sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A correlação causal lógica entre transtornos mentais e genialidade. Da não-série: ''por que o gênio é tão raro**''




Desprezando o fator 'fama', como diferencial potencialmente subjetivo para o reconhecimento e valorização de indivíduos geniais, acredita-se que a genialidade seja um fenômeno raro dentro da cognição humana. A raridade se daria principalmente por causa da combinação entre grande inteligência (neste caso, capacidade cognitiva) e criatividade (cognição divergente). Também tem se discutido sobre as diferenças potencialmente conflitivas ou auto-excludentes entre criatividade e inteligência e eu tentei contribuir para com esta discussão por meio da elaboração deste texto, em que estabeleci que criatividade e inteligência se consistem em dois estilos cognitivos relativamente opostos e que qualquer grande predominância de uma, reverberá causalmente na diminuição do impacto da outra. Inteligência e criatividade se complementam mas não seriam ''miscigenáveis'', ''misturáveis''. Podem/tendem a cooperar mas não podem se misturar tal como acontece quando colocamos água e óleo em um recipiente.

Uma grande capacidade COGNITIVA, isto é, de cognição, parece se relacionar predominantemente com melhor saúde mental e física. Grande carga mutacional tende a deprimir estas características evolutivamente positivas. 

No entanto, o contrário relativo parece ser a realidade para a criatividade que ao invés de se consistir no bio-produto de uma evolução coerente e convergente, mais parece ser como um bio-produto da epigenética (direta e indiretamente) hereditária, em outras palavras, o bio-produto de uma adaptação emergente e potencialmente desvantajosa, em muitas perspectivas e especialmente a nível individual. Uma sociedade composta apenas de indivíduos criativos é provável que não se sustentaria a longo prazo.

Na minha opinião, os mais criativos, ao contrário dos mais cognitivamente inteligentes, tenderão a apresentar maior carga mutacional, que além de se relacionar com seus perfis incomuns de personalidade e características cognitivas, também poderá reverberar em suas características fisiológicas e psicológicas. Em outras e mais precisas palavras, a criatividade parece se consistir em um bio-produto heterogêneo oriundo da mesma epigenética que produz os transtornos mentais dos mais diversos níveis.

Portanto, ao invés de termos uma configuração cognitiva altamente eficiente, predominantemente limpa de mutações mais exuberantes, nós vamos ter justamente a ação destas mutações com uma configuração cognitiva menos resistente às suas investidas ou que lhe é complementar

Mas isso ainda não explica o porquê desta muito possível raridade do gênio.

A grande maioria daqueles que sofrem de transtornos mentais, apresentarão muito mais desvantagens do que vantagens em todas as dimensões de suas vidas.

O transtorno mental tradicional será um mal funcionamento do cérebro. A criatividade média por sua vez será ou funcionará a partir de uma menor integridade deste funcionamento. Pode-se dizer que se consista na manifestação branda (e potencialmente frutífera) de um transtorno mental.

Em compensação a genialidade parece necessitar de condições mais singulares para que possa ser expressada. O criativo médio não parece ser o mais inteligente enquanto que a criatividade está intimamente relacionada com o ''pensamento mágico'' do que com o ''pensamento lógico-dedutivo''. No entanto, a criatividade que apresenta utilidade direta, tende a se dar como pensamento lógico muito avançado ou novo, retido de associações de ideias remotas. Em outras palavras, aquilo que determinamos como ''lógico-dedutivo'', já é conhecido (convergente), novamente, remetendo à minha ideia do ciclo vital do conhecimento humano, que nascerá como genialidade e que falecerá quando se tornar predominantemente ultrapassada.

Ecos do savantismo


Dentro do espectro das singularidades cognitivas (predominantemente) positivas dos seres humanos nós vamos ter os savant, desde aqueles que são portadores da síndrome de savant (ou personalidade savant), autistas de alto funcionamento, autistas de baixo funcionamento com talentos incomuns e aspergers (espectro do autismo = savantismo moderado), enfim, todos os tipos de condições sindrômicas que tendem a vir combinadas com graus de deficiência mental e de talento natural ou semi-genialidade, os tipos que poderíamos determinar como ''tipicamente criativos'', incluindo aí muitos que estarão dentro dos espectros dos transtornos de humor, bipolar, esquizofrenia e tdah, até os cognitivamente singulares mais raros, que apresentarão perfis de personalidade e cognição (minha definição técnica para ''inteligência'', interação entre as duas) únicos ou extremamente raros e que serão férteis para a criatividade de alta magnitude (pensamento divergente ao invés do pensamento lateral, que eu já expliquei).

