segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Eu sou da raça brânquia ... e outras ânsias

Eu sou da raça brânquia ... e outras ânsias

Eu sou da raça brânquia
Que respira de baixo d'água
Que é escrava do oxigênio
Que nada de quatro patas
Ou melhor
Que anda no fundo do mar
Com os pés rabisca desenhos
E carrega a pressão.. dos próprios pensamentos, nas costas brânquias
Como uma águia aquática
Cada bolha minha, um lamento
Que bate as asas, vagarosas, cansadas, como quem bate um mundo pesado, inteiro.. em cima da própria carcaça
Que quando chora, a lágrima se confunde primeiro com o ar de baixo
Que lê livros de história
E finge que não vive em um engenho
Não sou um autor salvadorenho
Não sou um cantor porto-riquenho
Eu não sou da raça branca ou negra
Mestiça ou quéchua
Eu sou da raça brânquia
Que respira com a cabeça
Absorve à pele a luz da incerteza
Um rio subterrâneo
Eu sou da raça-alma, de força, verdade e pranto
E não apenas ou unicamente da raça .. de nariz, cabelo,
pele, pés, altura ou reticências... de enquanto,
Eu sou da raça-primeva, da essência,
As origens mais puras da inteligência
Da própria existência, da vida


A metáfora pretensamente poética de Toy Story

Você é descendente
Herdeiro
Um produto
Um brinquedo do menino deus
Uma peça da mãe existência
Você já é ..antes de ter decidido
O que seria
E que bom, em média
Poderia.. ser ainda pior
Se
Com essa mente, metade fogo divino
Metade ogro instinto e paradoxalmente demente
Pudéssemos ter toda a liberdade saliente
Ainda que tardia mentes irresponsáveis
Nos faríamos a imagem e semelhança dos nossos demônios mais deploráveis
Que aconchegam os nossos egos descontrolados e frágeis
Que se apegam mesmo à vírgula mais errada de nossos versos desalmados
Você é um boneco
Pensa que é especial
Que é muito diferente e novo
Pensa que pode voar
Mas a vida é um cair com estilo
Na essência todo mundo é igual, a gema do ovo
É um esvaziar progressivo do todo
Está no mesmo barco, faz coro no mesmo grito
Piedade!!!
Vai afundar no fogo ou queimar no fundo do mar
Será extinto
Depois de
Ter sido para si.. o mais distinto sonhar
Este é o princípio do auto-pensar

Mãos frias

Mas a alma é quente, pelando
Pedindo
Quer mais vida que eu possa oferecer
Aí vem a ansiedade
A imaginação
A criação
O demônio criativo
O seu negócio é entreter.. a tristeza
Do desespero, tira sorrisos
Brinca de equilíbrio no precipício
Ri da morte
Mas quem ri por último
ri primeiro
Vence-la no xadrez
Pelo menos uma vez
O coração, o centro da alma
O sangue sai venenoso
O seu fogo, um tanque
Uma guerra atômica ou calma
Sempre exposto
Sem trincheiras ou estratagemas catatônicas
Não tem como esconder dele
É sempre uma guerra relâmpago
Mais do que qualquer mentira
O amor em seu âmago, é a verdade mais biônica
Impossível não senti-la..


Em média

Em média é uma expressão mágica
Passaporte direto para a razão
Te puxa do instinto
Pega rápido o coração
Faz um raio a sua atenção
Bem dita
Te faz evoluir em apenas duas palavras
Apenas duas
Te separam da flora e da fauna
Te faz menos predador, menos parasita
mais eucariota
Mostra que talvez, você tenha jeito
Não para ser poeta ou poliglota,
Mas para ser o seu dono
dos seus próprios d'efeitos
de equilibrista

sábado, 15 de dezembro de 2018

Alma ou espírito e outro

Ele, masculino 
Ela, que mais me acalma
Duas palavras e um mito
O espírito seria.. o que não é a alma?
Espírito santo, canônico
Alma tal como poesia
Ele tal como poema
O ventre doce
O amor-guia 
Direto da fonte
Sem teorema 
A alma parece mais entregue
Tal como chama
Ele tal como auréola
Ela tal como fogo 
Ele tal como hóstia
A alma parece ter um rosto 
A fantasia mais sóbria
Escolho a mãe, mulher
Palavra tão linda, de pura fé
Espírito ou fantasma?!
Mais do que metáfora
A mitologia do além 
A alma existe em vida
Porque nós existimos
Codinome consciência
Emoção da clausura 
Exclusiva carência 
Corrente e ferida
A alma é o ser vivendo
Mais profundamente 
Na altura dos pensamentos mais plenos
A consciência é o viver do corpo 
Em contato com a realidade
A alma é o consciente em seu todo
Em contato consigo, com a sua única idade
No único tempo, o presente-mais-que-perfeito, imperdível
De inquebrável lealdade

Outsider 

Algumas gotas de álcool no sangue
No oceano da insanidade humana
No berço de um bem nascido 
Pulsante
Corrompeu o seu destino 
Lhe tirou a ignorância 
Prometida 
O fez mais incompleto
Cheio de tristeza e ânsia
Intenso e direto
Só sabe ser a essência da vida 
O desejo de ser todo o seu ser 
É o mestiço que transcende a partida
Encruzilhada de caminhos
Certezas de afetos, o ego ausente
Descobriu o elefante branco 
Sozinho
Um olhar azul e distante
No meio da metade
Antes que vissem
Se viu iniciante 
Não cabe em um mundo 
Nem no outro 
Não é brasileiro, nem de Togo
Cheio de filosofia
Vazio de mitologia
Conversa com os minutos e os seus sopros
Cada frase é uma interrogação 
Cada pensar de lamentação, é um muro no soco
Cada dia um susto 
Em seu deslumbre
Se assusta com a beleza 
Não cabe nos trâmites sociais
Seus olhares são como flechas
Vindas do cume
Pensa com outra cabeça
Os ventos da vida são vendavais
Mais mortal e realista impossível 
Terminal anarquista invisível  
O seu evoluir é na revolução 
Como o reflexo contrário do espelho 
Ele, que é aquele do outro lado 
Paralelo aluno da solidão 
Sente, ouve o mundo aprofundado
Ressoa mais que todo mundo 
Vezes sequer os entende
Vezes é o que vê primeiro
Pioneiro da revelação
O seu diálogo com o divino é constante
Não é apenas quando encena na missa
Ou quando vira em direção à Meca
Ou quando medita ao mantra budista
Está sempre impregnado em seu respirar
Sua ao calor da própria vela 
Não vive em sua solidão 
Ele é ela
Mesmo se fôssemos o seu clone
Se veria apenas como único homem
Outsider
Amigo das sombras
Irmão dos vultos
Gomorra ou Sodoma
É o touro morto de Pamplona
Está entre a sabedoria, a loucura e a melancolia
O mais indivíduo, em seu próprio tumulto
Talvez seja um pouco das três temidas
Temível e fraco moribundo