ter uma grande capacidade COGNITIVA  para que possa produzir um ser dotado de caráter/integridade-moral, criatividade e ou sabedoria, elementos essenciais para a evolução social (e tecnológica) exponencialmente harmoniosa.

As pessoas que são essencialmente estúpidas (todos nós estamos um pouco assim, o que difere é a que grau de subconsciência que estamos submerso, isto é, na própria auto ignorância) mal compreendem o próprio funcionamento, isto é, as suas forças e as suas fraquezas


O que é quase paradoxal de se notar é que todos nós usamos algumas ou todas as nossas forças (e muitos confundem fraquezas com forças) enquanto que para muitas pessoas as suas forças serão fraquezas aos olhos mais sábios, em outras palavras, "a natureza providenciou" para muitos humanos ao invés de um presente evolutivo, uma armadilha natural em que, ou confundirão as suas fraquezas com as suas forças ou serão comparativamente fracos mesmo em relação as suas próprias forças.

Esta realidade encontra-se predominante nas universidades onde que não apenas nos depararemos com essas situações intrapessoalmente penosas mas também que estarão acopladas a mentes cognitiva e comparativamente mais inteligentes, que se consistem no pesadelo da sabedoria, isto é, a evolução cognitiva da ignorância, produzindo "skeeters" ao invés de "Doug Funnies", como eu mostrei neste texto do velho santoculto.

Como eu também mostrei no velho blogue, sistemas meritocraticos imperfeitos caminharão para produzir e/ou selecionar por professores e pesquisadores:

- estúpidos e/ou
- arrogantes em relação ao status "intelectual" que ostentam e/ou
- moralmente idiotas e/ou
- relaxados em relação às suas posições sociais privilegiadas e com pouca vontade de trabalhar no intuito de melhorar a sociedade em que estão e/ou
- inteligentes mas desprovidos de capacidade criativa e/ou sábia


E são justamente esses tipos que parecem  predominar nos ambientes de "educação superior".



No conforto da ''universidade de Laputa''


O país em que vivem está a míngua, 
o caos se instalou pra fora dos portões universitários
 e o viveiro que era pra ser de solucionadores de problemas, 
se ''transformou'' em um antro de bajuladores, pseudos de toda as naturezas, desde os intelectuais até os cientistas. O pesadelo de cenário social  imaginado por Jonathan Swift em sua ''ilha de Laputa'', ''se tornou'' a mais pura realidade nos dias em que vivemos (mas talvez, desde sempre).

Os doces tiranos das ''classes educadas'' são selecionados pelo sistema que os deseja mais do que ninguém, por reunirem dois atributos que lhes são inegavelmente queridos 

- capacidades cognitivas acima da média

- potencial para conformidade ( potencial para perspectivas existenciais mundanas)


São os melhores trabalhadores (alto qi), porque podem oferecer de bom a excelente trabalho para o sistema e ainda por cima se conformarem em relação a realidade em que vivem, sem criticar ou se rebelar.

As classes ''educadas'' estão confortáveis demais em suas posições de status quo intelectual para que possam se rebelar contra o ''sistema'' que paga os seus salários altos e muitos benefícios sociais. 

E como eu sugeri acima, existem muitas razões intrínsecas para que a grande maioria deles se conformem de acordo com a sincronia de atropelos e ignorancia grosseiros da atualidade, que continuam a chafurdar as sociedades humanas na lama de sempre.

Mais do que qi, cognição ou mesmo o meu próprio conceito de inteligencia, eu acredito que a maneira como que sentimos o mundo, é que separa os escravos da conveniencia daqueles que não conseguem suportar com a mesma apatia a realidade asquerosamente ignóbil a que estamos forçados a presenciar.

Além de se calarem em relação aos desmandos e chagas que bestas subhumanas causam com enorme frequencia e impacto, eles ainda cooperarão com esta cadeia sistemática de injustiças, justamente por serem perfeitos para ocupar essas posições, dentro deste contexto macro-existencial onde que o retardado psicopata precisará de súditos corruptíveis e ou apáticos para compactuar, mesmo que a nível subconsciente, com a sua loucura de sempre.

E assim caminha a humanidade, com a sua ''inteligencia'' e ''criatividade'' desenfreada e irresponsável ... 

... e com a sua ''meritocracia''...

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