O típico cérebro savant tende a ser muito limitado e é justamente aí onde haverá o florescimento do gênio via ''hiper-concentração de funcionalidade''. Nossos cérebros não tem buraco. Nos ajuda a entender o porquê da relação tão comum entre dificuldades de interação interpessoal e alta inteligência. As áreas do cérebro que estão relacionadas com habilidades sociais, podem ter se desenvolvido pouco em comparação às outras áreas, incluindo aí as que se relacionam com raciocínio. Como resultado, nós vamos/podemos ter ''a migração'' das funções cerebrais para essas áreas, resultando em muitos dos tipos de savant.

Tal como Paul Cooijmans (que eu já falei aqui, de maneira não muito simpática) nos mostrou, a genialidade necessita das seguintes características: autoconsciência, horizonte associativo (ou simplesmente ''disposição para o pensamento divergente'') e inteligência. 

Ainda segundo ele:
- a autoconsciência excessiva provoca neuroses, 
- o pensamento divergente excessivo nos leva para as psicoses, 
- e a inteligência excessiva terá como resultado a ''normalidade''. 

Além de exibirem estas 3 características, os gênios também precisariam de uma complementaridade funcional entre elas que possa resultar na expressão total de suas capacidades. 

Portanto, dentro de uma panaceia de tipos singulares, o gênio aparecerá como o mais raro, ainda mediante a possível validade de sua SUPER raridade via ''fama'', porque a sua configuração cognitiva (e fisiológica) é muito rara, necessita da combinação de muitas variáveis incomuns.



A lógica dos extremos


As maiores depressões geralmente serão acompanhadas pelas mais altas montanhas

Metaforicamente falando, vamos imaginar que você resolveu ouvir uma música e que passou a aumentar e diminuir seguidamente o volume do som. 

A normalidade assim como também a funcionalidade bio-evolutiva tende a se expressar, metaforicamente, por meio da uniformidade sonora de uma música, sem aumentá-la ou diminuí-la repetidamente. Em compensação, a aleatoriedade limitada tende a se expressar com base neste maior embaralhamento de probabilidades. É como apostar alto. As chances de dar errado ou de não dar em nada, serão grandes. A normalidade ou medianidade bio-evolutiva é robusta porque é demograficamente prevalente e porque se consiste na expressão mais naturalmente segura da natureza/existência ou equilíbrio lógico-natural. Volume alto e baixo demais; a epigenética, que é quase sempre irregular terá como diferencial fundamental a diversificação fenotípica aberrante ou predominantemente histriônica via mutação, obviamente, e subsequente aumento de singularidades. No entanto, será apenas parcialmente aleatória e portanto ainda apresentará padrões, como o savantismo, o autismo e a tdah.A diversidade de cérebros não é tão significativa dentro da espécie humana e estamos sob regras evolutivas que impossibilitam uma real aleatoriedade de resultados (muito mais significativa do que a que temos). Ser ''normal'' ou normativo, é o ideal em termos evolutivos (uma vida sem grandes perturbações psico-fisiológicas, sucesso reprodutivo), justamente por causa da  falta de excessos potencialmente prejudiciais que se caracterizam (ainda que se possa falar dos sábios genuínos ou genotípicos também enquanto super normais, destituídos de grandes excessos, comparativamente falando). E o gênio por si só já se consiste em um excesso.

Portanto, dentro do reino dos fenótipos de natureza epigenética-mental, o gênio será o mais raro, justamente por vir de um ambiente onde as chances de dar ''mais errado'' serão muito grandes. E o gênio geralmente, pelo que parece (se Lombroso, filósofos gregos et tal, estiverem fundamentalmente corretos), será os dois, isto é, dar muito certo e muito errado e esta dualidade rara ainda resplandecerá enquanto uma complementaridade destes extremos.


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