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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Criatividade: entre o estúpido e o talentoso...

Costuma-se pensar que  existe uma espécie de hierarquia crescente entre talento e gênio em que o segundo com certeza perpassará o primeiro. Mas gráficos e comparações qualitativas são abstrações e podem apresentar muitas perspectivas e portanto hierarquias potencialmente corretas e diversamente discrepantes entre si. Eu pensei em uma nova maneira de ver o criativo, especialmente o gênio criativo e não será, é claro, como um ser superior ao talentoso mas paradoxalmente inferior. O talentoso emula com perfeccionismo ou busca fazê-lo em relação às criações ou produtos de gênio. Mas o gênio mesmo tende a se destacar mais por seus saltos perceptivamente divergentes do que por seu próprio talento e isso significa que muitos, é provável, que não serão nem mesmo talentosos. Esta possível realidade destroça a ideia de hierarquia somatizante em que o gênio se consistiria em um talentoso hiper-desenvolvido, isto é, uma evolução/desenvolvimento crescente, convergente de um em relação ao outro, do talentoso para o gênio. 

A partir desta perspectiva comparativa, talento se relacionaria mais com a cognição, do que com a genialidade, isto é, a criatividade, porque enquanto que o primeiro emula ou ''apreende'' as técnicas para emulação ou cópia do segundo, este apenas ou fundamentalmente cria. O epicentro conceitual da genialidade é a criatividade enquanto que o epicentro conceitual ou semântico do talento é a cópia da criatividade e percebam como que neste sentido o talento ou perfeccionismo na replicação dos produtos de gênio, geralmente de natureza artística, tende a ser bastante similar à cognição/''inteligência'' que é aplicada para o ''aprendizado'' e posterior replicação de técnicas de natureza mecanicista, fazendo o artista talentoso, mais parecido com um engenheiro talentoso, do que com um artista genial, parecido com aquela ideia absurdamente popular e que tem sido usada para fins nefastos das diferenças genéticas entre as raças ou populações humanas, em que ''um nigeriano pode ser mais 'geneticamente parecido' com um norueguês do que com outro nigeriano''.

O talento e nos seus mais altos níveis se assemelha à genialidade por razões óbvias, por tentar copiá-la. No entanto para que a criatividade possa de fato florescer parece ser necessário a existência de uma complexidade ou variedade qualitativa de capacidades individuais, isto é, que um indivíduo possa apresentar tanto excelências quanto dificuldades ou debilidades psico-cognitivas. O criativo como um ser indubitavelmente de alto risco precisa se arriscar muito mais, apesar disto não significar ''sair de sua zona de conforto'', que eu devo explicar em outro texto, mais a frente, enquanto que o talentoso tende a buscar o exato oposto, isto é, pela perfeição. A criação do gênio tende a emular o próprio processo da seleção natural em que é necessário muitos rodeios, erros e acertos para que possam emergir ideias de maior quilate. Portanto o talentoso se esforça para emular o gênio de suas paixões ou produtos preferidos, se esforça para se purificar de erros, enquanto que o criativo precisaria de grande tolerância com a falha, com o erro, pois no ato da criação, falhas parecem ser impossíveis de serem evitadas e mesmo, muitas delas podem dar cria para acertos. 

Portanto a criatividade ao nível de gênio ao invés de se consistir numa evolução logicamente somatizante dos atributos positivos dos talentosos ou emuladores perfeccionistas dos produtos de gênio, mais parecerá, a partir desta perspectiva, em uma composição psico-cognitiva paradoxalmente inferior, por encontrar-se mais próxima do estúpido do que o verdadeiro talentoso, que se localizará mais afastado.

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